15 junho 2008

Tomando um "copito" com a PCA dos Correios de Moçambique!

“It's no use saying, ‘We are doing our best!’ You have got to succeed in doing what is necessary."
(Winston Churchill)

Até decidir que para o primeiro “straight talk” desta rubrica iria convidar “o” dirigente máximo dos Correios de Moçambique, não sabia afinal que se tratava de uma mulher! Fiquei positivamente impressionado pelo facto e quero, antes de mais, endereçar-lhe os meus parabéns, Dra. Maria Angélica Dimas por ter aceite tao corajosa missão.
Para a nossa refeição proponho um prato que comi uma vez e nunca mais me esqueci (acho que também irá gostar): uma “mucapata” com galinha cafreal à zambeziana e para bebida, uma “sura” bem doce aqui de Inhambane, porque a nossa conversa vai ser bem longa! (Com a onda de globalização e integração regional nos últimos tempos, vou alertando desde já que aqui os pratos e bebidas serão inteiramente nacionais! Se não promovermos e defendermos o que é nosso, quem o fará?).
Nas várias cidades onde vivi, por acaso quase sempre morei próximo aos Correios e habituei-me à imponência caracteristica dos seus edificios, mas que em contrapartida, contrastavam com aquela imagem de total abandono, qual monstro adormicido! E infelizmente, isso se prolonga até aos nossos dias.
O potencial e a contribuição que essa “máquina adormecida” pode dar ao desenvolvimento desta nação é tanto que, Sra. Dra., nós não nos podemos dar ao “luxo” de continuar com as coisas do jeito que estão e esperar que uma mão miracolusa nos tire desse marasmo.
Constatei com entusiasmo que já existe um trabalho extensivo de “codificação postal” do pais, o que é bastante salutar. No entanto noto, que o sistema está a ser desenhado no sentido de esperar pela aderência de clientes, o que na minha humilde análise me faz crer que a filosofia pressupõe a atribuição de um código (seja caixa postal ou outro) a pessoas e instituições. No contexto actual, essa abordagem vai muito rapidamente se revelar impraticável. Não se pode pensar em desenvolver o serviço de correios à base de “caixas postais”, sra. Dra, e esperando que os clientes tenham que solicitar aos Correios a atribuição do código. Esse antes, deve ser uma espécie de “direito adquirido”. Todas as “variáveis” do sistema devem estar sob control dos Correios de Moçambique e numa postura própria de “contra-ataque” (unanimamente considerada a melhor defesa), esta instituição deve colocar os seus serviços junto aos clientes e pode crer Excia que, a aderência aos serviços disponiveis será expontânea e automática. Mas não pense em “anexar” números ou códigos a pessoas ou instituições! É preciso pensar numa perspectiva de longo prazo e toda a principal estrutura de “codificação” deve estar apenas referente a “lugares”! A concepção actual dos códigos que indica até ao nivel de bairro (Provincia-Localidade-Bairro) já é muito boa. Em termos de “código postal” (completo) o que precisa de ser acrescentado é apenas o número referente ao quarteirão. O resto seria descrito em termos de Rua/Avenida e nome ou número do edificio ou estabelecimento e esse trabalho deve ser coordenado com os Municipios (para os centros urbanos existentes) e o Ministério da Administração Estatal. A “Cooperação Francesa” fez já um excelente trabalho de toponimia dos principais centros urbanos que deve ser capitalizado e provavelmente precisa apenas de ser estendido até aos niveis mais detalhados (edificios ou estabelecimentos existentes em cada circunscrição administrativa), tarefa que hoje em dia é amplamente facilitada pelas tecnologias de informação (tipo GIS ou outras) existentes.
Em seguida, a tarefa que deve ser priorizada é a “implantação” de “Postos postais” e reactivação dos existentes, ao mesmo tempo que, explicando ao público em geral, como está concebido o “novo” sistema postal, quais os códigos de cada zona e quais os serviços que a instituição oferece. Esta é uma tarefa que deve ser realizada sem “mãos a medir”! As campanhas têm que ser “agressivas”, junto às instituições públicas e privadas, estabelecimentos de ensino, zonas comerciais, etc. Este é um investimento e um “risco” que deve ser corrido sem contemplações, porque sociedade alguma moderna se pode dar ao (des)luxo de viver sem um serviço nacional de correios eficiente. Todo o mundo quer tanto receber como mandar encomendas e essa necessidade básica continuará a ser catapultada à medida que a economia for crescendo. Agora, o que os Correios de Moçambique não devem fazer é esperar que a economia do pais “cresça” para começar a estruturar o seu sistema. Esse exercicio deve ser antecipado e não haja dúvidas que ele contribuirá imensamente para a própria reactivação da economia deste pais.
The time is now!
A questão que se coloca a seguir é: Como encontrar financiamento, principalmente para a reabilitação dos “postos postais” existentes e construção de novos pelo pais inteiro? Estendemos a mão aos “bem intencionados” doadores ou pedimos um empréstimo as instituições financeiras internacionais? Eu digo peremptoriamente que NÃO….

