Desde a independência nacional que temos ouvido, de forma recorrente, a apelos incessantes à “Unidade Nacional”! Este ano, para não variar, este tema é inclusive, um dos pilares para a “campanha eleitoral” deste partido!
A importância desta matéria ou o que cada actor político e nós, o povo em geral, temos feito para a salvaguardar, não é um exercício meramente fonético e não se avalia pelo grau de repetição dessa expressão (Unidade Nacional), mas pela atitude que tomamos no dia-a-dia para abraçar o mosaico etno-cultural que encorpa esta nação e pela nossa prática no “terreno”, rumo a uma “representatividade regional” efectiva e balançada!!
Não precisamos de recorrer a exemplos trágicos da história da humanidade como o genocídio de Ruanda ou a génese de grupos radicais como os “Tamil Tigers” (detentores da "patente" de inventores do “colete explosivo”), para percebermos o que a alienação de determinados grupos étnicos (maioritários ou minoritários) por actores políticos com uma medíocre percepção de “diversidade” e "inclusão", pode originar.
Um estudo pelos nossos historiadores, acerca da “representatividade regional” nos sucessivos “governos” (presidente, ministros, vice-ministros, procuradores, governadores, directores provinciais, administradores, directores distritais, etc) desde a independência nacional, não tenho dúvidas que daria numa boa tese académica!! Esse trabalho que poderia até ser conduzido pelos Órgãos de Comunicação, formações políticas, etc, permitiria “pôr em números” o que de forma esporádica tem sido alertado por vários sectores da sociedade civil Moçambicana!!
Não vamos falar aqui dos tempos em que, até cantos recônditos, lá na “casca da rolha”, tinham Administradores da região sul. Nesses tempos, muitos dos nossos actuais bloguistas ainda andavam de fraldas! Quero vos convidar apenas para uma visitinha à “Administração Guebuza”!
Quem alguma vez leu Machiavelli sabe que aquele estratega político foi peremptório ao afirmar, 5 séculos atrás, que, “o Príncipe deve ter as suas próprias tropas e, em caso algum, deve confiar em milícias de outro Senhor”!!! Falou-se muito de "expurgação" da ala Chissano, limpeza da casa, etc, mas tudo não passa de medidas atinentes à consolidação do poder!
Assistimos à nomeação de um elenco governamental “colorido”, que procurava abarcar várias “sensibilidades”, sendo a “representatividade regional” uma delas! Se “competência” tivesse sido um “critério de peso”, o número recorde de exonerações ocorridas nestes 5 anos, vem refutar esse argumento!!
Quando os cuidados e os detalhes milimétricos já não estão à mão, a cabeça preenchida com inúmeros afazeres e, se de facto, as acções iniciais não foram genuínas, um olhar incisivo aos eventos ocorridos “à posteriori” permite ajuizar sobre esses elementos!! As pré-condições atrás enunciadas costumam ser condimento propício para fazer sobressair, consciente ou inconscientemente, aquilo que em gíria popular se denomina de “veia natural”!!!
Em 99.9% das novas nomeações ministeriais, e, sem exagero, Guebuza previlegiou indivíduos da zona sul, senão vejamos: Erasmo Muhate (Agricultura), Soares Nhaca (Agricultura), Benvinda Levi (Justiça), Oldemiro Baloi (Negócios Estrangeiros), António Sumbana (Juventude e Desportos), Paulo Zucula (Transportes)…………(podemos incluir João Candiane Cândido (Mulher), neste grupo?).
Com esta evidência factual e matemática, eu não discordaria de alguém que aparecesse a dizer que Guebuza tem estado sim, a ser consistentemente regionalista!!
Este argumento
A pergunta é: “Este país só tem quadros da zona sul”??
Num país onde, só a partir do próximo ano é que se perspectiva o início do processamento de salários da Função Pública nalguns distritos, falar de “descentralização” não é apenas um
A noção de “Unidade Nacional”, não se circunscreve apenas às “elites governativas”, mas não há dúvidas que é nelas que o rebanho se inspira, é delas que constatámos atitudes e adoptamos comportamentos!!
Para individuos
Se são verdadeiros os relatos segundo os quais, a caravana de Rosário Mualeia, aquando da sua governação na província de Gaza, era acompanhada de sonoros “chingondoooo”, “chingondoooo”, dos seus governados e que, quando caiu gravemente doente, em praticamente risco limiar de vida, os seus problemas de saúde não foram resolvidos em clínicas luxuosas de Nelspruit ou Johannesburgo, mas lá na sua terra natal-Mecubúri, situação seguida pela medida de não se alimentar de comida preparada pelos seus administradores distritais quando em visitas de trabalho, então, “Unidade Nacional”, na sua total extensão, é um debate que ainda não começou a ocorrer neste país!! Esse debate precisa de ser feito sem quaisquer tipos de pudor ou medos!! Os bois precisam de ser agarrados pelos chifres!!
