30 maio 2008

A Blogosfera e os Nossos Dirigentes!

Há cerca de 2 anos li algures que o MCT-Ministério da Ciência e Tecnologia estava a ministrar cursos de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC’s) primeiro aos membros do Conselho de Ministros e depois aos Governadores Provinciais.
Pus-me então a pensar, até que ponto a blogosfera fará parte da “rotina” dos nossos veneráveis dirigentes? Um comentário recente feito pelo Jorge Saiete e Bayano Valy aqui
, impulsionou-me a fazer este “post” e analisarmos em conjunto este assunto.
O facto é que aqui na blogosfera, o “free speech” é o “modus vivendi” e se o fizermos de forma responsável, pautando sempre pelo respeito mútuo e honestidade nas nossas análises e comentários, como tem estado a acontecer, o país e a sua classe governante só tem a beneficiar desse movimento de pensantes a operar em “full speed”! Verdade seja dita, quando à mente humana é dado “free space to ride” o potencial desta “ferramenta” (blogosfera) torna-se mesmo enorme, o que nos pode conduzir para um horizonte cada vez mais progressivo! Porém, o inverso pode também ser válido e ocorrer! É por essa razão que nós próprios é que temos que estar atentos e ser os guardiões para que a ética e a moral sejam sempre salvaguardadas no exercício das nossas actividades.
Alguns governos repressivos como a China, cientes dessa realidade (debate de ideias) tem tentado inclusive criar mecanismos de controlo da actividade nesta esfera, por meio de um batalhão inteiro (cerca de 50.000) de “polícias da internet”. Estes factos mostram-nos claramente que, "Sim, a blogosfera pode muito bem ser considerada como carne tenra para os crocodilos"!
No nosso caso tem se verificado contribuições interessantes, pese embora, a percentagem dos que as fazem no anonimato seja, eu diria, ainda superior a 50%. Eu não me admiraria (e ficaria satisfeito) que parte dessas intervenções eloquentes que temos estado a observar, fossem dos nossos veneráveis dirigentes!
Esta questão do “anonimato” tem sido largamente discutida e, como tenho estado a advogar, temos que ser pragmáticos na sua análise! Ainda não há condições de o fazermos, atendendo o nosso passado recente, o ainda fraco exercício de cidadania, a extrema dependência dos nossos postos de trabalho num país onde o Estado é o maior empregador, e fundamentalmente, o facto de ter uma ideia diferente da do “sistema” poder potencialmente significar que “você não é dos nossos”!
Todos devem estar a acompanhar a publicação recente do escandaloso livro de Scott McClellan, antigo Secretário de Imprensa da Administração de George Bush com revelações bombásticas e que nesta semana de seu lançamento disparou para a primeira posição no mundialmente conhecido site “Amazon”. A minha percepção é que a blogosfera e o seu debate aberto de ideias é um instrumento que vai permitir encurtar significativamente a distância para que eventos do género comecem a acontecer cá entre nós (e ninguém deve ter medo disso), comparativamente ao período que em condições “naturais” iriam ocorrer.
Mas é isso gente! Os nossos “big-boss” precisam fazer desta, a sua praça obrigatória e seria salutar que isso já estivesse a acontecer, porque é aqui que estão a ser forjados os ideais da grande nação que pretendemos que seja este nosso Moçambique!


Whisper in the Closet: Imaginem que um dos comentaristas anónimos assíduos da blogosfera moçambicana seja o nosso Presidente!

28 maio 2008

“Seminários”: Quando um meio para “delapidar” o Erário Público é descoberto!

Um dos “Princípios” definidos pela Lei n.º 09/2002 de 12 Fevereiro que regula o Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE) é a “Anualidade”, nos termos da qual o Orçamento tem um período de validade e de execução anual. A implicação directa é que, os fundos previamente orçamentados (aprovados) e que não tenham sido executados no periodo correspondente devem ser devolvidos à conta geral do estado.
Com o desempenho extremamente fraco que se tem estado a observar, várias instituições públicas chegam ao fim do ano com somas avultadas nos seus “budgets”! Se esse dinheiro não é “gasto” a tempo, então deve ser devolvido e uma alternativa “perfeita” para evitar que isso aconteça, tem sido os prodigiosos “Seminários”! O facto dessa “praga” ter vindo a ocorrer de forma descontrolada, principalmente na época do fim do ano, explica o que tenho atrás referido!
Assistimos a eventos “pomposos” em que as somas dispendidas parecem não ter qualquer tipo de limitação, quando durante o periodo fiscal, vários programas são “sacrificados” porque “não temos cabimento orçamental”!
Instituições sediadas em Nacala, preferem realizar as suas orgias (leia-se Seminários) em instâncias turísticas de Bilene e as de Maputo, infalivelmente têm que as realizar algures na praia de Wimbe em Pemba!
As perguntas que eu faço são as seguintes:
- Existe algum mecanismo de controle desta prática?
- Alguém se preocupa em avaliar o processo de “procurement” desses eventos e que variáveis é que governam a escolha do local de realização, valores monetários envolvidos, benefícios em relação às outras opções, etc?
- As “comissões” que as “comissões organizadoras” amealham durante o processo?
- Alguém se preocupa em verificar os planos que não são executados por essas instituições “por falta de dinheiro”, quanto seria esse “dinheiro” e o que é gasto para a realização dessas orgias, aliás, Seminários?
- Alguém se interessa em comprovar a “sequência” e “consequência” desses eventos para a actividade dessas instituições?
- Se não passam de eventos esporádicos apenas para “gastar o dinheiro que sobrou”?
- Se esses eventos estavam programados no orçamento ou “cairam de pára-quedas” nos últimos meses do ano?