Garçom, mais uma garrafa por favor!

Há algum tempo que se tem falado da introdução de “serviços financeiros postais” mas tenho a impressão que tudo tem sido tomado de ânimo muito leve, para além de sempre se reduzir o assunto a um possivel “banco rural”! Não brinquemos com coisas sérias, Sra. Dra.! O potencial deste serviço é consideravelmente enorme e, em situação alguma deve ser abordado apenas no contexto rural! O “Banco Postal” (a funcionar nos comuns postos postais) é antes de mais um banco “urbano” e um instrumento eficaz para o financiamento do Estado em qualquer parte do mundo desenvolvido, independentemente de quantos bancos comerciais existam na praça e sobretudo, assegurando-se que a sua gestão não seja como a do INSS. Em vez do Estado continuar a ser parte “contribuinte” dos lucros fabulosos que os nossos bancos comerciais têm declarado (alguns até com aumentos anuais de 300%), os pagamentos referentes à Acção Social, como pensões, bolsas de estudo ou outros, passariam a ser administrados e geridos pelo “Banco Postal”. As nossas mães e avós que, apesar de muitas delas nunca terem ido a escola, continuam a ser as grandes “experts” em poupança, deixariam de guardar o seu dinhero enterrado em latas ou escondido em capulanas, soutiens ou “mutxecas”, passando a depositá-lo no “Banco Postal”. Essa poupança que for sendo adquirida permitirá não só ir alastrando o serviço a outras áreas através da construção de novos “Postos postais”, mas principalmente, servirá como fonte de financiamento do Estado para outros projectos, como por exemplo, infraestruturas públicas (escolas, hospitais), vias de comunicação (estradas, pontes), etc.
E, enquanto os Correios de Moçambique ainda não atingirem a desejada autonomia financeira, o transporte de mercadorias ao longo do território nacional poderá ser adjudicado às várias empresas de transporte existentes, assegurando sempre a sua alta responsabilidade no manuseio das encomendadas e qualidade do serviço prestado, para que se possa reaver a confiança do cliente, há muito perdida! Com o tempo, os Correios poderão ir assumindo gradualmente a tarefa de transporte através da aquisição da sua própria frota!
Por isso Sra. PCA, as possibilidades existentes são enormes e o trabalho a realizar afigura-se extremamente árduo! Dou aqui a minha máxima força e coragem para essa missão que tem em suas mãos e, é meu desejo que a curto prazo, o serviço de transporte e distribuição de correspondências postais ao longo do território nacional seja inteiramente assumido pelos “Correios de Moçambique, E.P” e não pelas DHL’s, EMS’s, Skynet’s ou mesmo as LAM (Linhas Aéreas de Moçambique) como está a acontecer actualmente. Isso é um imperativo nacional!…

Para sobremesa eu vou pedir uma salada de fruta e a Sra. PCA o que prefere?........