Este país tem inúmeros problemas e desafios que exigem um esforço conjunto! E, andar a olhar para linhas étnicas, como critério fundamental para apontar os dirigentes dos vários organismos sectoriais, descurando outros tão importantes como a “competência”, "integridade intelectual e ética", etc, não só é uma enorme distracção, contraproducente, e nos vai afundar cada vez mais e mais, como consequência dos efeitos perversos tanto sociais, políticos, económicos, psicológicos, etc, cada vez mais polarizantes, que vão sendo introduzidos no nosso espectro nacional!!
Este artigo não surge de forma alguma como “catalizador” ou “agitador” às populações das regiões centro e norte deste país para que tomem qualquer que seja a atitude radical!! Antes demais, é dirigido às gentes do sul, para que façam uma introspecção e imaginem se um cenário hipotético em que seus Ministros e altos governantes sejam só makondes, só machuabos, só masenas, só makuas ou só majauas, será do seu inteiro e total agrado!!! Mães, esposas e filhos dessas tribos estão a assistir pacientemente às passareles das tribos do sul do Save, há mais de três décadas!!
Somos um país “uno e indivisível” ou então, não somos!! Estes divisionismos e descriminação, venham de quem vierem, devem ser veementemente rejeitados por todos os povos e tribos que habitam esta terra!!
Se a medida de realização de matérias como “pobreza absoluta”, “soberania nacional”, “revolução verde”, “Unidade Nacional”, etc, encontram o seu “cume dos Himalaias” apenas em retórica vazia e desconexa da realidade e da atitude no terreno, então, de uma coisa, todos nós Moçambicanos, podemos ter certeza:
“We are heading to a disaster”!!!
Um abraço fraterno à "Unidade Nacional", integral, efectiva e balançada de todos os povos e tribos que habitam esta nossa terra, Moçambique!!
26 comentários:
Afinal 34 anos depois da independência é tempo para cobrarmos o resultado do processo da "Unidade Nacional". Em Mocambique é mito discutir sobre isto, embora Edson Macuácua, Nuno Amorim e sua companhia nos tenham alertado para comecarmos a discutir com muita seriedade.
Reflectindo!
Os problemas nao desaparecem apenas se nao falarmos deles e nao somos defensores da "unidade nacional" so' pelo facto de repetirmos essa expressao, mais vezes que outras pessoas!
"Representatividade regional" e "inclusao" nos governos pos-independencia ainda sao reveladas pelos "factos no terreno" como "realidade de outra galaxia"!!
Urge transpormos a barreira do "folclore" habitual e debatermos com seriedade estas tematicas!
Abraco!
Há quem enterre a cabeça na areia, assobie para o lado.
Mas também há os raros que a mantêm bem fora da areia.
Mais não digo.
Por decoro.
Abraço.
A discussão sobre grupos etnico-linguisticos e o acesso ao poder politico é sempre dificil de ser começada e dificil de ser consensual pelo conjunto de valores que cada um de nós transporta e nos torna suspeitos por assumirmos a posiçao A ou B.
Gostaria de questionar se 30 anos depois de irmos a URSS, RDA, Cuba, Portugal, RSA, Ribaué, 25 de Maio, Tangará, Self, Maxaquene, Mtelela, Chaimite, Sacudzi, entre outros, será que a nossa base de interpretação é unicamente etnico-linguistica??
Será que após trinta anos de casamentos, nascimentos, desterros, reeducações, SMO, SNE, afectações, colocações, entre outras práticas vividas, a nossa representação é unicamente etnico-linguistica??
Será que ser natural de uma determinada provincia ou localidade faz de nós dignos representantes deste local ou provincia no governo ou nos circulos do poder??
Eu sou suspeito para falar deste assunto porque sou natural da Zona Militar na Cidade de Maputo, filho de antigos combatentes naturais de Inhambane. Mas a minha consciencia de moçambicano convida me a escrever:
1. Tenho uma experiencia de trabalho de 11 anos, sendo 2 na cidade de Maputo (quando estudante) e os restantes nas provincias de Tete, Zambezia e Sofala, com algumas estadias prolongadas em Niassa e Cabo Delgado;
2. das minhas vivências e leituras feitas, arrisco me a afirmar que a discussão sobre etnia e acesso a poder é uma discussão das lideranças de vários grupos de interesse que usam a etnia como instrumento de manipulação e de desqualificação de uns e outros;
3. esta discussão é boa e demonstra que há problemas e devem ser discutidos abertamente;
4. a experiência de governadores a exercerem nas suas provincias de origem fracassou, porque não temos provincias homogeneas em termos de etnia ou língua; nessa altura a discussão tomou o rumo de porquê um lomué dirigir chuabos? porquê um matsua dirigir bitongas e chopes? porquê um macua dirigir macondes? e o assunto pegou outros contornos porque os governadores naturais chegavam e nomeavam um governo provincial composto de directores maioritariamente seus amigos e nem sempre de seu grupo etnico - linguistico;
5. a experiencia de associações de amigos e naturais esclarece esta questão do alcance ao poder, pois estas passaram a ser insignificantes ou pouco activas a partir do momento que suas lideranças foram convidadas a integrarem o governo ou os circulos do poder;
6. a questão da representatividade é mais complexa porque quem nos garante que o sr Y é o melhor representante no governo dos naturais da provincia X ou da etnia W? temos hoje uma ministra M de Mocuba que não satisfaz em termos de representação os seus de Mocuba; Mocuba estaria satisfeita talvez se tivesse o Director Nacional S num posto mais alto;
7. a questão das quotas é extremamente agradável para mim, pois gosto muito de estatística;
8. proponho que se faça uma analise do peso percentual de cada etnia na população moçambicana (são 35 grupos étnico-linguisticos) e apartir daí olharmos as 100 (ou mais) altas entidades que o PR nomeia como uma amostra, as 50 (ou mais) altas individualidades que a PM nomeia como outra amostra, e os 250 parlamentares que nós elegemos como outra amostra, e aí aplicavamos o peso percentual dos nossos grupos etnico-linguisticos.
