26 maio 2009

“Auto-estima” – Factores que a Afectam!!

“Auto-estima” reflecte a mais profunda visão da nossa “competência” e “valor”. Algumas vezes, esta visão é o nosso mais guardado segredo, mesmo a nós mesmos, como quando pretendemos compensar as nossas deficiências com aquilo que se pode considerar “Pseudo-auto-estima”, ou seja, a pretensão de uma “auto-confiança” ou “respeito-próprio” que, actualmente, não sentimos!!

Nada é mais comum que o esforço de proteger “Auto-estima”, não com “Consciência”, mas com “Inconsciência” – com “negação” e “evasão” – o que somente resulta numa progressiva deterioração da mesma (Auto-estima). De facto, muito do comportamento que apelidamos de “neurótico” pode bem ser entendido como um esforço desorientado para proteger a “Auto-estima”, por meios que na realidade são “contraproducentes” e “prejudiciais” a essa “Auto-estima”.

Quer admitamos, quer não, existe um estágio em que todos nós sabemos que esta questão de “Auto-estima” se revela de extrema importância. Evidência para esta observação é o comportamento defensivo com que pessoas inseguras podem responder, quando os seus erros lhes são apontados. Ou a extraordinária manifestação de “negação” e “auto-engano” que as pessoas exibem em relação a seus grosseiros actos de “inconsciência” e “irresponsabilidade”! Ou a forma “ridícula” e “patética” com que as pessoas procuram engrandecer os seus “egos” através da manifestação de “riqueza” ou “prestígio” de seus esposos(as)/parceiros, a marca dos seus carros, roupas de costureiros “top-gama”, ou pela exclusividade do seu clube de golfe.

Mas, nem todos os “valores” que as pessoas tentam usar para suportar a sua “pseudo-auto-estima” são “ridículos” ou “irracionais”! Trabalho produtivo é certamente um “valor” para ser admirado! Mas, se alguém pretende compensar a sua deficiente “Auto-estima”, tornando-se num “Maluco do Trabalho”, então essa pessoa estará a entrar numa batalha que nunca poderá vencer! Nunca chegará o ponto em que essa pessoa sentirá ter realizado o “bastante”! “Gentileza” e “Compaixão” são inegáveis “virtudes” e elas são parte do que realmente significa viver uma “vida moral”, mas elas não são substitutas de “consciência”, “independência”, “auto-responsabilidade” e “integridade”! E, quando isto não é entendido, elas são normalmente usadas como meios disfarçados “comprar” amor e talvés mesmo, como um senso de “superioridade moral”: “Eu sou mais amável e compassivo do que você alguma vez será e, se eu não fosse assim tão humilde, te teria dito, sem reservas!!”

Um dos grandes desafios da nossa prática de “viver conscientemente” é prestar atenção àquilo que, de facto, “nutre” ou “deteriora” a “Auto-estima”.

A realidade pode (deve) ser bem diferente das nossas crenças!!

Nós, por exemplo, podemos ficar fascinados quando recebemos um “elogio”, e podemos pensar que: “Quando ganharmos a aprovação das pessoas, então, teremos Auto-estima”! Mas, se nós formos devidamente “conscientes”, iremos notar que esse “sentimento agradável” se evapora pouco tempo depois (do elogio) e nós parecemos insaciáveis e nunca totalmente satisfeitos! E isto, nos fara perguntar se teremos pensado apropriadamente acerca das fontes de uma genuina “Auto-aprovação”??

Ou podemos notar que, quando nós pusermos o melhor da nossa “consciência” em prática, ou enfrentar uma verdade desconfortável com coragem, ou tomar responsabilidade pelas nossas acções, ou não ficarmos calados quando sabemos que a situação a isso obriga, ou recusarmos a trair as nossas convicções, ou perseverarmos mesmo quando perseverar nao é fácil – a nossa “Auto-estima” cresce e se fortifica!! Nós podemos notar que, se e quando, fizermos o contrário, a nossa “Auto-estima” se erode! Mas, é preciso realçar que, todas essas observações implicam que tenhamos escolhido “viver e sermos conscientes”!

