Penso que todo o mundo que deseja construir a sua habitação, tem sempre em mente (pelo menos devia ter) a intenção de edificar algo que englobe a estética, harmonia espacial, funcionalidade orgânica, comforto, durabilidade, etc, ou resumindo, que o seu cantinho seja um verdadeiro “Burj Al Arab” sem que tenha que pagar 5000 euros/dormida para o resto da sua vida!
Todos esses elementos que pretende ver incorporados são definidos na altura de elaboração do projecto, daí a elevada importância que esta fase representa para a materialização dos seus objectivos!
Antes de mais, escolha alguém de reconhecida competência para lhe elaborar o Projecto e se não o conhecer devidamente, não tenha receio em perguntar qual a sua formação e que trabalhos terá já executado (um profissional de verdade não fica ofendido por isso). É fortemente recomendado que esse processo seja desencadeado muito à priori da data em que se pretende iniciar com a construção, pelas razões que a seguir indicarei (muita gente quando se dirige ao Projectista, quer o projecto “para ontem”!).
Não pretendo ser tão pouco teórico neste blog, mas só para terem uma ideia, um procedimento formal (caso de obras públicas) obrigaria à decomposição do processo de elaboração do projecto, em 5 fases distintas, a saber:
- Programa preliminar: documento fornecido pelo dono da obra ao projectista para definição dos objectivos, caracteristicas orgânicas e funcionais e condicionalismos financeiros da obra;
- Programa base: documento elaborado pelo pelo projectista a partir do programa preliminar, resultando na particularização deste, da verificação da sua viabilidade, e do estudo de soluções alternativas, e que, depois de aprovado pelo dono da obra, serve de base ao desenvolvimento das fases ulteriores do projecto;
- Estudo prévio: documento elaborado pelo projectista visando o desenvolvimento da solução programada, essencialmente no que respeita a concepção geral da obra;
- Anteprojecto ou Projecto base: é o desenvolvimento, pelo projectista, do estudo prévio aprovado pelo dono da obra, destinado a esclarecer os aspectos da solução proposta que possam dar lugar a dúvidas, a apresentar com maior grau de pormenor alternativas de soluções difíceis de definir no estudo prévio e, de um modo geral, a assentar em definitivo as bases a que deve obedecer a continuação do estudo sob a forma de projecto de execução;
- Projecto de Execução: é o documento elaborado pelo projectista, a partir do estudo prévio ou do anteprojecto aprovado pelo dono da obra, destinado a facultar todos os elementos necessários para a boa execução dos trabalhos, constituindo assim (se for o caso) o processo a apresentar para o concurso de adjudicação da empreitada.
Cá entre nós, não estamos para esses
“nheque-nheques” todos e tudo é tratado verbalmente. Mas podem ter a certeza que, à medida que o processo vai decorrendo, estas fases vão emergindo naturalmente, porque não é possivel elaborar um projecto de hoje para amanhã. É necessário tempo suficiente para “amadurecer a coisa” e que depois das metamorfoses que eventualmente forem a ocorrer, cada um na qualidade de dono da obra, se sinta satisfeito com o produto (projecto) final que lhe é fornecido. No entanto, neste caso de obras particulares algumas fases são suprimidas, levando o processo a terminar geralmente na fase de Anteprojecto.
Conforme o R.E.G.E.U (Regulamento Geral de Edificações Urbanas), o Projecto deve conter todos os elementos necessários ao exacto esclarecimento da obra, justificação da sua concepção e dos processos e materiais de construção adoptados, bem como a indicação das condições da sua realização.