Acho que um estudo aturado da proliferação deste fenómeno pode constituir um excelente tema de investigação para os aspirantes a Sociólogos (Administração Pública) ou Economistas e pode nos dar um “insight” ao que realmente esteja a acontecer e, quem sabe, permitir a sua regulação e a criação de mecanismos para o seu controlo pelos Orgãos competentes!

O meu apelo aos Orgãos decisórios dessas Instituições é: “Porquê não nos concentrarmos em executar os programas que, no fundo é o que irá desenvolver a nossa nação, ao invés de procurarmos “artimanhas” de contenção de fundos para este posterior tipo de aplicação que, não tem qualquer consequência ou benefício real para a sua instituição e para o país em geral??

20 maio 2008

"Quero construir....Arranja-me lá um Projecto" - Quem afinal são os” Projectistas” em Moçambique?

Moçambique tem uma única (desculpe a tautologia) Faculdade de Arquitectura (Universidade Eduardo Mondlane-UEM) cujas admissões anuais (salvo desenvolvimentos recentes) se situam na ordem de 3 dezenas e graduações de pouco mais de 1 dezena. O mesmo aconteceu durante muito tempo com o Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da mesma universidade, com a única excepção de as graduações serem ainda em nivel mais reduzido (cerca de meia dúzia/ano). Recentemente foi introduzido o curso pós-laboral que permitiu pouco mais de duplicar o número de admissões/ano e alterações curriculares permitiram melhorar o “output”. Nos últimos 10 anos, com a avalanche de instituições privadas de ensino superior, o ISPU (agora Universidade Politécnica) e o ISUTC iniciaram cursos de Engenharia Civil, mais ou menos com a mesma porção de admitidos que a UEM, mas com o número de graduados um bocado maior!
Este cenário permite ter a imagem de quão reduzido é o número de técnicos com formação superior para suprir a demanda que tem estado a verificar-se no sector de construção em Moçambique.
Só para terem uma ideia, o preço médio cobrado por estes profissionais pela elaboração do projecto de uma moradia unifamiliar (de até 2 pisos) ronda os USD1500, tanto para o arquitectónico, como para o estrutural (o arquitectónico tem tendência a ser mais caro).
Porém, quem “controla” o mercado de elaboração de projectos de moradias em Moçambique é a classe dos famosos “Engenheiros técnicos”. Alerto aqui aos leitores que, este “titulo” não existe na República de Moçambique. Os individuos graduados pelos “Institutos Industriais” (Nampula, Beira e Maputo) são, pelo seu diploma, “Técnicos Médios de Construção Civil”! Portanto, se um dia o Tribunal de Haia começar a julgar crimes por atentado a boa prática de construção civil, estes individuos estarão na fila da frente.
Ultimamente tem se ouvido falar persistentemente na reforma do ensino “técnico-profissional”, mas nada de concreto ainda está a acontecer no terreno. Enquanto isso, vão se formando deficientemente carradas destes técnicos que vão povoando o mercado, sem qualquer conhecimento ou capacidade real de executar as coisas! Eles elaboram projectos arquitectónicos e estruturais, cujo preço médio total varia entre os 200 e 400USD. Um dos grandes problemas deste sector (técnico-profissional) prende-se com o corpo docente! As direcções desses Institutos têm “pavor” de admitir Engenheiros, preferindo em seu lugar, colocar até estudantes recém-graduados! Digo isso com conhecimento de causa, pese embora a versão “oficialmente” vendida seja a de que, nenhum desses técnicos qualificados esteja interessado em leccionar naquelas instituições!
Mas é preciso realçar que, apesar de algumas limitações, também existem “técnicos médios” competentes (muitos deles já de meia-idade).
Com o advento da computação no pais, tem estado a surgir uma classe de “projectistas” que domina alguns programas de desenho como o Autocad, Archicad (quem sabe “Paintbrush” também) e que, sem qualquer formação técnica na área, se põe a elaborar projectos à torto e à direito. Eu me arriscaria a qualificar este grupo de, principais “terroristas arquitectónicos” de Moçambique. Me lembro agora de ter visto um projecto elaborado (vejam só) para uma instituição de Obras Públicas por um destes individuos e ele assinou-o como sendo um “Técnico Médio de Arquitectura”, hehe. O tipo era de descendência portuguesa e “é possivel” que lá atribuam este tipo de titulo, mas cá nenhuma instituição o confere.
Porém, existe uma classe ainda mais “perversa”! É a classe dos funcionários do Arquivo (Departamento de Infraestruturas) das várias Autarquias Municipais! Estes individuos, a mando de outros nada escrupulosos, retiram ilegalmente projectos lá arquivados (na maior parte dos casos, já executados) e tiram fotocópias que são depois redesenhadas pelos “terroristas arquitectónicos”! Mais tarde, a essas peças furtadas são adicionados “termos de responsabilidade” de um “Técnico qualificado” para a obtenção da respectiva licença de construção. Eu percebo que ainda estejamos há anos-luz do respeito pela propriedade privada e intelectual, mas asseguro-vos que, no dia em que estes crimes começarem a ser julgados por cá, quem irá pagar por eles não serão os funcionários dos Arquivos Municipais! Serão antes, os “proprietários” dessas moradias e os Técnicos (des)qualificados que, a troco de uma cerveja, assinam os “termos de responsabilidade” sem pestanejar e sem se preocupar com a proveniência do projecto!
Quando eu olho para o mercado de elaboração de projectos habitacionais nesta “Pérola do Indico”, noto que as variantes que orientam as pessoas durante a escolha do “projectista” são essencialmente “preço do projecto” e “falta de faro” e “educação arquitectónica” (perceber a sua beleza, da mesma maneira que diferenciamos um “Tata” de um “Mercedes-Benz”! Isso não se aprende em Faculdade alguma. Trata-se apenas de "bom senso"!), como o caso do “Só Doutor”, conforme reportado aqui ! Mas o cenário actual é encorajador e muita gente (principalmente a que têm algum poder de compra) está a perceber que, tal como os carros, as casas também tem “classes” e que é preciso escolher alguém competente para a projectar! O facto é que, por causa de 1000 dólares que aparentemente são poupados hoje, as pessoas terão que conviver para o resto das suas vidas com um pilar no centro da sala, um quarto sem iluminação natural (a lâmpada terá que ficar acesa mesmo de dia), uma habitação com um comportamento térmico deficiente (“este quarto como aquece!!!”) ou para não variar, aquela fenda (racha) que apesar das várias reparações (“que fizemos”), insiste em voltar a aparecer ali na parede ou no tecto!
A “história” do “Só Doutor” (ao contrário de “estórias”, estas relatam factos reais) ilustra bem a importância da escolha do “Projectista” para elaborar o seu projecto, seja habitacional ou de estabelecimento comercial.