No mundo do futuro, às crianças serão ensinadas a dinâmica da “Auto-estima” e o poder de viver “conscientemente” e ser “auto-responsável”! Elas serão ensinadas o que “Auto-estima” é, porque ela é importante e de que factores ela depende! Elas irão aprender a distinguir entre uma “autêntica Auto-estima” e “Pseudo-auto-estima”! Elas serão conduzidas a adquirir estes conhecimentos porque se terá tornado aparente, virtualmente a toda a gente, que “a habilidade de pensar, aprender e responder confidentemente à mudança, é o nosso meio básico de sobrevivência” !! E que isto não pode ser falseado, adulterado ou manipulado!!

O propósito da escola é de preparar a juventude para os desafios da vida adulta. Eles precisarão entender estas matérias para que estejam adaptáveis a uma era de informação em que a “Auto-estima” terá adquirido um estatuto de “urgência”! Numa economia global altamente competitiva, com todo o tipo de “mudanças” acontecendo de forma cada vez mais acelerada, existirá pouco “Mercado” para a “incosciência”, “passividade” e “falta de auto-confiança”! Em linguagem de negócios, “baixa auto-estima e descuidado exacerbado, põem alguém em desvantagem competitiva”!

Contudo, nem professores em geral, nem “professores de auto-estima” em particular, podem fazer o seu trabalho apropriadamente, ou comunicar adequadamente a importância do seu trabalho, até que eles percebam a “íntima relação” entre as seis (6) práticas acima descritas, auto-estima e a devida adaptação à realidade.

“O mundo do futuro” começa por perceber isto!!

(Se finie…………….)

22 maio 2009

“Auto-Estima” – Building it!

Na sua obra “Os Seis Pilares da Auto-Estima”, Nathaniel Branden examina as 6 (seis) práticas que considera essenciais para o “desenvolvimento” e “sustentabilidade” de uma saudável “Auto-estima”: a prática de viver “conscientemente”; de “se aceitar a sí próprio”; de “responsabilidade”; de “auto-confiança”; de viver com “sentido de propósito”; e de “integridade”!

O que seriam, então, estes “Pilares da Auto-estima”!?!

1) A Prática de Viver Conscientemente: respeito pelos “factos”; estar presente naquilo que fazemos, enquanto o fazemos; procurar, estar atento e aberto à qualquer informação, conhecimento, e “feedback” que esteja relacionado com os nossos interesses, valores, objectivos e projectos; procurar perceber não só o mundo “externo”, como também aquele que habita dentro de nós, de modo que nós não actuemos de “cegueira própria”.

2) A Prática de se Aceitar a sí Próprio: a vontade de possuir, experimentar e tomar responsabilidade dos nossos pensamentos, sentimentos e acções, sem evasão, negação, recusa e também, sem auto-repudiação; dar-se a sí próprio a permissão de pensar seus pensamentos (passe a tautologia), experimentar as suas emoções, e olhar para as suas acções sem necessariamente gostar delas, endorsá-las ou condená-las; a virtude do “realismo” aplicada a si próprio.

3) A Prática de “Auto-Responsabilidade”: perceber que nós somos autores das nossas escolhas e acções; que cada um de nós é responsável pela vida e pelo bem estar e realização de nossos objetivos; que, se nós precisamos da cooperação de outras pessoas para materializar os nossos objectivos, nós devemos oferecer “valores” (não necessariamente monetários) em troca; e que a questão não é: “A quem responsabilizar?”, mas sempre, “O que deve ser feito”? “O que eu devo fazer”?

4) A Prática de “Correcção” e “Auto-Confiança”: sermos autênticos nas nossas relações com os outros; tratarmos os nossos “valores” e “pessoas” com respeito e decência em contextos sociais; recusar-se a “adulterar a realidade” de quem nós somos ou o que estimamos, de modo a evitarmos desaprovação; a vontade de nos levantarmos por nós próprios e nossas ideias, de modos e em contextos apropriados.

5) A Prática de Viver com “Sentido de Propósito”: Não só identificar os nossos objectivos e propósitos a curto e longo prazos, mas também delinear as acções necessárias para os alcançar (formular um plano de acção); comportamento organizacional em prol desses objectivos; acção de monitoria para ter a certeza que tudo decorre conforme o planificado; e fundamentalmente, prestar atenção aos resultados, de modo a reconhecer, se e quando nós precisamos de rever os nossos planos.

