O que vou escrever nas linhas a seguir, é baseado na minha experiência escolar e reflecte a minha visão sobre o que considero ser, a génese da corrupção no ensino, não só no (meu) contexto particular, mas que com certeza espelhará realidades similares doutros cantos desta nação Moçambicana!
Ao contrário do que possa parecer, a corrupção no ensino não foi iniciada pelos professores. Esse fenómeno foi inteiramente inventado, promovido e posteriormente sustentado pelos pais e encarregados de educação (normalmente dos mais abastados, tipo directores de empresas, homens de negócios, chefe daqui/dali, etc).
Nos meados da década de 80 e no periodo imediatamente antes da “reabilitação económica”, estava eu ainda na escola primária, e comecei a observar um novo fenómeno. Alguns pais comecaram a criar um tipo de relação “particular” com os professores. Tudo começava por uma “merenda especial” para o professor trazida pelos seus filhos e cedo começou a observar-se uma separação distinta: os que traziam lanche para o professor e os que, devido as suas parcas condições, não se poderiam dar a esse luxo. Depois era conversa aqui, conversa ali, professor convidado para casa deste e para casa daquele! Algum tempo depois, o professor se encontrava na condição de “completamente alienado” pelos encarregados de educação “que podiam”. É nesse ambiente de “promiscuidade” que começou a surgir a prática de “Explicações” (aulas privadas remuneradas). Estas eram geralmente ministradas na casa do aluno “mais rico” (que poderia albergar confortavelmente mais gente) e tinhamos relatos que o professor não só era bem pago, como de vez em quando, voltava a casa com uma “cesta básica” bem recheda (os tempos eram dificeis e açucar, pão, etc eram alimentos de luxo).
Eu provenho duma familia com longa história de professorado e, conforme minha mãe me disse, no tempo colonial, aulas particulares (remuneradas) eram permitidas mas nunca a seus próprios alunos (por razões mais do que óbvias).
Quando esta prática começou a entrar em “proliferação”, uma das grandes falhas do nosso Ministério de Educação foi a de não regulamentá-la. Acredito que o “câncro” do nosso sistema de educação iniciou mesmo ai e vou explicar porquê:
Quando o professor começa a dar “Explicações”, a sua presença na sala de aulas, para a maioria deles, passa a ser a de criar um ambiente propício para que mais gente adira às aulas particulares. Faz isso despachando as aulas e, em contrapartida, ensinando tudo até ao menor detalhe nas “aulas de explicação”. Quase sempre, esses professores não se coibem de (pretender) mostrar que os seus alunos “queridos” estejam melhor preparados que o resto dos “pobres coitados”. Fá-lo através de perguntas previamente elaboradas e estudadas no seu “ambiente privado”. Outra corruptela importante é inclusive, a preparação dos seus alunos particulares antes das avaliações, com amostras muitas das vezes “totais e completas” dos testes oficiais.
Portanto, as “aulas de explicação” e volto a repetir, inventadas, promovidas e suportadas plenamente pelos encarregados de educação nada escrupulosos (ou se calhar, “bem escrupulosos”) surgem como um meio de assegurar a passagem dos seus educandos e nunca, como um meio de garantir uma aprendizagem consistente. Prova disso é o facto de “nunca” nenhum deles (aqui falo da maioria) se interessar em arranjar para os seus filhos, um “explicador” que não fosse o próprio professor da disciplina.
Recordando parte dos meus ex-colegas, a sua preocupação no primeiro dia do ano lectivo era de saber quem eram os professores que davam “explicações”, mesmo antes de ter tido uma aula sequer. E se a disciplina não fosse “famosa” havia que “convencer” o professor a dar “aulas de explicação”! Foi assim desde a primária até ao ensino pré-universitario.