9. Será que funciona??? Agrada - nos???
10. entra uma nova discussão, e dentro das provincias? como fazer com os administradores e directores provinciais?? aplicamos a mesma proporcionalidade das quotas??? e nos colectivos dos ministros???
11. e tem mais uma nova discussão quem serão os dignos representantes destes 35 grupos étnico linguisticos?? que critérios serão seguidos???
12. será que o Lomué de Namarroi gostará de ser representado pelo Lomué de Molocué? O Chope de Inharrime ficaria satisfeito se representado pelo Chope de Chidenguele?
Xexe
Depois destas questões eu volto a arriscar que o factor hoje de escolha de individuos a nomear obdece outras lógicas como amizade, lealdade, negócios, turma de faculdade, família, amigo de meu grande amigo e camarada, filho ou sobrinho de um camarada de longa data que foi marginalizado nos tempos, entre outras.
A lógica etnico-linguistica é apenas instrumento de manipulação que pode ser usada para construirmos um país melhor, assim como para escangalharmos o pouco que recuperamos depois do grande escangalhamento.
O critério da competencia técnico cientifica entre quadros de carreira num determinado sector, independentemente de serem membros do partido Y ou H agrada me. A experiencia dos Correios de Moçambique no mandato do Dr Benjamim Pequenino é digna de realce.
Vamos apostar em individuos que foram á escola e que fizeram carreira nas suas instituições de trabalho, com ficha limpa. APENAS ISSO!!
Estamos Juntos!!!
Xexe
Arriscaria um palpite simples, um contributo para reflexão, que seria, penso, uma forma leve de "resolver" questão melindrosa, QUE EXISTE, e não vale a pena esconder, escamotear, porque como o gato, o rabo ficaria de fora...
«Transferência da Capital de Moçambique para o Centro-Norte».
1 - Quelimane;
2 - Nampula;
3 - Beira.
E por esta ordem.
Os nomes aventados não devem ser tomados à letra, mas sim como zona de implantação, influência...
A criação de uma capital de raiz como fez o Brasil, julgo não ser possível em Moçambique, dada a situação económica do país.
Ademais, a irracionalidade «actual» da localização da Capital no extremo do país, é constrangedora, inibidora, castradora…
E as razões que levaram à sua aí edificação estão “ultrapassadas”, e, salvo melhor opinião, razões actuais há que aconselham, a sua transferência para bem longe daquela fronteira…
Por motivos óbvios,
e acima de tudo, e principalmente, pelo que a sua relocalização no Centro-Norte
induziria.
Caro Umbhalane!
Falar em "unidade nacional", apoiando-se em "dados concretos", ainda continua sendo um "tabu" dos grandes!! Ninguem discute, mas nao ha' duvidas que estas coisas estao la' no terreno e vivemo-las no nosso dia a dia!!
Ja' vi, a tentativa de iniciar este debate, ser interpretada como o "proprio" atentado a "unidade nacional"! O teu "Há quem enterre a cabeça na areia, assobie para o lado." descreve bem esse tipo de atitude!
Ao "anonimo", vai aqui um abraco pelo seu comentario!
De facto, "unidade nacional" e, confirme referi na postagem, e' um debate que precisa de ser iniciado! Porque esse debate nunca foi feito, ja' existe uma "catalogacao" previa que, conforme referes, causa "suspeicao" de alguem tomar a posicao A ou B! A pergunta que faco, seria "quais sao essas posicoes de que falas" e que "causam suspeicao"? Seria suspeicao em relacao a que?
O debate precisa de ser iniciado e cada um aparecera' com as suas "premissas"! Tem que se comecar de algum ponto e o confronto de ideias sera' "moderado" e "modulado" pela sensibilidade que cada um tras a mesa!
A "indagacao" que faco "as gentes do sul" e' propositada! E' propositada porque quando se fala em "representativida regional", seja no governo, instituicoes publicas,etc, esse discurso nao faz parte do seu "menu" de preocupacoes (se estiver errado, que me elucide)! E isso deve significar alguma coisa....
Vou discordar completamente de ti, quando fala de URSS, SELF, etc, como medida de avaliacao da "unidade nacional"! Penso que nao e' o facto de frequentarmos os mesmos locais, que vai necesariamente nos tornar um "povo unido"! E' a forma como nos olhamos e nos tratamos uns aos outros!! Em que, no nosso processo decisorio, as linhas etnicas nao facam parte dos "criterios"!!