6) A Prática de “Integridade Pessoal”: viver em congruência com o que nós sabemos, o que nós professamos e o que nós fazemos; dizer a verdade, honrar os nossos compromissos, “exemplificando em acção” os “valores” que nós “reivindicamos admirar”!

O que todas estas práticas têm em comum é o “respeito pela realidade”. Todas elas envolvem na sua essência, um jogo de operações mentais (que, naturalmente, têm consequências no mundo externo).

Quando nós pretendemos “nos alinhar com a realidade”, da melhor forma que a compreendemos, não só desenvolvemos, como também fortificamos a nossa Auto-estima! Quando, ou por medo ou por desejo, pretendemos “escapar/fugir” da realidade, nós prejudicamos a nossa “Auto-estima”. Nenhum outro factor é tão importante ou básico que a nossa relação cognitiva com a realidade ou seja, para com aquilo que, de facto, existe!

Quando a “consciência” não pode confiar em sí própria, em face ou como consequência de “factos desconfortáveis”, ela tem a “política” de preferir “cegueira” em vez da “visão”! Uma pessoa não pode se respeitar a sí própria quando frequentemente, em acção, trai a sua consciência, o conhecimento e as próprias convicções. Esta pessoa há-se ser alguém que age “sem integridade”!!

Deste modo, se nós formos “cerebrais” nesta área, entenderemos que “Auto-estima” não é uma oferta gratuita da natureza! Ela precisa de ser cultivada, tem de ser adquirida. Ela não pode ser adquirida por se beijar a sí próprio na imagem reflectida no espelho, dizendo: “Bom dia, Mr. Perfect”! Ela não pode ser alcançada por sermos regados com montes de elogios! Nem por conquistas sexuais! Nem por aquisições materiais! Nem por realizações académicas ou profissionais nossas ou de nossos filhos! Nem por um hipnótico plantando em si a ideia que ele é maravilhoso! Nem por permitir que jovens acreditem que sejam melhores estudantes do que realmente são ou sabem mais do que realmente sabem!

Adulterar ou ignorar a realidade não é um trajecto recomendável para a “sanidade mental” ou autenticidade da “auto-confiança”! Da mesma forma que muita gente pretende enriquecer sem qualquer esforço, tambem muita gente há, que sonha em adquirir “Auto-estima”, sem qualquer esforço! E, infelizmente, o mercado anda cheio de indivíduos desta estirpe!!

As pessoas podem ser inspiradas, estimuladas, ou ensinadas a viver mais “conscientemente”, a praticar uma maior “aceitação de sí próprios”, a operar mais “responsavelmente”, a funcionar de forma “correcta e auto-confiante”, a viver com “sentido de propósito” e a ter um alto senso de “integridade pessoal” em suas vidas! Mas, a missão de generar e manter estas práticas recaem exclusivamente em cada um de nós! “Sozinhos”!! Ninguém – nem mesmo os nossos parentes, nossos amigos, amantes, psicoterapeutas, nosso grupo de suporte, o “partido”, o Presidente da República, etc – pode “nos dar” a tão propagada e inflacionada “Auto-estima”!

Se e quando nós entendermos isto, será o primeiro acto de “acordarmos” e começarmos a “longa jornada” para uma maior e duradoira “Auto-estima”!

21 maio 2009

"Auto-Estima": A Definition!!

Dentre vários Autores, Nathaniel Branden é um daqueles “Scholars” que tem dedicadas mais de 4 décadas, no estudo, ensino e disseminação, de forma bastante compreensiva, do que anda à volta deste “complexo” conceito de “Auto-estima”!!

Segundo este autor, “Auto-estima” é uma experiência. É um modo particular de nos experimentarmos a nós próprios. Ela não é um mero “sentimento”, mas algo mais sério, mais complexo!! Ela envolve componentes emocionais, cognitivas e de avaliação! Ela também envolve uma certa disposição para a acção, como por exemplo: para viver a vida, em vez de “fugir” dela; viver com “consciência” do ambiente envolvente, em vez de se alhear a ele; para tratar os “factos” como eles realmente são, em vez de pura e simplesmente os ignorar ou refutar; para “agir responsavelmente”, em vez do contrário!!

O que seria então, por definição, “Auto-estima”??

