18 maio 2008

Porquê a Expressão “Combate à Pobreza Absoluta” deve ser banida da circulação!

“Combater a pobreza absoluta” é uma expressão que não incentiva, a quem quer que seja, a trabalhar! O facto é que, todas as acções minúsculas (microscópicas mesmo) possiveis e imagináveis se enquadram nos grandes feitos dessa “batalha”. Portanto, se eu oferecer uns berlindes aos meninos da rua, estou a combater a pobreza absoluta! Se no dia de alguma cerimónia religiosa fritar umas "badjias" e oferecer aos miúdos de um infantário qualquer, estou a combater a pobreza absoluta! Posso estender toda esta página a deliciar-vos com mais exemplos (ridiculos)!
Como que a corroborar o que acabei de dizer, procurem seguir os serviços noticiosos e os media em geral, para comprovarem a cobertura massiva que é dispensada a essas acções minúsculas! Quem é que se vai sentir motivado a trabalhar, se o simples “movimento do seu polegar” já o qualifica a “grande combatente da pobreza absoluta”?
Ao contrário do que muitos possam pensar (é verdade que dá mesmo essa impressão), a estratégia de combate à pobreza absoluta, não é uma estratégia de desenvolvimento. Na melhor das hipóteses ela condizirá à manutenção das coisas, tal e qual elas estão agora!
Essa acção que tem vindo a ser promovida por quase todas as agências de desenvolvimento (sugiro que passassem a chamar-se “agências de combate à pobreza absoluta”), e agora também, cartão de visitas do nosso “establishment” surgiu lá no mundo desenvolvido como solução para a mitigação dos efeitos nefastos do capitalismo selvagem que, como sabemos, está pouco se lixando pelas causas sociais!
Então, se nós que ainda não conseguimos produzir tomate ou limão para as nossas necessidades, temos como acção prioritária, o combate a pobreza absoluta, quando é que começaremos a falar de desenvolvimento ou geração de riqueza nacional que, ao fim do dia,
é o que permitirá sustentar esses programas sociais sem que continuemos amarrados aos "doadores"?
Nós africanos somos um povo suficientemente forte para resistir às mais tenebrosas adversidades e que tem consentido os mais terriveis sacrificios! “That’s just fact and history proves that”! As questões que eu coloco são as seguintes:
- Porquê não usar mensagens que apelem às pessoas a trabalhar arduamente?
- Porquê não incutir nelas a consciência de que a missão que se nos impõe é árdua e que todo o esforço empreendido será sempre pouco?
- Que acções minúsculas não se enquadram nos nossos objectivos e que nem sequer captarão a nossa atenção!
- Porquê não despertar esse “espirito africano” que pela nascença nos blindou contra as adversidades e orientá-lo para esses grandes feitos que se nos impõem?
- Porquê não falarmos em Desenvolvimento, consciencializando as massas que isso vai exigir de nós muito trabalho e que todos devemos pôr mãos à obra, seguindo planos de desenvolvimento sectoriais elaborados para o efeito?

Todos esses pontos atrás referidos não emergem quando o que está em causa é o famoso “combate à pobreza absoluta” e cada dia mais me convenço que a utilização massiva dessa expressão, não passa de mais uma “imposição dos doadores” (conforme temos visto, esta última é a expressão em voga utilizada para encerrar qualquer tipo de argumento ou discussão e eu não vou fugir a regra!)

7 comentários:

Sensualidades disse...

nunca se vai conseguir "combater a pobreza", pode-se e criar as condicoes para que ela no futuro nao exista

jokas

Paula

Jonathan McCharty disse...

Ola Paula!
O q eu acho e' que deve-se planificar e por em pratica accoes que conduzirao ao desenvolvimento desta nacao, cujo potencial e' com unanimidade reconhecido! Tal sera acompanhado por programas sociais as populacoes mais vulneraveis, que e' o que os neoliberals, free-marketers,etc, detestam! E nao, pura e simplesmente nos entreterem com esta cantiga do "combate a pobreza absoluta" que, confome referiste, e' missao impossivel! E e' mesmo, porque esse e' um exercicio "recorrente" que obrigara o pais (que ainda nao produz quase nada) a continuar dependente da ajuda externa! E' disso q discordo completamente!

Patricio Langa disse...

Caro Mccharty.
Há realmente um uso inflacionário e mimético da palavra combate a pobreza. Hiii, ia me esquecendo. ABSOLUTA! Como essa há tantas outras no reportório de volcabulário da ‘industria de desenvolvimento’. Conheces o Abecedário da nossa Dependência do E.M?
Abraço

Jonathan McCharty disse...

Caro Patricio!
Concordo consigo quando diz que "ha tantas outras palavras" no reportorio da "industria do desenvolvimento"! Tenho mais algumas em mente que irei "atacando" gradualmente!
Infelizmente, nao conheco o Abecedario do E.M.
Abraço

Anônimo disse...

Por que nao:)

Anônimo disse...