Agora, com tanta evidencia suportando estas materias que estamos a procurar tratar aqui, nao vamos pura e simplesmente retira-la da discussao, porque ela nao e' confortavel ou nao nos agrada!!
Se o "anonimo" acha que os pontos que levanto na postagem, nao tem razao de ser, nao ocorrem na nossa nacao e os factos no terreno nao justificam esta discussao, entao, e' so' dar-me uma "apitadela" e encerramos este "negocio"!
Caro Xexe!
Obrigado pelas excelentes contribuicoes! De facto, ninguem e' "suspeito" de abordar estas tematicas! E e' ate' "interessante" como, a partir da tua proveniencia aches que sejas excusado a te pronunciares e partilhar com os demais, a tua "visao" de "unidade nacional"! Ninguem esta' contra ninguem!! Este e' um debate de todos nos, que acreditamos num Mocambique que seja "inclusivo" e tolerante para a "diversidade", seja de ideias, origem etnica, identificao politico-partidaria,etc.
Trouxe este tema a discussao porque a minha mediocre capacidade de analise e percepcao, me manda dizer que Mocambique ainda nao e' essa nacao!
Em tempos escrevi um artigo intitulado, "O que te faz Moçambicano" .Esse artigo foi pouco ou quase nada discutido, mas ele esta' no amago das materias referentes a "unidade Nacional", aqui a serem tratadas!
Eu me arriscaria mesmo a dizer que, nos ainda nao somos um povo!! Nos pensamos em termos de "grupelhos"! Tudo gira a volta disso! Se sou director, emprego logo o meu "grupelho": familia, amigo de infancia, membro do meu partido,etc. Ninguem procede com a ideia de uma "Big Picture" nacional, desinibida de divisionismos e estereotipos! Sermos "Um povo, como motor movido pelo mesmo embolo", e' algo que os factos no terreno insistem em rejeitar!!
E, essa atitude nos torna como se de "inimigos" (aqueles que nao fazem parte do nosso grupelho) nos tratassemos!
Eu conheco Directores, membros acerrimos da Frelimo, que foram destituidos pura e simplesmente porque foram vistos a falar "num avontade" ou aceitaram levar consigo (no aeroporto), encomendas de "membros da oposicao"! Alguns deles, ate' hoje, se calhar ainda nao sabem das "verdadeiras" razoes por detras da sua destituicao.
Esse e' o "Mocambique real" dos "grupelhos" e demais "microcosmos" fechados! Totalmente Contraproducente!!
Se houvesse a cultura/habilidade de cada individuo, neste territorio, ser valorizado apenas pelas suas "capacidades individuais", como criterio para ocupar um posto qualquer, e houvesse "tolerancia" (principalmente politica), a discussao sobre "unidade nacional" e "representatividade regional", eu nao tenho duvidas, que se "esfumaria por completo"!
O exemplo que das, referente ao Benjamim Pequenino, e' "por demais" ilustrativo! Porque nos nao pensamos como pais, que se deve desenvolver, um individuo da "oposicao" a mostrar excelente desempenho, acaba sendo interpretado como um "perigo" para as ambicoes politicas de quem o nomeou!!
"Pensar Mocambique", precisa-se!
Caro Umbhalane!
Eu penso que a questao de localizacao da capital, ira' ser progressivamente trazida a discussao, a medida que o desenvolvimento economico for sendo fortalecido.
Um politica de "rotacao" e' favoravel ao "desenvolvimento" das varias regioes do pais! Mas precisamos de ter fundos "proprios" para mobilizar este tipo de iniciativas!
O meu argumento é em 30 anos, as várias nomeações ocorridas para os vários postos governamentais obedeceram a vários critérios e não exclusivamente a etnia ou a região. Inclusive a nomeação de pessoas oriundas do sul do país não obedece única e exclusivamente ao critério etnia ou região.
A discussão sobre unidade nacional é muito IMPORTANTE e necessária para a construção de um país mais agradável. Se ainda tivéssemos uma UFICS ou um CEA (virado a uma agenda nacional) deveriam ser estimuladas as pesquisas sobre esta temática.
Quando falo de posição A ou B, falo de tribalista ou nacionalista, reaccionário ou revolucionário, correcto ou incorrecto, tradicionalista ou modernista, retrógrado ou progressista, entre outras dicotomias que nos reduzem a visão multicolor da realidade.
A representatividade regional é importante sim, e ela deve ser seriamente debatida. Coloquei antes muitas questões e hipóteses porque não tenho conhecimento profundo de um país africano com tantos grupos étnicos, ou tantas regiões (se é que são homogeneas) que tenha resolvido a questão da representatividade regional. A Nigéria talvez com o federalismo tenha minimizado, mas tinha que ler mais sobre o assunto.