“Auto-estima” é a disposição de experimentar-se a sí próprio como “competente” para lidar com os desafios básicos da vida e de ser merecedor de “alegria” e “satisfação”. É a “confiança” na eficácia da nossa mente, na nossa habilidade de pensar. Por extensão, seria a confiança na nossa habilidade de aprender, fazer escolhas e decisões apropriadas, e responder efectivamente à “mudanças”! É também a experiência de que sucesso, realizações, satisfação – alegria – são certos e nossos direitos naturais. O “aspecto de sobrevivência” de tal “confiança” é óbvio; também o é, o perigo, quando “ela” não está presente!

“Auto-estima” não é a euforia ou vaidade temporariamente induzida por uma droga, elogio, ou uma relação amorosa! Não é uma ilusão ou alucinação! Se ela não está fundada em “realidade”, se ela não for construída ao longo do tempo através de uma operação adequada da mente, então, ela não é “Auto-estima”!

A raíz da nossa necessidade por “Auto-estima” é a necessidade de uma “consciência” para aprender a confiar nela (consciência)! E, a raíz da necessidade para aprender tal “confiança” é o facto de que “consciência” é algo deliberadamente “intencional”, que pode ser escolhido de acordo com a nossa vontade: nós temos a chance de pensar ou de não pensar! Nós controlamos o “comando” que torna a "consciência" mais brilhante (esclarecida) ou mais ofuscada! Nós não somos “racionais”, ou seja, “focados à realidade”, automaticamente! Isto significa que, aprendermos a operar a nossa mente de um modo em que nos tornemos relevantes à vida é, em última instância, uma função das nossas escolhas ou opções! Será que nos predispômos à “consciência” (dos factos, da realidade, do ambiente circundante) ou ao contrário? Da “racionalidade” ou o contrário? Da “coerência” e “clareza” ou o contrário? Da “verdade” ou o contrário??

“Auto-Estima” da Frelimo!! - Preâmbulo

Num processo recorrente de uso abusivo de “termos” e “expressões”, que ninguém explica, ninguém pede esclarecimentos do que se trata e, o que considero grave, ninguém se preocupa em procurar perceber pelos seus próprios meios, vêmos esta “expressão” inundar todos os cantos, meios de comunicação e discursos políticos, neste país!!

Devemos ter Auto-Estima”, é a palavra de ordem!!

Mas será que a minha avó lá em Changalane, o meu tio em Vandúzi ou o meu irmão em Mandimba sabem o que é esse “bicho” intitulado “Auto-estima?? E, citando Leonel Magaia, não estarão, todos eles, a perguntar (nestas presidências-abertas): “Come-se”??
Os que não se cansam de difundí-lo aos “quatro ventos” e nós, supostamente mais informados, sabemos o que, de facto, é “Auto-estima”? Como é que ela se constrói?? Quais são os factores que a afectam??

Este é um tema que, vos adianto, controverso!! Desde a sua introdução no léxico inglês, no longíncuo ano de 1657, presumivelmente por John Milton e, o seu subsequente uso e exploração por estudiosos e autores do campo da Psicologia e Filosofia, muitas interpretações e abordagens têm surgido!!

Mais do que “certezas” ou “polémica”, esta, tanto quanto outras postagens patentes neste blog, pretende “aprender” e “procurar perceber”, “o que realmente significa” ou “o que entendem significar” os proponentes da tão propalada e inflacionada “Auto-estima”!?!

18 maio 2009

O próximo Presidente de Moçambique, que se Cuide!!


Não vamos aceitar uma "performance" pós-eleições, inferior a esta!!!

15 maio 2009

Leopoldo de Amaral: Moçambique sem avanços em direitos humanos

É o exemplo típico do jovem esclarecido em direitos humanos, democracia e desenvolvimento. Sabe discutir problemas do seu país, Moçambique, passando pela África, desembocando numa esfera maior: o resto do mundo. Seu nome é Leopoldo de Amaral*. Guindou-se, por mérito, à ribalta da vida académica, intelectual e profissional. Formado em Direito e especializado em Direitos Humanos, hoje, trabalha para a Open Society Initiative for Southern Africa, com escritórios na África do Sul. O blog bantulandia convida-o em discurso directo, para falar sobre a situação de direitos humanos em Moçambique:

Bantulândia – Moçambique regista altos níveis de corrupção, relatados pela Transparência Internacional e órgãos locais. Então, qual é a relacão entre corrupção e violação de direitos humanos?
Amaral - A corrupção é um dos principais constrangimentos ao desenvolvimento de um país. Em Moçambique, ela afecta a implementação das políticas e planos de desenvolvimento e afecta negativamente a provisão de serviços públicos ao cidadão, assim como a competitividade do Estado no plano internacional.
Assim, fomentar ou ser complacente com a corrupção é negar o direito à educação para as crianças, a segurança (uma das razões para o elevado índice de criminalidade), o acesso à saúde e outros direitos sociais. Por isso, a maioria da população moçambicana empobrece cada vez mais. Os países mais transparentes, responsáveis e menos corruptos são os mais justos e equitativos para com os seus cidadãos.
Moçambique, por ser um país em vias de desenvolvimento e dependente de ajuda externa, devia ser um exemplo na gestão dos recursos e coisas públicas.

Bantulândia
- Em que áreas de direitos humanos Moçambique avançou, desde 1990?
Amaral - Eu diria que, no geral, Moçambique avançou apenas no campo teórico, com as reformas legislativas e ratificação de vários tratados internacionais, mas claudica na sua implementação. Ratificamos vários tratados internacionais e temos leis bonitas, mas não há implementação.
Se tivesse que destacar uma área específica diria que houve progresso na abertura e liberalização do sector de comunicação social (Imprensa). Há uma diversidade de empresas de comunicação social, mas, infelizmente, tal não se traduz ainda no debate franco, despolitizado e na pluralidade de idéias. A auto-censura ainda é uma prática bastante reportada em Moçambique principalmente quando se trata de assuntos “quentes” (envolvendo as mais altas figuras) do Estado.
Ironicamente, apesar de haver uma diversidade da Imprensa tal não se traduz na liberdade de expressão (casos da censura nos órgãos públicos de comunicação social) e livre acesso à informação. Não existe uma lei que regule o acesso à informação pública e as fontes de informação.

Bantulândia
- Quais as áreas de direitos humanos que menos avançou, desde 1990?
Amaral - No campo da segurança, nomeadamente no Policiamento e Serviços Prisionais. A falta de um apetrechamento técnico e material da Polícia faz com que esta seja uma fonte de violação de direitos humanos.
A privação da liberdade de qualquer suspeito é usada pela Polícia como regra por falta de capacidade para investigar, embora a própria Polícia saiba que apenas deve restringir a liberdade de qualquer cidadão em caso de flagrante delito. Esse fenómeno contribui para a superlotação das cadeias, razão pela qual, vezes sem conta, os reclusos morrem por asfixia e por contração de doenças.
Mas não devemos apenas culpar a Polícia por tais práticas, mas sim quem devia dotá-la de tais apetrechos materiais e técnicos. A questão da profissionalização da Polícia de Investigação Criminal e do necessário apetrecho material tem que ser endereçado. Nas condições em que se encontra a Polícia as violações dos direitos do cidadão continuarão a ser o padrão por muito tempo. A vulnerabilidade material da Polícia e a corrupção no seu seio fazem com que ela se torne muito violenta e, por conseguinte, não dando garantias de poder ser o garante da lei e ordem.
Há a notar que o investimento que está sendo feito no Judiciário não está a ser acompanhado na Polícia. Os juízes estão cada mais profissionalizados e com maiores apetrechos materiais, mas os policias não, principalmente os que tem que investigar crimes. Apesar da existência de uma instituição de formação superior de policias, tal ainda não teve o seu impacto positivo no quadro policial e nas suas actividades.

Bantulândia
- O Estado moçambicano ainda não ratificou o Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC), quando a Constituição da República de Moçambique, o Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta, a Agenda 2025, Declaração Universal dos Direitos Humanos, Carta Africana dos Direitos Humanos e Povos, os Objectivos de Desenvolviemento do Milénio e outros documentos consagram os direitos nele plasmados.
- Por que o Estado moçambicano não ratifica o PIDESC?
Amaral - É uma grande contradição. O Estado moçambicano nasceu com o objectivo de garantir aos seus cidadãos condições mínimas de vida, habitação, educação e saúde. O PIDESC surge para enfatizar o comentimento dos Estados em garantir tais condições. Digo que é uma contradição pois, muitos de tais preceitos estão plamasdos na Constituição, embora de forma programática, ou seja, como um ideal e sem garantias de justiciabilidade. O PIDESC prevê também a implementação progressiva dos direitos aí consagrados não exigindo dos Estados partes a sua implementação total de dia para noite, pois aqui reconhece-se que nem todos os Estados tem as mesmas condições financeiras para garantir imediatamente o usufruto de tais direitos pelos seus cidadãos.