Tudo o que acabo de referir são meros conselhos e por sinal, gratuitos! A decisão final sobre as suas escolhas dependem inteiramente de si, para que “amanhã” não tenha que apontar o dedo a quem quer que seja, para consigo partilhar responsabilidades!

(……a série continua!)

19 maio 2008

"Quero construir....Arranja-me lá um Projecto" - O Projectista

Um daqueles “doutores” que está convencido que o seu título se escreve com “D” maiúsculo e que não abdica de tê-lo estampado seja nos cartões de ATM, caderneta de cheques ou mesmo na sua camisete do Porto (comprada na MBS), decidiu construir! Conhecida que é a extravagância desses “caras”, decidiu construir uma moradia com dimensões “oceânicas”, não viesse alguém confundir a sua casa com a de um “coitadinho” qualquer e porquê não, realçar de uma vez por todas que o “Só Doutor” não brinca em serviço!
Um amigo meu, Técnico de electricidade estava encarregue de executar a instalação eléctrica e num desses dias me pediu uma boleia até ao local da obra! Foi assim que conheci a “mansão” do “Só Doutor”!
Para quem tem alguma andança neste mundo de construção, um olhar a qualquer edificação permite caracterizar o seu projectista! Eu fiquei decepcionado com a escolha do “Só Doutor” e, para vos ser franco, ainda fora da edifico, enquadrei o projectista na porção dos mais reles que se podem encontrar na praça! A casa já estava na sua fase final, com a cobertura, rebocos, etc, todos concluidos! Qual foi o meu espanto ao entrar para a sala (que parecia um mini-campo de futebol de salão)? Estava ali, bem no seu centro, um pilar acabado de betonar (hehe)! Ao pedir explicações fui informado que “a viga já não estava a aguentar e começou a vergar assustadoramente!” No desespero, teve que se “parir” (não vejo outro termo) um pilar, no local mais indesejável e com condições de apoio muito duvidosas. E podem ter certeza que, há muitos destes “doutores” (com “d” minúsculo) espalhados pelo pais a fora!
A minha preocupação é que, se porventura um dia, o betão se cansar do facto do seu titulo ("melhor amigo do homem") continuar a ser sistematicamente alienado e atribuido ao cão, haverá uma tragédia geral irreparável (e aqui não falo apenas de Moçambique)!

A pergunta que se segue então é: Quem afinal são os “projectistas” em Moçambique?

(……continua no próximo post)

18 maio 2008

Porquê a Expressão “Combate à Pobreza Absoluta” deve ser banida da circulação!