Quanto á proposta de mudança de capital, é daquelas decisões arrojadas e feitas por HOMENS determinados e visionários. Não sei se temos alguns nas nossas classes politicas dos próximos 10 anos. Não sei. Eu gostaria de ver o Parlamento em Mocuba e isso é possível.
Vamos discutir e vamos trocar ideias!!!
Xexe
"A criação de uma capital de raiz como fez o Brasil, julgo não ser possível em Moçambique, dada a situação económica do país."
"Mas precisamos de ter fundos "proprios" para mobilizar este tipo de iniciativas!"
De acordo.
Mas nas cidades citadas, já há infraestruturas criadas.
A transferência da capital nunca seria de encarar como uma mera despesa,
mas sim como um tremendo INVESTIMENTO alavancador da economia do País, mormente todo o grande Centro, e por arrastamento o Norte, lá longe...
Um mundo de novas oportunidades surgiria...
A letargia actual seria quebrada, estou em crer.
As consequências, as sinergias desse acto, por si só, seria um sacudir vigoroso a nível social, quiçá a exaltação da unidade nacional em torno de um projecto novo, palpável, concreto.
Um sinal poderoso.
Caro Xexe!
Indo de forma mais precisa ao teu primeiro comentario, eu diria que a via nao deve nunca, ser guiada por "mecanismos institucionais" visando a "regulacao" da "representatividade etnica", em qualquer que seja a instituicao publica! Como bem dizes, isso seria complexo e potencialmente problematico!
No entanto, ha' situacoes que podem ser "reguladas", em termos de "regioes" ou "provincias", assegurando-se que todos os envolvidos sejam submetidos aos mesmos "criterios de avaliacao".
O caso das admissoes a UEM, e' uma experiencia digna de realce! Mazula introduziu a partilha das vagas, por todas as provincias. Nao sei se e' "igual por todos" ou e' tomado algum tipo de "proporcionalidade" relacionada a populacao estudantil, etc!
A "justica" de um criterio e' assegurada pela sua "racionalidade" e "percepcao dos seus mecanismos" pelos seus "utentes" ou "beneficiarios".
Neste caso da UEM, pode se falar em "quotizacao", mas o "criterio" aqui subjacente e' a "qualidade" e "competencia" de cada um, assegurando-se que haja "igualdade de oportunidades". Os "primeiros" em cada provincia e' que serao aprovados, independentemente se sao da tribo X ou Y, do partido H ou K, da cor δ ou λ.
E' isto que se pede para os restantes extractos da sociedade! Que se valorize o "desempenho", a "competencia" e que comecemos a aproveitar as contribuicoes que cada um tras a mesa, "por Mocambique", "por Mocambique"!
E' preciso que haja um "objectivo" e "projecto" nacionais, isentos destas "barreiras" (partidarias, etnicas), que a "realidade no terreno" nos sugere existir!!
Eu penso que o "gridlock" que caracteriza a nossa "esfera politica", tem um grande "Q" de responsabilidade a este respeito!!
Nao acredito que as pessoas sejam intrinsicamente tribalistas ou regionistas........
Caro Xexe,
E' curioso que escrevi o anterior comentario, sem ter antes lido o teu ultimo comentario!! E, pode ate' parecer que ja' te estivesse a responder, hehe!
Mocambique deve ser dos paises com mais etnias e tribos em Africa (e, se calhar, no mundo) que, olhar a coisa por essas "linhas" e' deixar tambores de gasolina ao lado de todas as fogueiras que se acendem pelo pais a dentro! Isso e' que torna esta questao "sensivel"!
Concordo contigo que nestes 30 anos, haja "criterios" para nomear os dirigentes governamentais! Se nao houvessem, seriamos um pais de loucos, hehe! No entanto, e, apoiando-se na "extensa" diversidade etnica que nos caracteriza, o facto de uma "infima porcao" destas (etnias, tribos), ser presenca habitual nas hostes governamentais pos-independencia, oferece-nos uma "variavel" importante a nossa analise! Eu vejo uma "desproporcionalidade" enorme e evidente, associada tambem a sua elevada "frequencia" de ocorrencia!! Bom, isso tudo sugere que este seja um "elemento importante", no conjunto de "criterios" eventualmente considerados! O amigo Xexe, na sua percepcao, o que ve??
Obrigado pela explicacao que da' sobre a posicao A e B. De facto, nao tinha percebido!
Um abraco
Grande Umbhalane,
Eu nao discordo de uma linha sequer do teu ultimo comentario! Na realidade, partilho totalmente da visao que elucidamente expoes!!
Nestes casos, o que se faz e' "programacao"! Daqui ha' sei la' 5, 10, 15 anos, a capital passara a ser no sitio X! Brasilia foi construida do "zero"! No nosso caso e, como dizes, ja' existem infraestruturas! O que seria necessario e' o seu reforco "estudado", novos investimentos para a sua expansao, localizacao do futuro corpo diplomatico, etc.
Este tipo de iniciativas, despoletam uma verdadeira revolucao! As novas industrias na regiao a volta, instituicoes de ensino, vias de acesso, etc, e a nossa propria percepcao de pais, muda no seu todo!!
E', de facto, algo em que deves pensar mais a serio!!
