19 maio 2008

"Quero construir....Arranja-me lá um Projecto" - O Projectista

Um daqueles “doutores” que está convencido que o seu título se escreve com “D” maiúsculo e que não abdica de tê-lo estampado seja nos cartões de ATM, caderneta de cheques ou mesmo na sua camisete do Porto (comprada na MBS), decidiu construir! Conhecida que é a extravagância desses “caras”, decidiu construir uma moradia com dimensões “oceânicas”, não viesse alguém confundir a sua casa com a de um “coitadinho” qualquer e porquê não, realçar de uma vez por todas que o “Só Doutor” não brinca em serviço!
Um amigo meu, Técnico de electricidade estava encarregue de executar a instalação eléctrica e num desses dias me pediu uma boleia até ao local da obra! Foi assim que conheci a “mansão” do “Só Doutor”!
Para quem tem alguma andança neste mundo de construção, um olhar a qualquer edificação permite caracterizar o seu projectista! Eu fiquei decepcionado com a escolha do “Só Doutor” e, para vos ser franco, ainda fora da edifico, enquadrei o projectista na porção dos mais reles que se podem encontrar na praça! A casa já estava na sua fase final, com a cobertura, rebocos, etc, todos concluidos! Qual foi o meu espanto ao entrar para a sala (que parecia um mini-campo de futebol de salão)? Estava ali, bem no seu centro, um pilar acabado de betonar (hehe)! Ao pedir explicações fui informado que “a viga já não estava a aguentar e começou a vergar assustadoramente!” No desespero, teve que se “parir” (não vejo outro termo) um pilar, no local mais indesejável e com condições de apoio muito duvidosas. E podem ter certeza que, há muitos destes “doutores” (com “d” minúsculo) espalhados pelo pais a fora!
A minha preocupação é que, se porventura um dia, o betão se cansar do facto do seu titulo ("melhor amigo do homem") continuar a ser sistematicamente alienado e atribuido ao cão, haverá uma tragédia geral irreparável (e aqui não falo apenas de Moçambique)!

A pergunta que se segue então é: Quem afinal são os “projectistas” em Moçambique?

(……continua no próximo post)

10 comentários:

Ximbitane disse...

Fogo, nem me chateio com os sonhos grandiosos do "Só Doutor"! Mas se a obra antes da inauguração, que por certo será das que se falarão por longo tempo, nem sequer se fez e tantos problemas já foram levantados o que se deve fazer? Demolir o mini-campo ou construir postes, à guisa de baliza, por todo o campo? Hehehehehe, pobre "Só Doutor"

Jonathan McCharty disse...

Sabes Ximbitane, e' preciso sempre encontrar um "lado positivo" das coisas! O "So' Doutor" por exemplo, pode tomar o pilar como uma paragem (de semi-colectivo), para descansar e recuperar o folego, na longa travessia (a sala e' enorme de verdade) para a casa de banho, nos dias em que estiver a regressar de suas bebedeiras!

Jorge Saiete disse...

Jonathan, essa de pilares mal localizados me preocupa mesmo. como es da área de construção, te sugiro a olhar as edificações públicas que são construidas nestes últimos anos. fui notar em Vilanculos por exemplo que, os ciclones destruiram todas escolas e hospitais recém construidos mas os erguidas pelo colono estão lá de pedra e cal. como se explica este fenómeno?

Jonathan McCharty disse...

Caro Saiete!
No caso do "pilar" da postagem acima, nao se trata propriamente de um pilar "mal localizado". E' antes, um "pilar de emergencia"!
Quanto a Vilanculos, te referes a um ponto importante! Infelizmente nao tive acesso a informacao tecnica referente aos efeitos do "favio" (tudo foi a partir dos media e raramente se descrevem as coisas como deve ser). No entanto, posso de afirmar que, apesar de muitas vezes a evidencia mostrar o contrario, a construcao civil evoluiu muito. Nao estou de forma alguma a legitimar que tudo o que e' feito agora, e' bem feito. A grande diferenca entre as construcoes actuais e as antigas, e' que decadas atras, os metodos de calculo nao eram muito bem dominados e isso obrigava os projectistas a considerarem "factores de seguranca" altos nos seus calculos estruturais. Podes verificar que as obras antigas sao mais robustas, muitas casas tinham paredes de meio metro de espessura, etc. Existia ainda o beneficio dos custos bastante reduzidos (em muitas nacoes, incluindo Mocambique, se usava o trabalho escravo). Hoje, tu dimensionas as obras para um determinado "nivel de seguranca". Por ex. podes nao considerar a accao do vento, podes considerar vento "normal" ou podes considerar "accoes acidentais" (ciclones, sismos,etc) no teu dimensionamento! Quanto mais graves forem as "accoes" que considerares, maior sera o preco da tua obra e, como sabemos, dinheiro e' o nosso "calcanhar de aquiles"! Paises com economias robustas, definem um nivel de seguranca minimo para obras publicas (escolas, hospitais, etc) ou edificacoes estrategicas, e estao dispostos a pagar pelo seu custo! Entao, deves imaginar que opcoes e' que sao tomadas no nosso caso e no de outros paises que ainda nao encontraram a "fruta"!