Li, senti e entendi. So tenho uma pequena preocupacao sobre o papel dos "doadores" a quem se lhe imputa as culpas de nao contribuir positivamente na mudanca da mentalidade ou na eficacia desses esquemas todos ora do combate a pobreza "absoluta" ou do desenvolvimento. Tenho 44 anos de idade e fiz toda a minha careira profissional como um activista, alias eu passei a chamar-me de altruista profissional, porque recebi recompensa em forma de salario nessa careira. O meu angulo sobre os doadores eh tal que inserida neste contexto vai criar um pouco de ma interpretacao, mas vou comecar por aceitar que o papel dos doadores corrompe, mas no momento inicial nunca eh essa a intencao e nem sequer existe uma agenda estrictamente elaborada para facilitar ilegalidades e incumprimentos por parte dos recipientes. O que acontece eh que uma vez entregue o donativo, os representantes dos doadores tem 2 opcoes, a primeira eh exigir cumprimento escrupulosamente, nao permitindo desvios ou improvisos porcausa dos shortcomings to recipiente, e como resultado disso assumir falhas e as respectivas consequencias a entidade doadora (geralmente sao os tax payers); a segunda opcao e estar no pais recipiente e "adaptar-se" as realidades locais, maus habitos que vao desde falta de cultura de trabalho, responsabilidade moral face a significancia do donativo, e para que o monitor nao saia mal, aceita elaborar misleading reports para poder justificar a sua estadia e as boas relacoes diplomaticas no pais recipiente. Sabendo-se que facilmente essa cultura do relaxar ao ritmo da perola do indico eh contagiante. Quem nao gosta de boa praia, boas lagostas e bons sorrisos da hospitalidade feminina mocambicana?

Os doadores terao a sua quota parte, mas os nacionais sao a quel se lhes pode imputar 95% da responsabilidade do nosso fracasso em tudo que ja foi ensaiado como politica de desenvolvimento. Nao se devia permitir que um individuo que representa um partido politico, ou por outra, um partido politico em que a ultima vez que conferi so foi legitimizado por 1/3 do eleitorado represente aspiracoes da maioria dos mocambicanos. Isso eh que esta mal.

Minha sugestao ainda eh, voltar ao tema principal inserido no preambulo da Constituicao da Republica, fazer da Agricultura o foco principal, o nucleo da celula, o berco de tudo, depois desenvolver o resto das actividades e infraestruturas mas partindo sempre da Agricultura. Todas as provincias deste vasto pais tem potencial, umas mais que as outras, mas em compensacao tem outros recursos que as tornariam importantes em termos de vantagens comparativas. Por exemplo, se Tete se especializa em Carvao, Gaza tem o vale do Limpopo; Cabo Delgado tem os recursos minerais, Manica, Nampula, Niassa indiscutivelmente tem potencial agricola para salvar todo o pais e ate assumir uma certa hegeomonia na regiao austral do continente. O que eh necessario eh ser coerentes com as politicas de Educacao, Financas (bancos comerciais e de poupanca). Se ensinarmos ao povo por via da educacao sobre a responsabilidade de um emprestimo bancario, a obrigatoriedade do pagamento ou amortizacao das dividas, entao estaremos a eliminar esses desmandos todos dos 7 paus. Estaremos estrategicamente a eliminar essa forma de pensar que nao ha consequencias nenhumas em nao pagar um emprestimo. Ha muitos que assumem os 7 paus como um "donativo" outros ate assumem como um favor que o partido fez em recompensa da sua actividade politica. Entao continua-se a gastar dinheiro do OGE e este por sua vez depende dos doadores.

Ja defendi noutras ocasioes que o primeiro passo a ser considerado devia ser a reformulacao de toda a funcao publica, tudo desde os Ministerios as Direccoes Provinciais e Distritais. Se quiserem saber mais disto, fica para a proxima.

Jonathan McCharty disse...

Caro Anonimo 5:28PM,
Obrigado pelo (extenso) comentario.Fazendo jus as suas palavras, penso que o protagonismo que esta' a querer (me) dar, no que concerne a esta questao dos doadores, nao encontra substancia e sustentacao no texto. O que referi foi apenas como surgiu a "estrategia de combate a pobreza" no chamado mundo desenvolvido, e como essas politicas foram transladadas ao pe' da letra para o nosso pais e demais paises africanos. Esta agenda nao e' nossa e nem foi concebida por nos! Quando esvrevi este texto ha 4 anos, tratei de deixar claro que:

1) "a estrategia de combate a pobreza absoluta, nao e' uma estrategia de desenvolvimento".
2) Que na melhor das hipoteses, ela "permitiria" manter as coisas tal e qual elas estao.

Se havia alguma duvida sobre estes pontos, o inquerito ao rendimento familiar, conduzido pelo Instituto Nacional de Estatistica, tratou de clarificar que "as coisas de facto estao a piorar"!!

Acima de tudo, e' o nosso governo, "que adoptou esta agenda alheia como sua" que deve ser condenado!! Mas que quem recomendou ou impos essas politicas, que tivesse coragem de assumir a sua responsabilidade no fracasso!