12 junho 2008

“Tomando um copito com…….XYZ”

“Um brinde à cerveja, a causa e solução de todos os nossos problemas!”
(Homer Simpson)

Os Gregos descobriram há muito tempo que, “É nas bebedeiras que se dizem as verdades!” e ao longo da história da humanidade, nenhum alto-executivo ou homem de negócios que se preze dispensa um bom prato e uma boa bebida para tomar importantes decisões, discutir assuntos capitais ou “fechar” negócios!
Para não fugir a essa “regra”, eu vou iniciar hoje a rubrica acima indicada, para de forma clara, transparente, aberta e fundamentalmente, ao sabor de um apetitoso prato e do “seu irmão gêmeo”, o indispensável “copito”, discutir com as individualidades XYZ indicadas, assuntos cruciais ao desenvolvimento desta nação que tanto estimamos!

Fique d’olho!

09 junho 2008

"Quero construir....Arranja-me lá um Projecto" - Quem são os Donos de Obra?

O “boom” no sector de construção civil em Moçambique, teve o seu inicio nos anos imediatamente a seguir aos Acordos Gerais de Paz, logo no inicio da década de 90.
Muito antes de se ter começado a falar das novas “áreas urbanizadas” ou de “expansão” das cidades, como “Belo Horizonte” (Maputo), “Muhala-Expansão” (Nampula), só para citar algumas, a construção já tinha renascido em áreas “previlegiadas” das capitais provinciais, incluindo até, zonas protegidas (proibidas). E nao é um “peão” qualquer que consegue transpor tantas “barreiras”, comprar um talhão (não nos iludamos com as cantigas da “Lei de Terras”; neste pais terreno compra-se e muito caro) em zonas “restritas” e construir os “palacetes” que temos vindo a observar, aqui nas encostas da Marginal, Bairro Triunfo, Sommerschild II, “Barreiras”, só para dar alguns exemplos aqui da capital. Um pedaço de terra de 20x40m2 nestes locais não custa menos de 50.000USD. Outro aspecto que precisa notar, é a dificuldade acrescida imposta pela topografia desses terrenos (taludes ingremes na marginal) ou suas caracteristicas geotécnicas (mangais da Costa do Sol), o que requer o envolvimento de técnicos qualificados e, consequentemente, custos elevados pelo projecto e pela solução arquitectónica e estrutural considerada. Estima-se que o valor médio da construção dessas obras ronde os 350.000USD e muitos dos seus proprietários, que vão desde “business men” (de todas as raças e bem conectados ao “sistema”), “top-executives” de empresas privadas e estatais até a famosa “nomenklatura”, (libertadores da nação e porque não, os seus legitimos “donos”!), recorrem geralmente a empresas de consultoria para a elaboração do projecto e posterior adjudicação da obra a empreiteiros para a sua execução. E como este pessoal “vai a todas”, eles também estão lá nos “Belos Horizontes”, “Malhampsenes”, “Estoril”, “Chuabo Dembes”, “Muhala-Expansão”, “WimbeII”, etc.
No entanto, não é esta fracção previlegiada que constitui o “motor” deste ressurgir da construção habitacional em Moçambique. Não menosprezando o tremendo “fosso” que os separa dos “barrigas grandes”, a classe que poderiamos considerar como a “dos que têm salário de licenciado” (cerca de 500USD/mês) é que é o vector principal deste processo. Embora o pais tenha ainda menos de 5% da sua população com ensino superior, esta “classe” tem uma base consideravelmente alargada, se tomarmos em conta que, mesmo os cobradores de “chapa” não aceitam um salário inferior a 5000 Mtn (200USD). O sector bancário que começa, mesmo que de forma espreguiçada, a prover serviços de crédito a habitação, tem os seus olhos virados para esta “classe” e se um dia, o “Fundo” da nossa linda psicóloga (já agora, não deveria ser alguém formado na área?) ousar criar uma politica coerente de habitação neste pais, é nestes seus verdadeiros “desenrascas” que se deve concentrar!
Esta classe tem de tudo: desde o cobrador de chapa, o proprietário da barraca, o vendedor informal, os “Sós doutores”, as famosas socialites, celebrities e por ai fora! Um autêntico TNT (tri-nitro-tolueno) social que, muitas das vezes, está apenas preocupado em ostentar o que não se tem ou não se é! A história da socialite contada aqui é apenas “um cheirinho” da pólvora que anda por ai escondida em embalagens de chocolate! Todo o mundo preocupado em “aparecer”: com o carro que o vizinho não tem (nem interessa se é roubado ou não), roupas “de marca”, fragrâncias francesas, quando “por dentro” não passamos da pior escumalha que se pode encontrar, vigaristas, mal alimentados (para compensação, uma “cabeça” logo de manhã na barraca da esquina nos dá cá um jeitinho!) e precisa ver a “capoeira” onde moramos! Todo o esforço empreendido é mesmo dedicado apenas para “aparências”! Valores como honestidade, trabalho árduo, honrar a palavra, ética, respeito mútuo, etc, desses temos pavor!
E quando decidimos “construir”, esse “modus vivendi” tem que ser operado na sua “máxima força”! Quem é o projectista que no decurso da sua carreira e, depois do trabalho árduo que envolve a elaboração de um projecto, não tenha ainda sido “vitima” das investidas destes nossos (pseudo) ricos? Habituados exactamente a uma sociedade que vive de “aparências” somos induzidos a observar alguns “parâmetros” para avaliar o “poder financeiro” dos que nos cruzam o caminho e, consideramos mais do que suficiente, firmar verbalmente os contratos de prestação dos nossos serviços! “E depois é que são elas…..”!
Aos meus “fellows” projectistas deixo aqui um modelo de contrato (escrito) a ser firmado sempre que vá oferecer os seus serviços, porque o “ladrão” e o “vigarista” do século XXI não precisa necessariamente de aparecer com aquela cara ameaçadora e uma espada de dois gumes! Ele vem num Mercedes-Benz, trajado num fato “Pierre Cardin”, bem cheirozinho e com muitos celulares (passando por muito solicitado e com muitos business “to run”).