“Combater a pobreza absoluta” é uma expressão que não incentiva, a quem quer que seja, a trabalhar! O facto é que, todas as acções minúsculas (microscópicas mesmo) possiveis e imagináveis se enquadram nos grandes feitos dessa “batalha”. Portanto, se eu oferecer uns berlindes aos meninos da rua, estou a combater a pobreza absoluta! Se no dia de alguma cerimónia religiosa fritar umas "badjias" e oferecer aos miúdos de um infantário qualquer, estou a combater a pobreza absoluta! Posso estender toda esta página a deliciar-vos com mais exemplos (ridiculos)!
Como que a corroborar o que acabei de dizer, procurem seguir os serviços noticiosos e os media em geral, para comprovarem a cobertura massiva que é dispensada a essas acções minúsculas! Quem é que se vai sentir motivado a trabalhar, se o simples “movimento do seu polegar” já o qualifica a “grande combatente da pobreza absoluta”?
Ao contrário do que muitos possam pensar (é verdade que dá mesmo essa impressão), a estratégia de combate à pobreza absoluta, não é uma estratégia de desenvolvimento. Na melhor das hipóteses ela condizirá à manutenção das coisas, tal e qual elas estão agora!
Essa acção que tem vindo a ser promovida por quase todas as agências de desenvolvimento (sugiro que passassem a chamar-se “agências de combate à pobreza absoluta”), e agora também, cartão de visitas do nosso “establishment” surgiu lá no mundo desenvolvido como solução para a mitigação dos efeitos nefastos do capitalismo selvagem que, como sabemos, está pouco se lixando pelas causas sociais!
Então, se nós que ainda não conseguimos produzir tomate ou limão para as nossas necessidades, temos como acção prioritária, o combate a pobreza absoluta, quando é que começaremos a falar de desenvolvimento ou geração de riqueza nacional que, ao fim do dia,
é o que permitirá sustentar esses programas sociais sem que continuemos amarrados aos "doadores"?
Nós africanos somos um povo suficientemente forte para resistir às mais tenebrosas adversidades e que tem consentido os mais terriveis sacrificios! “That’s just fact and history proves that”! As questões que eu coloco são as seguintes:
- Porquê não usar mensagens que apelem às pessoas a trabalhar arduamente?
- Porquê não incutir nelas a consciência de que a missão que se nos impõe é árdua e que todo o esforço empreendido será sempre pouco?
- Que acções minúsculas não se enquadram nos nossos objectivos e que nem sequer captarão a nossa atenção!
- Porquê não despertar esse “espirito africano” que pela nascença nos blindou contra as adversidades e orientá-lo para esses grandes feitos que se nos impõem?
- Porquê não falarmos em Desenvolvimento, consciencializando as massas que isso vai exigir de nós muito trabalho e que todos devemos pôr mãos à obra, seguindo planos de desenvolvimento sectoriais elaborados para o efeito?

Todos esses pontos atrás referidos não emergem quando o que está em causa é o famoso “combate à pobreza absoluta” e cada dia mais me convenço que a utilização massiva dessa expressão, não passa de mais uma “imposição dos doadores” (conforme temos visto, esta última é a expressão em voga utilizada para encerrar qualquer tipo de argumento ou discussão e eu não vou fugir a regra!)

13 maio 2008

"Quero construir....Arranja-me lá um Projecto" - O Projecto

Penso que todo o mundo que deseja construir a sua habitação, tem sempre em mente (pelo menos devia ter) a intenção de edificar algo que englobe a estética, harmonia espacial, funcionalidade orgânica, comforto, durabilidade, etc, ou resumindo, que o seu cantinho seja um verdadeiro “Burj Al Arab” sem que tenha que pagar 5000 euros/dormida para o resto da sua vida!
Todos esses elementos que pretende ver incorporados são definidos na altura de elaboração do projecto, daí a elevada importância que esta fase representa para a materialização dos seus objectivos!
Antes de mais, escolha alguém de reconhecida competência para lhe elaborar o Projecto e se não o conhecer devidamente, não tenha receio em perguntar qual a sua formação e que trabalhos terá já executado (um profissional de verdade não fica ofendido por isso). É fortemente recomendado que esse processo seja desencadeado muito à priori da data em que se pretende iniciar com a construção, pelas razões que a seguir indicarei (muita gente quando se dirige ao Projectista, quer o projecto “para ontem”!).

Não pretendo ser tão pouco teórico neste blog, mas só para terem uma ideia, um procedimento formal (caso de obras públicas) obrigaria à decomposição do processo de elaboração do projecto, em 5 fases distintas, a saber:
- Programa preliminar: documento fornecido pelo dono da obra ao projectista para definição dos objectivos, caracteristicas orgânicas e funcionais e condicionalismos financeiros da obra;
- Programa base: documento elaborado pelo pelo projectista a partir do programa preliminar, resultando na particularização deste, da verificação da sua viabilidade, e do estudo de soluções alternativas, e que, depois de aprovado pelo dono da obra, serve de base ao desenvolvimento das fases ulteriores do projecto;
- Estudo prévio: documento elaborado pelo projectista visando o desenvolvimento da solução programada, essencialmente no que respeita a concepção geral da obra;
- Anteprojecto ou Projecto base: é o desenvolvimento, pelo projectista, do estudo prévio aprovado pelo dono da obra, destinado a esclarecer os aspectos da solução proposta que possam dar lugar a dúvidas, a apresentar com maior grau de pormenor alternativas de soluções difíceis de definir no estudo prévio e, de um modo geral, a assentar em definitivo as bases a que deve obedecer a continuação do estudo sob a forma de projecto de execução;
- Projecto de Execução: é o documento elaborado pelo projectista, a partir do estudo prévio ou do anteprojecto aprovado pelo dono da obra, destinado a facultar todos os elementos necessários para a boa execução dos trabalhos, constituindo assim (se for o caso) o processo a apresentar para o concurso de adjudicação da empreitada.