Bantulândia
- O que é prejudicado em virtude de não ratificar?
Amaral - Ao não ratificar o PIDESC, o Estado Moçambicano passa imagem que não está preparado/interessado em se comprometer perante a comunidade dos Estados, garantindo as condições sócio-económicas para o desenvolvimento dos seus cidadãos. Ao ratificar o PIDESC, o Estado Moçambicano teria a oportunidade de fazer um exercício de introspecção sobre o grau de esforço aplicado no alcance dos direitos socio-económicos do seu povo.
Burundi, Etiópia e Guiné-Bissau são Estados africanos com um Índice de Desenvolvimento Humano e Produto Interno Bruto (PIB) per capita menor que o de Moçambique, mas já ratificaram o PIDESC; assim como Estados não democráticos como a Líbia e a Swazilândia também o ratificaram. Que medo o Estado moçambicano tem de ratificar o PIDESC?

Bantulândia
- Mudando de assunto, como ex-docente da Faculdade de Direito, que propostas avanças para o melhoramento do currícula do curso de Direito em relação aos direitos humanos?
Amaral - O ensino e aprendizagem de Direitos Humanos devia ser introduzido no ensino pré-universitário, à semelhança das disciplinas básicas como matemática e português. Educação em direitos humanos devia fazer parte do processo de formação do Homem.
No ensino superior apenas devia ser aperfeiçoado e especializado para quem optasse por esse ramo. Salvo erro, apenas a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e a Universidade Católica de Moçambique (UCM) leccionam a cadeira de Direitos Humanos, sendo que a UEM prepara-se para introduzir uma especialização nesse ramo.

Bantulândia
- Qual é o nível de percepção de juízes moçambicanos sobre direitos humanos?
Amaral - Moçambique é parte de vários tratados e convenções internacionais que regulam os direitos humanos. Raramente esses instrumentos jurídicos internacionais que fazem parte do ordenamento jurídico nacional são citados quer por advogados e por juizes em foros judiciais. A formação em direitos humanos apenas foi introduzida recentemente na UEM e na UCM. A maioria dos juizes e advogados moçambicanos nunca aprenderam direitos humanos como disciplina razão pela qual não estão abalizados nessa matéria.
Outro factor que inibe o desenvolvimento da cultura jurídica de direitos humanos é o facto de a lei restringir o acesso ao Conselho Constitucional a cidadãos individualmente, ou seja, estes não têm o locus standi para disputar a constitucionalidade ou legalidades de factos e actos practicados contra si. Se tal fosse possível, à semelhança do que acontece na maioria dos Estados, direitos humanos teriam espaço de debate, análise e aplicabilidade.

Bantulândia
- Qual é o balanço que faz dos jovens moçambicanos que já fizeram intercâmbio em direitos humanos no Brasil, com financiamento da Open Iniciative Southern Africa?
Amaral - O balanço é positivo. O projecto iniciou em 2003 e desde lá mais 10 formandos, incluindo entre eles jornalistas, activistas sociais e advogados já beneficiaram da formação.
Como sabe a nivel da CPLP, o Brazil possui a melhor experiência na luta, promoção e protecção de direitos humanos, desenvolvida nos últimos 50 anos. Os formandos hoje emprestam o seu saber em vários departamentos do Estado, na academia, em organizações internacionais e em ONGs.

*Jurista especializado em Direitos Humanos Coordinador-adjunto do programa de Direitos Humanos e Democracia da Open Society Initiative for Southern Africa (OSISA) na África Austral. Ex-docente de Direito Internacional Público e Direitos Fundamentais na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Mocambique.

07 maio 2009

“Unidade Nacional” da Frelimo!!

Este é um país que tem reconhecidamente, pelo menos, 15 “grupos” de línguas nacionais, o que, por si só, espelha a diversidade étnica que o caracteriza.
Desde a independência nacional que temos ouvido, de forma recorrente, a apelos incessantes à “Unidade Nacional”! Este ano, para não variar, este tema é inclusive, um dos pilares para a “campanha eleitoral” deste partido!

