Este artigo surge como “reflexo” do “Para que Não Seja Cúmplice” do ilustre bloguista Egídio Vaz, cuja acutilância, verticalidade e rigor crítico são sobejamente conhecidos nestas bandas!
Não tenho dúvidas que o referido artigo pôs muitos “progressistas” (leia-se amantes da democracia pluripartidária; pró-MDM) de cabelos levantados (hehe)!! “Cabelos levantados” porque o artigo pode e nalgumas das suas asserções deixa mesmo transparecer a ideia que Egídio Vaz esteja contra a formação deste partido! Porém, na minha humilde percepção, não é esse o móbil do nosso bloguista (se estiver enganado, que me elucide)! Vaz, que é um reconhecido debatedor, não se coibiu de ser sí próprio, de fazer questionamentos e partilhar as suas inquietações! Não vejo aqui mais do que um exercício legítimo em que questões pertinentes, no entender de Vaz, são levantadas para que o partido ora concebido, seja uma realidade bem sucedida! Se este país quiser evoluir, deve expurgar-se da legião de “yes-men” que pululam por todas as esquinas!! Não deve haver medo de debater e criticar mesmo as coisas em que ferventemente acreditamos!! Debate franco e honesto é uma necessidade permanente e como diz o Bayano, “a palavra de nenhum outro homem é final"! Que ninguém se alarme, porque Vaz é do tipo de homens que este país precisa!!
Vamos lá então, por partes, ver que imagem este espelho tem aqui reflectida do artigo de Egídio Vaz!
Lí recentemente um texto que falava dos aspectos “assustadores” que, mesmo volvidos todos estes séculos, a “Teoria de Evolução das Espécies”, de Charles Darwin ainda representa!
No princípio, era a Frelimo, formada da aglutinação de outros três movimentos UNAMI, MANU e UDENAMO. Uma vez alcançada a independência, a “elite” que tratou de assegurar o poder político-ideológico na última fase dessa guerra, por um processo que os nossos manuais de história ainda não descrevem, achou que a sua acção prioritária era assegurar uma coleira para cada um dos seus cidadãos, pronta a ser apertada (e “naturalmente” sufocá-lo) sempre que este ousasse ter ideias próprias ou pensar de forma diferente como havia sido instruído a fazer! Porque não era possível viver sob um totalitarismo de tamanha natureza, desse movimento outrora “unificado”, verificou-se uma cisão que culminou com a tragédia da guerra civil, da qual, todos nós, directa ou indirectamente, sofremos as suas sequelas!! Da boca do “general de 5 estrelas” desse movimento agora constituído partido Renamo, mais de 60% dos seus membros (ele incluso) provieram (desertaram, se quiserem) das fileiras da Frelimo!
Como parte das cláusulas do “Acordo de Roma” veio a nova Constituição da República, o país se abriu ao pluripartidarismo e, verdade ou não, que a Renamo lutou pela democracia, Dhlakama se acomodou nos colchões de dinheiro que o seu partido recebe dos nossos impostos, como resultado da sua representatividade à nivel parlamentar! Para além da sua gestão partidária em moldes “domésticos” e postura assumidamente “ditatorial”, o “general de 5 estrelas” se esqueceu que essas atitudes não constavam dos termos de referência daqueles que rejeitaram o totalitarismo em primeira instância e aspiravam por uma sociedade em que as liberdades individuais e colectivas são respeitadas, o ideal de progresso e desenvolvimento da nação é permanentemente debatido e o Estado de Direito é vigorosamente defendido.
Nova cisão (deserção) inevitavelmente acabou ocorrendo (está a ocorrer) na Renamo! E não foi por falta de aviso: inclusive neste blog, alertamos ao Fuhrer que, a sua inabilidade em fazer reformas profundas em tempo útil, iria causar danos irreparàveis a sua máquina partidária! Se a nossa “profecia do diabo” que, se se chegasse ao ponto em que um novo partido tivesse que ser formado, a Renamo desapareceria do panorama político Moçambicano, estava certa ou não, a realidade mostra que este partido está a sofrer “golpes de morte” a cada dia que passa!