Cá entre nós, não estamos para esses “nheque-nheques” todos e tudo é tratado verbalmente. Mas podem ter a certeza que, à medida que o processo vai decorrendo, estas fases vão emergindo naturalmente, porque não é possivel elaborar um projecto de hoje para amanhã. É necessário tempo suficiente para “amadurecer a coisa” e que depois das metamorfoses que eventualmente forem a ocorrer, cada um na qualidade de dono da obra, se sinta satisfeito com o produto (projecto) final que lhe é fornecido. No entanto, neste caso de obras particulares algumas fases são suprimidas, levando o processo a terminar geralmente na fase de Anteprojecto.

Conforme o R.E.G.E.U (Regulamento Geral de Edificações Urbanas), o Projecto deve conter todos os elementos necessários ao exacto esclarecimento da obra, justificação da sua concepção e dos processos e materiais de construção adoptados, bem como a indicação das condições da sua realização.

Fundamentalmente, este deverá consistir, mas não se restringe apenas às seguintes peças:
§ Parte escrita:
- Memória Descritiva e justificativa: que inclui a definição e descrição geral da obra, nomeadamente no que se refere ao fim a que se destina, a sua localização, interligações com outras obras, etc; indicação da natureza e condições do terreno; justificação da implantação da obra e da sua integração nos condicionamentos locais existentes ou planeados; descrição das soluções adoptadas com vista a satisfação das disposições legais e regulamentares em vigor; indicação das caracteristicas dos materiais, dos elementos de construção, das instalações e do equipamento; justificação técnico-económica, com referência especial aos planos gerais em que a obra se insere:
- Nota de cálculo: pretende-se informar sobre a solução estrutural adoptada e ao mesmo tempo justificar como ela irá garantir a estabilidade e solidez do edifício que se pretende construir.
§ Parte Desenhada
# Arquitectura
- Implantação geral
- Plantas de piso
- Planta de cobertura
- Alçados (frontal, posterior e laterais esquerdo e direito)
- Cortes transversais e longitudinais
- Mapa de vãos (portas, janelas e armários)
- Muro de vedação e portões
# Estrutura
- Planta de fundações
- Pormenores de fundações (paredes)
- Betão armado: sapatas de pilares
- Planta e pormenores de vigas
- Planta de lajes
- Pormenor de escadas
- Muro de vedação: pormenor de fundação e pilares
# Hidráulica
- Implantação – Rede de abastecimento de água
- Plantas de piso – Rede de abastecimento de água
- Implantação – Rede de Esgotos
- Plantas de piso – Rede de Esgotos
- Fossa Séptica
- Caixas de Inspecção e de Retenção de Gorduras
- Caixas de águas pluviais e Esquema de Ventilação
# Electricidade
- Instalação de Cabos
- Iluminação Exterior
- Iluminação
- Tomadas de Uso Geral
- Tomadas de Ar-condicionado
- Telefones
- Quadros, Esquema de Comando e Portinhola de Segurança

Em Moçambique, regra geral, os projectos acima referidos (Arquitectónico, Estrutural/Hidráulico e Eléctrico) são feitos por individuos distintos e sem qualquer forma de coordenação. Isto costuma trazer sérios problemas na altura de execução da obra, devido às discrepâncias que inevitavelmente ocorrem. O meu conselho é que, ao contactar um Projectista, deixe que ele forme a equipa de elaboração do projecto, mesmo que você tenha que negociar pessoalmente os honorários de cada um deles (aliás, para evitar intermediários, hehe). Isso facilita, de sobremaneira, no caso em que surgem dúvidas durante a construção. Nessas situações, bastará apenas contactar uma única pessoa (Projectista-coordenador da equipa), em vez de ter que ir atrás de quatro individuos.
No entanto, é bom perceber que esta questão da “Assistência técnica”, que visa não só, a correcta interpretação do projecto, mas sobretudo garantir que a obra seja executada com a qualidade e prescrições do projecto, deve ser salvaguardada por acordo (contrato) entre o dono da obra e projectista durante a elaboração do projecto. O que acontece é que as pessoas limitam-se a ter o projecto e apenas “arranjar” um pedreiro para conduzir a obra. Este é exactamente um dos câncros da auto-construção no nosso pais. Muitos destes “pedreiros” mal sabem ler uma planta de armaduras! Eles precisam de orientação e acompanhamento! Por isso, não pense que “esteja a gastar” contratando alguém competente (mesmo que sazonalmente) para lhe supervisionar a obra, se quiser edificar algo duradouro!

Outro aspecto crucial e que praticamente “nenhum” Projectista fornece ao cliente é o orçamento da obra. Esteja atento e solicite ao seu projectista que lhe faculte esse documento juntamente com o projecto, de modo a saber quais as quantidades necessárias de materiais e o valor global da sua obra. Forneço aqui aos Projectistas e Donos de obra interessados, um “Mapa de quantidades-tipo”, com as “unidades discretizadas”, ou seja, 1 m3 de betão é apresentado decomposto em sacos de cimento, areia e brita, etc. Isto serve para facilitar a compreensão do Dono da obra, relativamente as quantidades de materiais necessárias para cada etapa da sua auto-construção. (Divulgue pelos seus “companheiros de armas” e, se não perceber algo, não exite em contactar-me). (continua........)