A importância desta matéria ou o que cada actor político e nós, o povo em geral, temos feito para a salvaguardar, não é um exercício meramente fonético e não se avalia pelo grau de repetição dessa expressão (Unidade Nacional), mas pela atitude que tomamos no dia-a-dia para abraçar o mosaico etno-cultural que encorpa esta nação e pela nossa prática no “terreno”, rumo a uma “representatividade regional” efectiva e balançada!!

Não precisamos de recorrer a exemplos trágicos da história da humanidade como o genocídio de Ruanda ou a génese de grupos radicais como os “Tamil Tigers” (detentores da "patente" de inventores do “colete explosivo”), para percebermos o que a alienação de determinados grupos étnicos (maioritários ou minoritários) por actores políticos com uma medíocre percepção de “diversidade” e "inclusão", pode originar.

Um estudo pelos nossos historiadores, acerca da “representatividade regional” nos sucessivos “governos” (presidente, ministros, vice-ministros, procuradores, governadores, directores provinciais, administradores, directores distritais, etc) desde a independência nacional, não tenho dúvidas que daria numa boa tese académica!! Esse trabalho que poderia até ser conduzido pelos Órgãos de Comunicação, formações políticas, etc, permitiria “pôr em números” o que de forma esporádica tem sido alertado por vários sectores da sociedade civil Moçambicana!!

Não vamos falar aqui dos tempos em que, até cantos recônditos, lá na “casca da rolha”, tinham Administradores da região sul. Nesses tempos, muitos dos nossos actuais bloguistas ainda andavam de fraldas! Quero vos convidar apenas para uma visitinha à “Administração Guebuza”!
Quem alguma vez leu Machiavelli sabe que aquele estratega político foi peremptório ao afirmar, 5 séculos atrás, que, “o Príncipe deve ter as suas próprias tropas e, em caso algum, deve confiar em milícias de outro Senhor”!!! Falou-se muito de "expurgação" da ala Chissano, limpeza da casa, etc, mas tudo não passa de medidas atinentes à consolidação do poder!

Assistimos à nomeação de um elenco governamental “colorido”, que procurava abarcar várias “sensibilidades”, sendo a “representatividade regional” uma delas! Se “competência” tivesse sido um “critério de peso”, o número recorde de exonerações ocorridas nestes 5 anos, vem refutar esse argumento!!

Quando os cuidados e os detalhes milimétricos já não estão à mão, a cabeça preenchida com inúmeros afazeres e, se de facto, as acções iniciais não foram genuínas, um olhar incisivo aos eventos ocorridos “à posteriori” permite ajuizar sobre esses elementos!! As pré-condições atrás enunciadas costumam ser condimento propício para fazer sobressair, consciente ou inconscientemente, aquilo que em gíria popular se denomina de “veia natural”!!!

Em 99.9% das novas nomeações ministeriais, e, sem exagero, Guebuza previlegiou indivíduos da zona sul, senão vejamos: Erasmo Muhate (Agricultura), Soares Nhaca (Agricultura), Benvinda Levi (Justiça), Oldemiro Baloi (Negócios Estrangeiros), António Sumbana (Juventude e Desportos), Paulo Zucula (Transportes)…………(podemos incluir João Candiane Cândido (Mulher), neste grupo?).

Com esta evidência factual e matemática, eu não discordaria de alguém que aparecesse a dizer que Guebuza tem estado sim, a ser consistentemente regionalista!!

Este argumento volta a ser reforçado (e de que maneira!), quando vemos que recentemente e, numa sentada, Guebuza entrega toda a Alta Magistratura também a indivíduos da mesma região (Tribunal Supremo, Tribunal Administrativo e Conselho Constitucional)!!

Como
sempre, alguns sectores dirão: “Ahh, mas é só um indivíduo que foi nomeado para aquele posto”!! Têm razão quando assim se referem, mas se esquecem de mencionar que esse indivíduo vem com a sua legião tribal, provavelmente seguindo os mesmos critérios do capitão-mor!! A este propósito, outro dia fiquei estupefacto ao ver o pessoal sénior do Tribunal Administrativo presente num seminário sobre “Técnicas de Auditoria” realizado no Hotel Avenida! Essa notícia, que julgo ainda estar no website dessa instituição, permite ter uma amostra de como as regiões deste país andam representadas nas nossas instituições públicas!!