Abraco!
Umbhalane,
"E', de facto, algo em que DEVEMOS pensar mais a serio!!"....queria dizer!!
Fico feliz que o prof. Elisio Macamo tenha encontrado motivos suficientes para dedicar uma "postagem" no seu blog, referente a este Artigo!
Fico tambem feliz porque ele concorda que estas tematicas fazem parte habitual na discussao do "pais real"!
Mas o prof. Macamo se recusa ir ao "amago" da questao! Ele prefere ser "avestruz", como o Umbhalane indica num dos primeiros comentarios a esta postagem!! E, fa-lo de diversas maneiras:
1)Demonizar o meu discurso: o prof. Macamo centra grande parte da sua "interpelacao", na questao "Ruanda"! O seu "esforco" tende a procurar "garantir" que o meu discurso, nao roga outra coisa, senao a "destruicao" do "Sul"! Esta e' parte da estrategia para "rejeitar" o debate destas questoes cruciais as aspiracoes de longo prazo, desta nacao. Fingir que "esta' tudo bem" e nao fazer nada para mudar este cenario de coisas, que o proprio Macamo refere que tem sido alertado por varias pessoas, e' um condimento para criar mais "Ruandas"! Hoje o "sul" esta' no poder, amanha e' o "norte" ou o "centro"! Da mesma forma que vemos hoje a total sulizacao das Instituicoes publicas (que Macamo nao mexe), amanha os outros podem querer fazer o mesmo! E' isso que "alerto", e' isso que "rejeito" e nao quero que ocorra no nosso Mocambique! Isso passa necessariamente, por atacar os problemas pela raiz! A realidade no terreno e' suficiente clara, que eles de facto existem!
2) Rejeitar "numeros": eu sei que os "cientistas sociais" sao terrivelmente "aversos" a "Matematica"! Nao e' por acaso que "probabilidades e estatistica" era o grande "bico de obras" la' na extinta UFICS! Mas, nao e' por ai que os "numeros" passam a nao servir para nada!! Quer queira quer nao, a "estatistica" e' um instrumento indispensavel para reflectir a "realidade", independentemente do campo disciplinar que estiver a ser tratado! Macamo, pura e simplesmente "rejeita" os "numeros"! Falar da "representatividade regional" no Governo e Instituicoes Publicas conforme os factos no terreno nos indicam, e' algo que Macamo nao se atreve a mexer!! Mas e' ai onde esta' o "amago" da questao!
3) Problemas de Leitura: em nenhum momento afirmo que Rosario Mualeia foi destratado em Gaza! Tive esse cuidado ao anteceder esse excerto com a expressao "A SER VERDADE QUE..."! O que Macamo chama de "anedotas" e' algo que me foi descrito por alguem que esteve proximo a administracao Mualeia. E' um relato "perturbador" ou que devia perturbar a todo o Mocambicano! Como um lider e' percebido em cada regiao, e' um debate que eu julgo pertinente, para refinarmos a nossa propria percepcao de pais! Esse exercicio e' importante para a esta tao almejada "unidade nacional"!
Quem le esta postagem e o debate que aqui estamos a ter, percebe que nao existe qualquer tipo de hostilidade. Construtivamente, estamos a abordar questoes complexas, mas importantes para a nossa Mocambicanidade! Temos que deixar de ser avestruzes e olharmos para os problemas como a realidade nos transparece. O debate precisa de ser feito, seja ou nao confortavel as nossas proprias conviccoes!!
Sulização das instituições publicas. Há que perceber porquê esta sulização. Há que analisar a origem dos quadros que se beneficiaram de bolsas de estudo ou outras oportunidades para estudar dentro e fora do país no pós independência. A geração que ta no poder hoje é a que tinha 10 a 15 anos em 1974. Há que mapear os liceus existentes e a origem dos alunos. Há que investigar a origem dos que avançaram a Cuba em 1977/8. Há que documentar a localização das escolas de nível médio no período 1975-1992 e daí ver a origem dos alunos que lá estudaram. E analisar os números de graduados e sua origem nas nossas universidades públicas de 1975 a 2000. Acredito que poderemos perceber o porquê da sulização das instituições públicas. Não foi e não é uma atitude planificada, mas sim uma ausência de uma politica de inclusão e promoção por via da origem étnica ou provincial. Gostaria de saber se entre os madgermanes que foram enganados pelo governo, a maioria não é do sul?? Gostaria de saber se entre os enviados á operação produção ou aos centros de reeducação a maioria não é do sul??
Eu creio que esta sulização será reduzida gradualmente com o aumento de oportunidades de formação ao nível provincial e com as quotas criadas nas universidades públicas, contudo aqui referir a questão da qualidade de algumas instituições de ensino superior que estão nas várias províncias. Dentro de 5 anos ou mesmo teremos licenciados de algumas destas escolas muito revoltados porque um licenciado que estudou em Maputo lhes superou num concurso para uma vaga. Veja se o exemplo do CF Jurídica e Judiciaria que admitiu 10 da UEM, 3 do ISPU, 2 da Católica e 1 de Lisboa (a proporção é essa, os números poderão alterar muito pouco) de um total de 78 candidatos, logo dentro de um ano teremos 15 magistrados a caminho dos distritos, sendo maioritariamente donde?