10 maio 2008

"Luta contra a Pobreza Absoluta, Revolução Verde, 7 Milhões de MTN" - Um Conselho aos Srs. "Muchadores*"

Luta contra a "Pobreza Absoluta", "Revolução Verde", "Aumento da Produção", etc, são expressões que passaram a fazer parte do vocabulário corrente dos nossos politicos! O que deles ouvimos são apenas exortações para abraçarmos essa visão "Arquimediana" que vai tirar o pais do marasmo em que se encontra. Tudo começa e termina exactamente ai! Em momento algum se fala de estratégias e planos de desenvolvimento desse sector (agricola), passando fundamentalmente por encontrar soluções para os vários constrangimentos que o processo produtivo enfrenta, ao mesmo tempo que, definindo possiveis cenários de mercados de comercialização que, em última instância, irão não só resolver o problema da crise alimentar, como também reactivar outros sectores da economia.
Há sensivelmente 3 anos que têm sido atribuidos aos distritos cerca de 7 milhões de Mtn (300.000 USD) para a "geração de emprego e comida" e resultados concretos ainda não se começaram a sentir, tal é a desorganização e falta de politicas que tem acompanhado o processo.
Apesar do elevado potencial hidrico de Moçambique, a nossa agricultura (de subsistência) continua dependente da regularidade da época chuvosa e as lamentações que se ouvem devido à falta de água, tem um tom semelhante às dos paises que se encontram localizados lá para as bandas do deserto de Sahara. Quem vive nas cidades, talvés esteja habituado a ouvir falar do ladrão de carteiras, telemóveis, espelhos ou faróis de viaturas, etc e não imagina que, durante a época seca (Agosto/Novembro), várias zonas rurais deste pais sejam assoladas pela "praga de ladrões de água"! O ladrão de água é um individuo que se ocupa em fazer emboscadas e usurpar os bidões de água, àqueles que, depois de percorrer dezenas de quilómetros, conseguem obter o precioso liquido! Essa é uma prática comum, tal é o cenário de desespero das populações! O meu conselho aos Srs. Muchadores é: Porquê não usar parte do Fundo de Investimento de Iniciativas Locais para construir uma represa (barragem de terra) por ano?? Esta prática foi perdida completamente, apesar da sua popularidade no tempo colonial, a avaliar pelo número considerável de obras degradadas distribuidas pelo pais inteiro. Farmeiros dos paises vizinhos (Africa do Sul, Zimbabue, etc) "vivem" dessas fontes de armazenamento de água.

Eu elaborei e supervisionei diversos projectos de construção e reabilitação de represas em várias zonas do pais, e posso vos assegurar que o impacto dessas obras, a todos os niveis (social, ambiental, económico, etc), é imediato! Por mais que se opte pela utilização de meios mecanizados para a sua construção, os custos médios de uma obra de cerca de 150m de comprimento, não excederiam 1 milhão de meticais. Porque essas obras beneficiam directamente as populações, o seu envolvimento é fortemente recomendado, o que possibilita não só, a redução do custo de obra mas também assegura a sua participação futura na sua preservação e manutenção. Inúmeros projectos agricolas de pequena escala, como a produção de horticulas, feijões, etc ou pecuários (criação de caprinos, suinos, frangos, etc) podem ser iniciados, como resultado da existência dessas reservas de água e, beneficiando-se sobretudo da organização da população em associações.

Tornando-se prática anual, não só estariamos a resolver o terrivel problema de carência de água, como também a dar "passos concretos" para a reactivação do sector agricola, em todos os distritos deste pais!

*Muchador - pronúncia errada do termo Administrador, comum em várias zonas rurais do pais.

P.S- Se alguém estiver interessado em construir uma represa, estou disponivel a oferecer a minha assistência gratuita.



"Quero construir....Arranja-me lá um Projecto" - Prelúdio

Hoje me vieram à memória, espectaculares momentos da minha infância!! Era hábito entre nós, viajarmos durante as férias escolares dos primeiros anos da "primária", para a terra que viu meus ancestrais nascerem! Hoje as sociedades estão a tornar-se cada vez mais "city-oriented" e esses hábitos vão esmorrecendo, se é que não morreram mesmo! Mas muitos de nós não imaginamos o impacto que o contacto com a "natureza" (vegetação, animais, etc) cria numa criança (Não perca uma oportunidade de levar os "seus" a esses locais, sempre que puder, e depois avalie os resultados)! Apesar de passados longos anos, me recordo ainda hoje com fascinio dessas experiências! Uma coisa excitante (e amedrontadora ao mesmo tempo) era "passearmo-nos" por entre a extensa manada de bovinos, cuja criação fora iniciada pelo meu bisavó (homem que faleceu antes do meu nascimento). E o ritual matinal era, sentarmo-nos nos degraus das imponentes escadas (dificeis de escalar) da sua casa (que ainda existe) e à luz dos primeiros raios solares observarmos a manada sair do curral.
E é exactamente sobre este facto de, um bem que criamos hoje, poder servir as gerações vindouras (filhos, netos, bisnetos...), que motivou este meu "post"! E não é de manadas que estou a falar, estou a referir-me a "habitação", "casa", "moradia"! Será que alguém pensa nisso, quando decide "construir"?? A evidência não é muito abonatória nesse sentido e, vou na série que se segue, abordar um dos aspectos cruciais à sua materialização e que tem sistematicamente sido negligenciado: "A Elaboração do Projecto"!