Os estudantes “sem posses” e cujos encarregados não tem possibilidade de pagar pelas “explicações” ao longo do ano e, consequentemente, sentem a “hostilidade da sala de aulas” reflectida nas suas “baixas” notas, acabam recorrendo aos “pagamentos” ilicitos do fim do ano lectivo (relativamente muito mais baixos que o valor global dispendido nas explicações) para garantir a sua passagem de classe. Se se fizesse um inquérito nacional, tenho a certeza que muito poucos encarregados (principalmente nos centros urbanos) estariam em condições morais de afirmar que nunca se envolveram nessa prática ou nunca disponibilizaram dinheiro aos seus educandos para “resolverem” esse tipo de “problemas”. É preciso notar que, não poucas vezes, os estudantes visados nem sempre sejam “maus alunos”, mas “vitimas” desses professores desonestos que criam um cenário “impossivel” de passagem de classe ou porque querem dinheiro ou porque querem alguns “favores sexuais” daquela garota gira que “não me pode escapar”! São nossas filhas, nossas irmãs, esperanças desta nação que deveria crescer com valores morais e respeito próprio e mútuos que, acabam “vitimas” desta escumalha de abutres que, em circunstância ou lugar algum se deveria envolver neste tipo de práticas.
Mas é exactamente isto que me revolta: “A incapacidade do moçambicano exercer o seu direito à indignação, denunciar e repudiar de forma veemente este tipo de práticas”. Apesar de ser comum a existência de “comissões de pais” nas nossas escolas, nunca nenhum professor é chamado a “justiça”. Todo o mundo teme “represálias” e possiveis “reprovações” sistemáticas dos seus educandos. Mas esquecemos o efeito que a união de duas ou mais vitimas pode causar a esses prevericadores, fazer as suas vozes serem ouvidas mais longe e acabar com essa vergonha em cada escola deste território! Cada pai e encarregado de educação deve instruir o seu educando (filho ou filha) a comunicá-lo, sempre que algum professor pretenda pôr em prática uma destas ilegalidades e a atitude não deve ser de “condescendência” mas de “denúncia” e sem contemplações.
E voltando aos “meninos da explicação” e porque a justiça pode tardar, mas sempre chega, muitos deles conotados como “bons estudantes” ao longo dos anos, nunca conseguiram passar ao exame de admissão a universidade ou apenas o conseguiram após repeti-lo sistematicamente noutros tantos (longos) anos!
Ao contrário do que possa parecer, a corrupção no ensino não foi iniciada pelos professores. Esse fenómeno foi inteiramente inventado, promovido e posteriormente sustentado pelos pais e encarregados de educação (normalmente dos mais abastados, tipo directores de empresas, homens de negócios, chefe daqui/dali, etc).
Nos meados da década de 80 e no periodo imediatamente antes da “reabilitação económica”, estava eu ainda na escola primária, e comecei a observar um novo fenómeno. Alguns pais comecaram a criar um tipo de relação “particular” com os professores. Tudo começava por uma “merenda especial” para o professor trazida pelos seus filhos e cedo começou a observar-se uma separação distinta: os que traziam lanche para o professor e os que, devido as suas parcas condições, não se poderiam dar a esse luxo. Depois era conversa aqui, conversa ali, professor convidado para casa deste e para casa daquele! Algum tempo depois, o professor se encontrava na condição de “completamente alienado” pelos encarregados de educação “que podiam”. É nesse ambiente de “promiscuidade” que começou a surgir a prática de “Explicações” (aulas privadas remuneradas). Estas eram geralmente ministradas na casa do aluno “mais rico” (que poderia albergar confortavelmente mais gente) e tinhamos relatos que o professor não só era bem pago, como de vez em quando, voltava a casa com uma “cesta básica” bem recheda (os tempos eram dificeis e açucar, pão, etc eram alimentos de luxo).
Eu provenho duma familia com longa história de professorado e, conforme minha mãe me disse, no tempo colonial, aulas particulares (remuneradas) eram permitidas mas nunca a seus próprios alunos (por razões mais do que óbvias).