É isso, meus caros compatriotas! “A riqueza de um pais, é o seu povo”! Vamos lá investir e nos esforçarmos, a cada momento do nosso dia-a-dia, em sermos melhores pessoas para connosco próprios e para com os demais!

03 junho 2008

"Quero construir....Arranja-me lá um Projecto" - O Dono de Obra

Muita tinta foi já gasta a falar da elaboração do Projecto e dos “diabos” dos Projectistas e acho ser justo olharmos um pouco para “o outro lado da vedação”: O Clinte; O Dono de Obra! Referi “diabólico” porque o projectista é isso mesmo: Ser repugnante, cobra muito dinheiro, atrasa com a entrega do projecto e comete tantas outras barbaridades sem fim. Nessa perspectiva, e tal como nos filmes onde temos “artistas” e “bandidos”, então o Dono de Obra seria um Ser “imaculado”, “vitima” do processo e sempre penalizado! Será mesmo??
Como “amendoins” (no bar) para este “post” quero partilhar convosco um episodio dos meus tempos de estudante: Uma “socialite” cá da praça foi a mim introduzida por um amigo! Para minha surpresa, a fulana estava “à rasca” de umas “aulas de explicação” para poder fazer o exame externo de Matemática da 12a classe. Digo surpresa, porque logo à partida, somos quase sempre induzidos a pensar que “Celebrity”, para além do seu “muito” dinhero, tem grau universitário, felicidade e tudo o que alguém pode almejar nesta vida! Pensamos nisso tudo, sem nos questionarmos do que quer que seja!
Imaginem uma “fêmea” mesmo (bonita, hein!), no seu “senhor” Patrol, roupas de marca (ou de etiqueta como dizem os “Brasucas”) e fragrâncias das mais bem cheirosas……! Quem ousa duvidar? Acertamos os honorários (verbalmente, não é essa a prática?) e fui dando as aturadas explicações a nossa “socialite”! Terminado o “serviço” no periodo acordado, outro espanto: Um cheque sem cobertura e, para não variar, o subsequente jogo de “gato e rato”. “Celebrities” surpreendem mesmo! Vocês não imaginam o “bico de obra” que foi reaver os meus tostões! E eram tostões mesmo, porque se estou bem lembrado, a quantia nem sequer excedia os 100 USD…..Essa foi uma “ganda” lição de vida!

A pergunta que ocorre então é: Quem está por detrás desse ressurgir da construção habitacional em Moçambique, qual a “demografia” desse(s) grupo(s), como caracterizá-lo(s) ? Quem são os nossos Donos de Obra??

(……continua no próximo post)