david santos disse...

Olha, grande amigo!
Eu não vou dizer nada. Mas sabes por quê? Porque eles por cá são iguais ou piores.
Aguenta, porque parece que é só dessa (...) que nos aparece.
Só querem política, dinheiro e barriga gorda. O pobre que se lixe!
Bem, mas algum dia o carro pode começar andar ao contrário.
Abraços e parabéns por este facto que nos acabas de descrever.

David Santos

Jonathan McCharty disse...

Caro David Santos!
Obrigado por aparecer por ca'!
E' verdade que muitos dos nossos "doutores" se esquecem (ou nunca ouviram falar) que "a humildade e' o espirito dos ganhadores"!

Apareçe mais vezes e partilhe "novas" dai, do nosso povo irmao!

Abraço

Bayano Valy disse...

esta aqui me faz recordar uma estória dos nouveaux riches de lagos. ao largo de lagos há uma ilhota em que vivem os afortunados da nigéria. devido ao efeito de construções que resultaram no desmatamento da ilha, a erosão tomou conta de forma apressada. a preocupação apossou-se dos nossos ricos que tinham sido avisados. não sei como é que a cena terminou. mas achas amigo jonathan que vou verter alguma lágrima se as casas construídas sobre as encostas que dão ao mar ruírem? isso não tem nada a ver com inveja. tem a ver com o meu sentimento sobre o grande crime que se anda a praticar contra o ambiente. alguém dizia que pobre e rico são iguais mesmo. nós os pobres em bairros de lata, sem observar aos mínimos cuidados e eles os ricos em cima das encostas com pilares no meio da sala (que paródia)!!!

Jonathan McCharty disse...

Caro Bayano!
Acho que, o que nos deve meter pena é a ignorância do ser humano! Muitas das vezes, quando se tem dinheiro, pensa-se que se está acima de tudo (lei, ambiente, pessoas, conhecimento, etc). Costuma ser nessa altura em que muita gente se "gradua" pela Faculdade da Ignorância!

Patricio Langa disse...

Mccharty.
Essa é outra dimensão interessante do problema que referi no post comentário anterior. Que tipo de políticas de urbanização e de construção de habitação regulam essas construções? O ‘novo’ ‘rico’- muitas vezes nem é mesmo rico – tende a integrar-se naquilo que considera ser seu novo grupo de referência. Para evitar ou contornar ostracismos a extragância (para nós) é vista por ele como propina de entrada. Não sei se uma melhor regulação não daria melhor estrutura e belesa arquitectónica a nossa cidade assim como mais segurança e durabilidade as próprias obras. O que achas? Quem constroí aonde em Mocambique? Quem constroí que tipo de casas? Quem pode e quem não pode construir?
Abraço.

Jonathan McCharty disse...

Caro Patricio!
O que regula a construcao em Mocambique e' o R.E.G.E.U (regulamento geral de edificacoes urbanas),outros regulamentos tecnicos e algumas posturas municipais! As regras e leis estao mais do que claras! Mas nao e' possivel fazer o "law enforcement" se o individuo responsavel por isso, nao entende "patavina" do assunto, como e' o caso dos tecnicos das direccoes de infraestruturas dos municipios! O meu primeiro post neste blog da um "insight" nesta materia!
Oh Patricio, ate parece q estas a ler a minha mente, ou a sequencia das minhas postagens "chamou" as tuas ultimas perguntas,hehe? Por acaso, esse e' o tema da minha proxima postagem! Estranho, ne?