O Curso da Liberdade de Imprensa em Moçambique

Começa a notar-se que, em número cada vez crescente, conceituados bloguistas estão a ser "restringidos" de blogar, "por razões profissionais". Antes foi o Egidio Vaz, agora é o Eugénio Chimbutane e amanhã, quem será? Não será isto um atentado as liberdades que temos vindo a notar decrescer vertiginosamente, no exacto periodo em que, um "extraordinário" jornalista terá referido anteriormente que, "o número de malucos no pais está a aumentar"?? Que ameaça é que representa um profissional "de cartas dadas" e que não se coibe de "falar a sua mente", para os interesses de seja qual for a empresa? Passará esta a ser uma empresa hostil? Atentará contra os "interesses nacionais"? Perderá os seus contratos? Terá a sua actividade mais dificultada? Temos que reflectir seriamente, este assunto que aparenta ser "particular"..... Já não basta termos individuos com as "mentes amarradas" e impotentes de apontar as "mazelas da nossa sociedade"; as empresas também estão a submeter-se e a promover essa "escravatura mental"! Provas dadas nos tem elucidado de forma surpreendente que, está dificil separar "Estado" de "partido" e essa lógica tende a reflectir-se em todos os micro-cosmos da nossa esfera. Urge um basta a esta tenebrosa situação! Temos que sair desta mediocridade de sistematicamente previlegiar "partidarismo" em vez de "competência"......e admiram-se que não estejamos a ter progressos!!
O meu apelo vai aqui a camada jovem (juventude não é necessariamente limitada por faixas etarias; é antes, um estado de espirito), em cujas rédeas está o destino desta nação! Vamos lá agir decisivamente e com uma visão futurista (ler Nkwame Nkrumah), em que por circunstancia alguma, nos submetamos aos caprichos de seja lá quem for! Isso passa em parte por uma "autonomia financeira", que tem estado a ser o "calcanhar de Aquiles" para todos nós (académicos, tecnocratas, recém-graduados, etc). Já não podes expressar a tua opinião, porque isso pode significar "perda de pão"!! Porquê, não comecarmos agora a criar uma "classe média" robusta, que vá consolidando a sua actividade baseando-se em conhecimento (know-how), trabalho árduo, honestidade e desenvolvimento......completamente distanciados do lucro rápido, partidarismo, connections e boladas, que caracterizam o "modus vivendi" dos nossos (pseudo) empresários actuais. Nós não só podemos, como temos a obrigação moral de o fazer! Esta é a nossa "luta de libertação" actual!! "Jovens, vamos lá ter postura empreendedora! Não nos limitemos a terminar a faculdade e apenas arranjar emprego!!" Há exemplos fenomenais de jovens recém-graduados, que estão a fazer um tremendo sucesso! Concordo que muitos de nós não tenhamos nascido em "berços de ouro", dai que, trabalhar por um periodo de até 5 anos não seria má ideia para acumular capital, ganhar experiência e estruturar os seus planos de investimento!!! Cada um tem um campo vastissimo de acção, na sua área especifica, sejam Agrónomos, Engenheiros, Mêdicos, Arquitectos, Biólogos, Economistas, Veterinários, Sociólogos, etecetera....
Vamos gente, "mãos a obra, porque o futuro a nós pertence"!!

01 maio 2008

ARQUITECTOS E ENGENHEIROS-”O problema do vestido”