A pergunta é: “Este país só tem quadros da zona sul”??

Num país onde, só a partir do próximo ano é que se perspectiva o início do processamento de salários da Função Pública nalguns distritos, falar de “descentralização” não é apenas um mito, mas uma grande porção deles! O centralismo decisório e a estrutura governativa “top-down” fazem com que a “franja do topo” não só exerça uma tremenda influência no resto da nação, como também se posicione como a principal beneficiária dos recursos do país (altos salários, regalias, ajudas de custo, etc)! Quando essa “franja” é constituída por uma amostra dos segmentos menos populosos (note-se que o camponês de Zavala tem as mesmas dificuldades que o de Molevala) e de uma região “externa” à maioria dos recursos geradores de “riqueza nacional”, os elementos atrás referidos sofrem uma exacerbação com factores exponenciais!!


A noção de “Unidade Nacional”, não se circunscreve apenas às “elites governativas”, mas não há dúvidas que é nelas que o rebanho se inspira, é delas que constatámos atitudes e adoptamos comportamentos!!


Para individuos como eu, que já viveu em grande parte das províncias deste país, invariável e sistematicamente governadas por indivíduos do sul, não me ocorre ter observado ou ouvido falar de atitudes divisionistas ou desreipeitosas das populações para com os seus líderes, apenas porque estes não eram da sua tribo ou região!! “O teu líder é o teu lider”, parece ser o “moto” de grande parte da população deste país!!!


Se são verdadeiros os relatos segundo os quais, a caravana de Rosário Mualeia, aquando da sua governação na província de Gaza, era acompanhada de sonoros “chingondoooo”, “chingondoooo”, dos seus governados e que, quando caiu gravemente doente, em praticamente risco limiar de vida, os seus problemas de saúde não foram resolvidos em clínicas luxuosas de Nelspruit ou Johannesburgo, mas lá na sua terra natal-Mecubúri, situação seguida pela medida de não se alimentar de comida preparada pelos seus administradores distritais quando em visitas de trabalho, então, “Unidade Nacional”, na sua total extensão, é um debate que ainda não começou a ocorrer neste país!! Esse debate precisa de ser feito sem quaisquer tipos de pudor ou medos!! Os bois precisam de ser agarrados pelos chifres!!


Este país tem inúmeros problemas e desafios que exigem um esforço conjunto! E, andar a olhar para linhas étnicas, como critério fundamental para apontar os dirigentes dos vários organismos sectoriais, descurando outros tão importantes como a “competência”, "integridade intelectual e ética", etc, não só é uma enorme distracção, contraproducente, e nos vai afundar cada vez mais e mais, como consequência dos efeitos perversos tanto sociais, políticos, económicos, psicológicos, etc, cada vez mais polarizantes, que vão sendo introduzidos no nosso espectro nacional!!


Este artigo não surge de forma alguma como “catalizador” ou “agitador” às populações das regiões centro e norte deste país para que tomem qualquer que seja a atitude radical!! Antes demais, é dirigido às gentes do sul, para que façam uma introspecção e imaginem se um cenário hipotético em que seus Ministros e altos governantes sejam só makondes, machuabos, masenas, makuas ou majauas, será do seu inteiro e total agrado!!! Mães, esposas e filhos dessas tribos estão a assistir pacientemente às passareles das tribos do sul do Save, há mais de três décadas!!


Somos um país “uno e indivisível” ou então, não somos!! Estes divisionismos e descriminação, venham de quem vierem, devem ser veementemente rejeitados por todos os povos e tribos que habitam esta terra!!


Se a medida de realização de matérias como “pobreza absoluta”, “soberania nacional”, “revolução verde”, “Unidade Nacional”, etc, encontram o seu “cume dos Himalaias” apenas em retórica vazia e desconexa da realidade e da atitude no terreno, então, de uma coisa, todos nós Moçambicanos, podemos ter certeza:


“We are heading to a disaster”!!!


Um abraço fraterno à "Unidade Nacional", integral, efectiva e balançada de todos os povos e tribos que habitam esta nossa terra, Moçambique!!

03 maio 2009

Ria ao Domingo XII

Chefe Nervoso vs Empregado Revoltado (Na ressaca do 1o de Maio)