Aqui devo discordar do amigo Egidio Vaz que, um partido formado por “desertores” ou a deserção em si, seja um empecilho à sua própria génese! Esta “mutação” faz parte do processo natural de evolução das “espécies políticas” nesta Pérola do Indico! Este não é um processo infalível, mas tentativo e continuo, em que os ideiais de democracia, justiça, tolerância, debate franco e aberto, o Estado de Direito e o progresso desta nação são persistentemente perseguidos! Em cada uma destas “fases” (cisões), a fasquia e os “standards” destes valores que a nossa sociedade aspira são elevados para patamares mais exigentes! No entanto, devo concordar com Vaz, quando refere que o MDM deve priorizar a “excelência” e a “competência” dos seus quadros!! Espero que não se esteja a passar a ideia que os quadros visíveis tenham que ser todos Phd’s, mestrados ou licenciados! Há muitos “analfabetos-formados” por aí, que não se fartam de ostentar os seus graus académicos, mas cujas atitudes nos deixam completamente boquiabertos! Os extractos da sociedade têem que se rever nessa formação e é fundamental que todos eles estejam cometidos em assegurar e trabalhar arduamente em prol desses ideiais que esta nação aspira, faz muito tempo! Que não se cometam os erros de outros partidos que diziam ser dos “operários e camponeses”, quando na realidade, ninguém dessa classe conhecia a porta da sede do partido.
Que há muita gente “valiosa” que ainda não mostrou a cara, certamente que há! No fundo, todos nós conhecemos a realidade da sociedade em que vivemos, parte da qual se pretende aqui mudar. Depois da perseguição abertamente desencadeada a intelectuais como o Namburete, Mussá, Araújo e tantos outros, que “ousaram” ter ideias próprias, seria muita imprudência se todos aqueles que detém cargos públicos, homens de negócios e não só, de hoje para hoje, se apresentem publicamente a apoiar o MDM!! Isso irá ocorrer gradualmente e não é necessário que todos estejam na mesma frente! Mesmo na altura da luta pela independência nacional, muitos nacionalistas andavam aqui pelos corredores citadinos, nos gabinetes coloniais, mas o seu trabalho não foi de menosprezar! “O segredo é sempre uma forte alma do negócio”!
Da mesma maneira que Darwin notou por exemplo que os chimpanzés e gorilas adultos tinham um comportamento que se assemelhava ao de crianças (humanas) vemos ainda hoje, em pleno sec.XXI que os totalitaristas e sua vassalagem consideram um “princípio universal” que, um grupo restricto “pense” e o resto se limite a “cumprir”! Se os detentores da capacidade de pensar disserem que o “Estado da nação é bom”, a “vassalagem”, sem se questionar (porque isso pode ser crimethink), “se faz megafones” e se põe a difundir a mensagem aos quatro ventos! Não há dúvidas que esta espécie política ficou estagnada e não evoluiu. Aquilo que na Renamo vulgarmente se apelida de “falta de disciplina partidária” pode ser, na realidade, o prenúncio da fasquia de um diálogo franco e aberto que foi elevada, mas esse pressuposto deixou de ser observado por aquela liderança nepotista que achou que, a melhor forma de deter o poder incessantemente era se comportar como aqueles aos quais se distanciou em primeira instância! O que se viu é que esse “diálogo” que deveria ocorrer de forma trivial, mas cujos “canais” estavam a ser insistentemente estrangulados, encontrou formas de se desinvencilhar dessa situação, porque a essência para que isso aconteça, existe! Resultado: como prato de cada dia, a roupa suja passou a ser lavada em hasta pública!
Do MDM, não se espera qualquer forma de obliteração destes princípios, valores e ideais atrás referidos! O MDM não é Deviz Simango, mas a moção, subtil e determinada, das aspirações colectivas desta nação. A sua habilidade de granjear simpatias do povo moçambicano dependerá da sua capacidade de preencher o enorme vazio que se observa no nosso panorama politico nacional e que as outras formações políticas nunca se esforçaram em colmatar com acções concretas! Depende do seu cometimento em materializar os anseios desta maioria completamente alienada e excluida! O sentido de propósito aqui é claro e não se pode desvirtuar o foco de acção!
O amigo Vaz sugere também que seria salutar esperar que Dhlakama abandonasse a liderança do partido, em vez de se ter avançado para a criação do MDM. Eu pensei que estivesse mais do que claro que o “general de 5 estrelas” betonou os seus pés no "trono da oposição" e, mesmo que quisesse sair, a situação a que se submeteu, o impediria! A própria expulsão de Deviz foi o culminar dos “medos” que não deixavam o Fuhrer dormir, pela ameaça crescente que este Autarca, com a sua postura governativa exemplar, ia representando à liderança do partido! O custo que este país iria incorrer até que os membros das comissões políticas dos “partidos guerreiros” se reformassem (se é que eles sabem que isso de reforma realmente existe) ou que “mother-earth” os chamasse, é algo que nós e os nossos filhos não podem suportar! Está mais do que claro que, mesmo apesar do discurso tolerante e reconciliatório de Daviz, antes e depois das eleições, nada mudou no comportamento da liderança da Renamo e, continuar a bater com a cabeça na parede já não era opção! Estamos há anos-luz que coabitar com a “oposição retrógrada” deixou de ser possível! Todas estas ditas “lideranças históricas” não conseguem imaginar um mundo em que eles deixem de ser os actores principais! A formação do MDM surge como um “by-pass” a toda essa gente que, mesmo sem visão clara dos destinos a dar a este país, não quer arredar o pé! Surge como oportunidade para um outro tipo de liderança, jovem, inclusiva e sem as mãos manchadas de sangue! Se o povo quiser, fará isso acontecer! Se não quiser, teremos mais tempo disponível para lamentar da nossa sina!