Quando esta prática começou a entrar em “proliferação”, uma das grandes falhas do nosso Ministério de Educação foi a de não regulamentá-la. Acredito que o “câncro” do nosso sistema de educação iniciou mesmo ai e vou explicar porquê:
Quando o professor começa a dar “Explicações”, a sua presença na sala de aulas, para a maioria deles, passa a ser a de criar um ambiente propício para que mais gente adira às aulas particulares. Faz isso despachando as aulas e, em contrapartida, ensinando tudo até ao menor detalhe nas “aulas de explicação”. Quase sempre, esses professores não se coibem de (pretender) mostrar que os seus alunos “queridos” estejam melhor preparados que o resto dos “pobres coitados”. Fá-lo através de perguntas previamente elaboradas e estudadas no seu “ambiente privado”. Outra corruptela importante é inclusive, a preparação dos seus alunos particulares antes das avaliações, com amostras muitas das vezes “totais e completas” dos testes oficiais.
Portanto, as “aulas de explicação” e volto a repetir, inventadas, promovidas e suportadas plenamente pelos encarregados de educação nada escrupulosos (ou se calhar, “bem escrupulosos”) surgem como um meio de assegurar a passagem dos seus educandos e nunca, como um meio de garantir uma aprendizagem consistente. Prova disso é o facto de “nunca” nenhum deles (aqui falo da maioria) se interessar em arranjar para os seus filhos, um “explicador” que não fosse o próprio professor da disciplina.
Recordando parte dos meus ex-colegas, a sua preocupação no primeiro dia do ano lectivo era de saber quem eram os professores que davam “explicações”, mesmo antes de ter tido uma aula sequer. E se a disciplina não fosse “famosa” havia que “convencer” o professor a dar “aulas de explicação”! Foi assim desde a primária até ao ensino pré-universitario.
Os estudantes “sem posses” e cujos encarregados não tem possibilidade de pagar pelas “explicações” ao longo do ano e, consequentemente, sentem a “hostilidade da sala de aulas” reflectida nas suas “baixas” notas, acabam recorrendo aos “pagamentos” ilicitos do fim do ano lectivo (relativamente muito mais baixos que o valor global dispendido nas explicações) para garantir a sua passagem de classe. Se se fizesse um inquérito nacional, tenho a certeza que muito poucos encarregados (principalmente nos centros urbanos) estariam em condições morais de afirmar que nunca se envolveram nessa prática ou nunca disponibilizaram dinheiro aos seus educandos para “resolverem” esse tipo de “problemas”. É preciso notar que, não poucas vezes, os estudantes visados nem sempre sejam “maus alunos”, mas “vitimas” desses professores desonestos que criam um cenário “impossivel” de passagem de classe ou porque querem dinheiro ou porque querem alguns “favores sexuais” daquela garota gira que “não me pode escapar”! São nossas filhas, nossas irmãs, esperanças desta nação que deveria crescer com valores morais e respeito próprio e mútuos que, acabam “vitimas” desta escumalha de abutres que, em circunstância ou lugar algum se deveria envolver neste tipo de práticas.
Mas é exactamente isto que me revolta: “A incapacidade do moçambicano exercer o seu direito à indignação, denunciar e repudiar de forma veemente este tipo de práticas”. Apesar de ser comum a existência de “comissões de pais” nas nossas escolas, nunca nenhum professor é chamado a “justiça”. Todo o mundo teme “represálias” e possiveis “reprovações” sistemáticas dos seus educandos. Mas esquecemos o efeito que a união de duas ou mais vitimas pode causar a esses prevericadores, fazer as suas vozes serem ouvidas mais longe e acabar com essa vergonha em cada escola deste território! Cada pai e encarregado de educação deve instruir o seu educando (filho ou filha) a comunicá-lo, sempre que algum professor pretenda pôr em prática uma destas ilegalidades e a atitude não deve ser de “condescendência” mas de “denúncia” e sem contemplações.
E voltando aos “meninos da explicação” e porque a justiça pode tardar, mas sempre chega, muitos deles conotados como “bons estudantes” ao longo dos anos, nunca conseguiram passar ao exame de admissão a universidade ou apenas o conseguiram após repeti-lo sistematicamente noutros tantos (longos) anos!