Fundamentalmente, este deverá consistir, mas não se restringe apenas às seguintes peças:
§ Parte escrita:
- Memória Descritiva e justificativa: que inclui a definição e descrição geral da obra, nomeadamente no que se refere ao fim a que se destina, a sua localização, interligações com outras obras, etc; indicação da natureza e condições do terreno; justificação da implantação da obra e da sua integração nos condicionamentos locais existentes ou planeados; descrição das soluções adoptadas com vista a satisfação das disposições legais e regulamentares em vigor; indicação das caracteristicas dos materiais, dos elementos de construção, das instalações e do equipamento; justificação técnico-económica, com referência especial aos planos gerais em que a obra se insere:
- Nota de cálculo: pretende-se informar sobre a solução estrutural adoptada e ao mesmo tempo justificar como ela irá garantir a estabilidade e solidez do edifício que se pretende construir.
§ Parte Desenhada
# Arquitectura
- Implantação geral
- Plantas de piso
- Planta de cobertura
- Alçados (frontal, posterior e laterais esquerdo e direito)
- Cortes transversais e longitudinais
- Mapa de vãos (portas, janelas e armários)
- Muro de vedação e portões
# Estrutura
- Planta de fundações
- Pormenores de fundações (paredes)
- Betão armado: sapatas de pilares
- Planta e pormenores de vigas
- Planta de lajes
- Pormenor de escadas
- Muro de vedação: pormenor de fundação e pilares
# Hidráulica
- Implantação – Rede de abastecimento de água
- Plantas de piso – Rede de abastecimento de água
- Implantação – Rede de Esgotos
- Plantas de piso – Rede de Esgotos
- Fossa Séptica
- Caixas de Inspecção e de Retenção de Gorduras
- Caixas de águas pluviais e Esquema de Ventilação
# Electricidade
- Instalação de Cabos
- Iluminação Exterior
- Iluminação
- Tomadas de Uso Geral
- Tomadas de Ar-condicionado
- Telefones
- Quadros, Esquema de Comando e Portinhola de Segurança
Em Moçambique, regra geral, os projectos acima referidos (Arquitectónico, Estrutural/Hidráulico e Eléctrico) são feitos por individuos distintos e sem qualquer forma de coordenação. Isto costuma trazer sérios problemas na altura de execução da obra, devido
às discrepâncias que inevitavelmente ocorrem. O meu conselho é que, ao contactar um Projectista, deixe que ele forme a equipa de elaboração do projecto, mesmo que você tenha que negociar pessoalmente os honorários de cada um deles (aliás, para evitar intermediários, hehe). Isso facilita, de sobremaneira, no caso em que surgem dúvidas durante a construção. Nessas situações, bastará apenas contactar uma única pessoa (Projectista-coordenador da equipa), em vez de ter que ir atrás de quatro individuos.
No entanto, é bom perceber que esta questão da “Assistência técnica”, que visa não só, a correcta interpretação do projecto, mas sobretudo garantir que a obra seja executada com a qualidade e prescrições do projecto, deve ser salvaguardada por acordo (contrato) entre o dono da obra e projectista durante a elaboração do projecto. O que acontece é que as pessoas limitam-se a ter o projecto e apenas “arranjar” um pedreiro para conduzir a obra. Este é exactamente um dos câncros da auto-construção no nosso pais. Muitos destes “pedreiros” mal sabem ler uma planta de armaduras! Eles precisam de orientação e acompanhamento! Por isso, não pense que “esteja a gastar” contratando alguém competente (mesmo que sazonalmente) para lhe supervisionar a obra, se quiser edificar algo duradouro!
Outro aspecto crucial e que praticamente “nenhum” Projectista fornece ao cliente é o orçamento da obra. Esteja atento e solicite ao seu projectista que lhe faculte esse documento juntamente com o projecto, de modo a saber quais as quantidades necessárias de materiais e o valor global da sua obra. Forneço
aqui aos Projectistas e Donos de obra interessados, um “Mapa de quantidades-tipo”, com as “unidades discretizadas”, ou seja, 1 m3 de betão é apresentado decomposto em sacos de cimento, areia e brita, etc. Isto serve para facilitar a compreensão do Dono da obra, relativamente as quantidades de materiais necessárias para cada etapa da sua auto-construção. (Divulgue pelos seus “companheiros de armas” e, se não perceber algo, não exite em contactar-me).
(continua........)