Outro aspecto que me faz discordar do amigo Vaz, é o espectro geográfico que propõe para a actuação do MDM! Não é só a população do centro que aspira aos ideais da democracia e de desenvolvimento! Em nada diferem as dificuldades sentidas pelo cidadão em Massangena ou em Nametil! Já foi bom que todos os distritos estivessem representados na Assembleia Constituinte, mas agora é necessário que o partido adopte uma estratégia coerente de inserção em todas as regiões do país, sem a mínima excepção!! Sem trabalho árduo e sem correr riscos, também não se podem esperar frutos apetecíveis! Pela primeira vez na nossa jovem história de democracia, o MDM tem a possibilidade de pôr em prática o princípio de que o cidadão membro ou simpatizante é que financia o partido e não o contrário! Tudo é possível and “the sky is the limit”!
Enfim, estava aqui apenas a “ruminar” algumas ideias e, como “a palavra de nenhum outro homem é final", não se coíba de contribuir com os seus cêntimos para este debate!
Cocoricooo!!
4 comentários:
Simplesmente brilhante, caro Jonathan!
Cocorico!
Caro Jose'!
Obrigado pelo seu comentario!
Que o cantar do galo desperte este povo que ja' esta' preparado para a marcha!!
Cocoricooo!
Caro Jonathan,
E gostei do artigo. Como disse e bem dizes, o propostio do meu artigo era e é provocar um debate que produza consensos fortes. E, parece-me que o debate só pode avançar se tivermos debatedores que, mesmo morrendo de amores, sejam capazes de acautelar alguns aspectos da vida que se pretende dar ao novo movimento para necessariamente não cair na desgraça como tantos outros. É o que tentei fazer. Está claro que os meus receios baseam-se na experiencia vivida nos ultimos anos; experiencias de modelos de gestao partidaria de raul Domingos, Ya Qub ou Lutero Simango. Os erros notados precisam ser eliminados; porque foramm fatais; as virtudes notadas precisam ser alimentadas e encorajadas. A estratégia política precisa ser diferente e muito aguerrida. E, acima de tudo, porecisa de muito trabalho e dedicação. Na Renamo, não se trabalhou, basta sentar-se à porta do Chefe e contar-lhe o que se diz a favor e contra ele, e quem o diz, para depois carregar o recado aos respectivos destinatários. Trabalho deito e pronto!
Outro aspecto que quis acautelar foi a necessidade de equilibrarmos e melhor gerir as nossas expectativas. Como todo o político, quererãpo todos ser deputados. Não será assim na primeira fase. Alguns deverão avançar e outros aguardar, trabalhando. E, nisso de partilha de recursos e oportunidades, tem havido muita guerra interna. É próprio do homem. Mas, para que o processo logre sucesso, HUMILDADE E PERSEVERANÇA deverão ser o estandarte da militância. Lutero não conseguiu com o PCN, Maximo DIas não conseguiu com o MONAMO/PMSD e Ya Qub tenta desesperadamente coligar-se com a Frelimo. Esse tipo de experiência arrepia e faz muita gente retroceder.
E o MDM deve ser diferente.
Abraços.
Ilustre Egidio Vaz!
Ainda bem que percebi adequadamente o teu artigo! Vindo de ti, eu achei o artigo pertinente, principalmente para chamar a atencao aos membros e simpatizantes do MDM para os desafios que se impoem!! Uma coisa que sempre disse e' que, fazer politica em Africa nao e' coisa "complicada"! Com determinacao, empenho e sobretudo uma plataforma que valorize o "desempenho individual" dos seus membros e nao a distribuicao habitual de favores pelo "lider", o MDM tem uma oportunidade impar de ganhar campo muito rapidamente no xadrez politico desta nacao!! Mesmo o partido no poder sabe que nao tem o eleitoral do seu lado!!
O MDM deve se consciencializar a partir de ja' que trabalho arduo, entrega total dos seus membros e' que vai ditar os seus resultados! Oportunidade e muita mesmo, existe a fartura!!
Para frente e' o caminho!!
Abraco
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