Antes de iniciar a abordagem de assuntos concretos que afectam o sector de construção e não só, gostaria de dedicar algumas linhas a esta classe profissional que tem em suas mãos, a tarefa árdua de materializar um dos elementos cruciais ao desenvolvimento: Infraestruturas!
Este é um sector em que se trabalha arduamente, mas regra geral, se aufere “pouco”…. É mais fácil progredir na vida sendo Economista ou Jurista, do que propriamente Engenheiro ou Arquitecto! Esta situação não se restringe apenas a Moçambique, e verfica-se um pouco pelo mundo fora, incluindo paises altamente desenvolvidos, mas há unanimidade em considerar que o nosso caso seja mais dramático!
Porém, não é sobre rendimentos e “profit” destes profissionais que quero falar! Pretendo dedicar este post a relação profissional entre ambos, quantas vezes “azeda”.
Ocorrem-me, para esse efeito, vários “ditos”, que ilustram essa “celeuma”, esse estado de “paz armada” ou se quiserem “guerra passiva” (ou activa??):
Em tempos lá idos de estudante, o venerado Prof. Carmo Vaz, terá afirmado, em “amena cavaqueira” que, “enquanto os arquitectos não se consciencializarem que, não podemos ter uma viga assim “solta” no ar, nós sempre teremos problemas”. Outra expressão memorável proferida por um Arquitecto (Rodrigues), é que “os engenheiros não passam de um bando de parasitas dos arquitectos” (esta até hoje ainda não percebi). É comum dos arquitectos ouvir-se ainda que, “os engenheiros são uns quadrados”. Eu concordaria com esta ultima, não propriamente com a carga pejorativa que esta expressão transporta, mas sobretudo com a “versatilidade” dessa forma geométrica! Nós vivemos do rectangulo (e sua forma particular, o quadrado), isso é um facto!…. “Estruturalmente” falando, essas formas geométricas encorpam o util e o agradável! Conferem-nos não só, óptimas caracteristicas resistentes, mas também, facilitam o processo constructivo. Muitos arquitectos, se calhar, ainda não se aperceberam que, também vivem dessas formas geométricas! Ninguém anda por ai a projectar “a toa”, salas ovais ou circulares, arcos em abóbada, etc! Essas surgem sempre, em minha opinião, como formas “arrojadas”! Provavelmente, a partir daqui, deveria comecar a ser dada uma nova abordagem a este argumento do “quadrado”!
Pessoalmente, devo dizer que tenho tantos amigos e colegas profissionais arquitectos, tantos quantos engenheiros! Não devo dizer que nunca tive “divergências”, mas asseguro que elas sempre ocorreram num espirito altamente profissional, e tendentes a aproximar “diferenças” e encontrar consensos! Devo dizer que, nem sempre é fácil, mas com o espirito aberto, qualquer das partes tem sempre oportunidade de aprender e de “sair a ganhar”!
Ocorre muitas das vezes, um “problema de perspectivas” ao abordar seja um assunto arquitectónico ou estrutural. E falando em “perspectivas” deixa-me abrir aqui um parentesis! Uma coisa que me deixa completamente “passado” (e provavelmente a muitos de vocês também) e que, todas as vezes que tenho que sair com a minha esposa para um casamento, ela tem que comprar um novo vestido, mesmo que o tenha feito numa semana anterior, para uma ocasião similar! A resposta que obtenho é que, “as pessoas já me viram com aquele vestido”! Para mim esta é uma justificação “descabida” porque na minha “perspectiva”, o mais interessante nessa cerimónia seja eventualmente “bater um bom papo” com o amigo que não vejo há algum tempo ou tomar um bom whiskey, sem a minima das preocupações, enquanto que na “dela”, o charme talvez esteja mesmo ai na “indumentária”. É possivel que, entre arquitectos e engenheiros, a questão se resuma a este “problema do vestido”
O que acontece normalmente, é que regra geral, cada um (engenheiro ou arquitecto) fica apenas preocupado com o seu umbigo! Não se preocupa em perceber as razões que outro apresenta porque, “ignoramos” o facto de que “não existe apenas uma solução, para qualquer que seja o problema”!
Eu sou daqueles engenheiros que, de vez em quando, gosta de dar “asas a imaginação” e projectar algumas “coisinhas”. Verdade seja dita, antes quis mesmo ser arquitecto, mas mudei de ideias (e sem ressentimentos) a altura! (Não estou de maneira alguma a legitimar ou promover a minha capacidade de elaboração de projectos….antes pelo contrário, dou sempre “a César o que é de César”!!) E fazer as duas coisas (projecto arquitectónico e cálculo estrutural), permite-me perceber parte do problema! É que uma alteração decorrente do cálculo estrutural, obriga a modificar grande parte das “assunções” /”previsões” do projecto arquitectónico! É exactamente aqui onde começa o “conflito”! E como sempre na vida, o “diálogo” que é um “equipamento bélico” ultra sofisticado e infalivel para resolver divergências, tende a ser substituido por “attitudes radicais” e “unilaterais” de ambas as partes!
Discussões francas e abertas são, profissionalmente, altamente produtivas! Me ocorre agora a memória, o falecido Arqto. Petrov, homem solitário, de muitas andanças pelo mundo fora e que vivia ali mesmo junto ao cruzamento entre as Avs. Mao Tse Tung e Amilcar Cabral, em Maputo! Devo confessar que, das muitas discussões “fervorosas” que “entusiaticamente” tivemos, aprendi imenso e passei a perceber melhor a “perspectiva arquitectónica”….Essas são oportunidades soberanas para “crescermos” profissionalmente, mas que muitos de nós desperdiçamos!
Engenheiros ou arquitectos que se tenham encontrado (ou se sintam) persistentemente em situações “irreconciliáveis” com a sua contra-parte, devem questionar, antes de mais, a sua “habilidade/capacidade de diálogo” e se houvesse um teste para o efeito, deveriam verificar a quantos “courics” anda o seu orgulho (barato)!
Um abraço a todos os “companheiros de armas” e espero ouvir as vossas experiencias “marcantes”, neste contexto!! E mesmo a calhar, vão os meus votos de um óptimo “fim de semana prolongado” do Trabalhador (disse isso mesmo: “prolongado”….Então, custa alguma coisa fazer uma “ponte” “simplesmente apoiada”, entre Quinta e Sexta-feira??)