Quando vivia em Quelimane, tinha um grupo de 8 amigos, sendo 1 de Niassa, 2 de Sofala, 2 de Zambézia, 1 de Inhambane e 2 de Maputo. Todos éramos chamados de “machanganes que vieram de Maputo com mania de doutores para virem nos mandar”. De facto éramos técnicos superiores, as nossas residências permanentes eram em Maputo, mas não éramos todos naturais e nem originais de Maputo.
Prefiro entender o problema de representatividade regional como dificuldade no acesso a oportunidades.
P.ex hoje em Maputo e Beira todo licenciado está fazendo planos para voltar á carteira e fazer o mestrado. Dentro de 5 anos as melhores posições serão para os mestres e aí falaremos de …????
Xexe
Estimado Xexe!
Antes dizer que aprecio a sua coerencia e forma de abordar as coisas! Esses condimentos valorizam todo o debate, movido nao de certezas, mas de uma vontade de refinamento das nossas proprias conviccoes! Mocambique precisa disso, se quisermos fazer progredir esta nacao!
O primeiro ponto que me ressalta e' que o amigo Xexe na sua propria analise entende e nao tem medo de reconhecer que existe uma sulizacao excessiva nas nossas instituicoes publicas e organismos governamentais! Muita gente, mesmo apesar da enorme evidencia e "numeros", ainda prefere se evadir destes factos!
O debate flui entao para as "razoes" e "porques" desta ocorrencia. Concordo plenamente contigo que a "desigualdade de oportunidades" entre as regioes pode ser um factor a considerar.
No que concerne a "escola", o acesso ao ensino ficou disponivel a populacao mocambicana, a seguir a independencia! E' verdade que o ultimo ciclo do ensino so' existia nas grandes cidades (Beira, Maputo, Nampula?) e a universidade so' em Maputo, facto que pode ter beneficiado as populacoes circunvizinhas!
Quando chegaram as bolsas para os paises socialistas, penso que houve uma alocacao pelas provincias, de forma mais ou menos equitativa. Conheco gente de muitos locais que se beneficiou delas.
No entanto, e pelo que vejo da sua longa explanacao, o amigo Xexe parece acreditar que haja mais quadros formados da regiao sul, que das centro e norte, associadas, e que isso e' que explica a sua maior proporcao nas instituicoes publicas e governamentais!!
Mas o "perfil" (academico) dos nossos dirigentes, desde a independencia, pode responder a muitas destas questoes!! Se olharmos para os primeiros governos que eram maioritariamente constituidos por antigos combatentes, sera' que a "escolaridade" foi um criterio de peso para apontar ministros, governadores, administradores? Quando e' que se comecou a prestar mais atencao a profissionalizacao do aparelho de estado? Existem criterios para a nomeacao de quadros? Ha concursos publicos?
Se nao ha uma atitude planificada para beneficiar certos sectores, nao se pode refutar o facto destas pessoas estarem a agir em plena consciencia dos resultados de suas accoes deliberadas!!
A nomeacao de quadros publicos tem sido caracterizada por criterios como amizade, camaradagem, filho do amigo, e por que nao, tribo, regiao, etc,. A cadeia se estende nos mesmos moldes, do topo ate' a base!
Veja que eu dei um exemplo recente, baseando-me nas nomeacoes do Governo de Guebuza! Guebuza nomeia so' quadros do sul, porque nao ha' gente formada para alem do Save??
Enquanto as instituicoes governamentais continuarem a ser um "clube de amigos" e nao houver "criterios imparciais" para empregar pessoas baseando-se na sua "competencia" e "integridade", o cenario continuara' a ser este!!
Ha' que pensar o pais como um todo! Estes ciclos de "alienados e previlegiados", com linhas claramente perceptiveis, devem ser eliminados pela raiz! Sao estas coisas que acabam prejudicando as aspiracoes das nacoes!!
O ponto que o Xexe refere ao relacao ao seu circulo de 8 amigos, aquando da estadia e trabalho em Quelimane, merece reflexao!! Porque as pessoas correm a catalogar todo o mundo que vem trabalhar na sua provincia, de machangane?!! Sera por habito de so' verem pessoas desse grupo vir nas mesmas circunstancias?
Como e' a mobilidade de quadros no pais? Existe o percurso ascendente (sul-norte), mas existira tambem o descendente?
Como se ocupam as vagas numa provincia, quando se precisa de um tecnico superior? Valorizam-se os recursos humanos locais ou corre-se a uma versao interna dos "mineiros da Africa do sul"?
Estas sao questoes que ajudam a perceber melhor o que estamos aqui a discutir, como e' que as posicoes sao ocupadas, como e' que a representatividade regional se torna efectiva e balancada.........
Fiquei espantado ao ler o artigo de Elísio Macamo, atacando a Jonathan e o MDM e seus apoiantes. Espantado ainda fiquei porque Elísio Macamo nem quis dar conta os ataques de Edson Macuácua, Nuno Amorim e outros a Daviz Simango, aos Ndaus, Brancos e Sofala. E para se desculpar, penso, Macamo escreveu uma frasinha para dizer que Daviz devia-se ver como engenheiro, político, etc, e não apenas como "sena". Nunca deixaria de espantar-me que mais uma vez Macamo ataca com certa parcialidade a pessoas e não debate o tema e aqui seria "unidade nacional", realidade ou mito? inclusão vs exclusão, equilibrio nacional, justiça e igualdade. Enfim, há muita coisa dentro do texto de Macamo que me espanta, mas não penso que deves te preocupar tanto por isto mas por estes que estão aqui a discutir sobre o tema. O Rildo diz bem se é que o percebo.
Felizmente, para aqui estão pessoas com muita vontade de discutir aquilo que tem sido mito em discutir desde sempre. Nós todos podemos estar errados ao discutir sobre “unidade nacional”, mas uma das causas dos nossos erros pode ser o facto de nunca discutirmos publicamente sobre isso. Talvez seja por assumir-se por dado que toda a gente entende o que é “unidade nacional”, mas também podemos suspeitar que seja por ser um tema muito complexo. Mas se é complexo por simplificá-lo?
Eu não tenho tido algum problema em lançar temas do gênero e em 2002, lancei alguns temas no imensis sobre as assimetrias de desenvolvimento (económico e humano), inclusão e exclusão. Infelizmente depois de todas as mudanças no portal, já não podemos ler o debate em retroactivo. Talvez eu não tenha problemas nisso por em parte ter sido educado onde se abertamente se fala sobre a sociedade multi-culcultural ou multi-racial, integração social, etc. E isso discute-se seriamente, a literatura é rica. Mas detesto teorias para casos destes, prefiro não me concentrar em terras longinquas.
O que me parece, o conceito unidade nacional para muitos e não os menos governantes, significa tolerância entre pessoas de diferentes etnias. Deve ser por isso que em eventos culturais e desportivas se realça a unidade nacional. A ideia é de que as pessoas se encontram e convivem e assim desenvolve-se a tolerância. Claro que esta pode ser uma parte embora não possa ser considerado como tudo quanto a unidade nacional. Os exemplos dados por Xexe, quanto aos encontros em Cuba, no quartel, M’telela, etc, também revelam isso. Ano passado, por exemplo, o Ministério de Educação decidiu que 60% de professores seriam formados fora das suas províncias como forma de fortalecer a “unidade nacional”. Eu problematizei esse projecto que penso custar muito caro ao Estado e se provavelmente ao próprio formando. Ora vejamos, quando se fala de integração se aborda a questão de residência ou habitação, acesso a educação e nas mesmas escolas e não em separadas, à saúde, o acesso ao emprego, à carreira profissional, etc, etc.
Porque a questão sobre a unidade nacional não é discutida também nada é avaliado sobre o que se pensa ser um projecto funciona ou não. Um exemplo é a que foi dado pelo anónimo acima sobre governadores naturais das respectivas províncias. Eu não me recordo que o projecto tenha-se avaliado publicamente. Porém, se os governadores nomeavam um governo provincial composto de directores maioritariamente seus amigos e nem sempre de seu grupo etnico – linguistico, acho que já era um passinho. O que se precisava, era dificultar/desencojarar que o governador nomeasse seus amigos para cargos de directores provinciais, administradores e secretários permanentes, passando esses cargos a se ocuparem por concurso público. Será que depois de se abandonar o projecto, os governadores deixaram de nomear seus amigos ou pessoas afins??? Não me parece, pois sobre esses problemas ainda se fala.
O grande problema é de facto nas nomeações não existir normas nem se baseiar em domínio dos recursos humanos, critéricos meritocráticos, mas em princípios políticos e critérios substantivos... Já se falou do caso Benjamim Pequenino.
Uma outra questão a recordar é o projecto de Mazula quanto à partilha de vagas de ingresso na UEM. Pelo que me lembro, Mazula foi vaiado e por quem? No imensis discutímos muito sobre a questão e muitos a insistir que os admitidos vindos das províncias eram “burros”, mas esses nunca avançavam com as causas que haviam-os reprovado nas provas de admissão. Também não sei se já houve avaliação da prestação desta vaga de estudantes. Qual foi o resultado? Nessa discussão eu defendia que as reprovações eram o resultado das assimetrias de desenvolvimento económico e humano entre as regiões e entre zonas urbanas e rurais.
Xexe propõe o mapeamento de muita coisa que pode nos fornecer material para uma discussão do tema. Concordo plenamente contigo, embora possamos ter dificuldades por razões que sabemos: falta desse material ou compatriotas que não querem nos fornecer com o medo de retirar a auto-estima. Mas aí é onde está o problema central. Ora o caso das liceus, sei que como Jonathan disse, haviam em Maputo, Beira e Nampula. E sem se contar com o seu impacto, logo depois da independência retiraram-se das outras capitais, para ficarem só em Maputo. Pode-se justificar a falta de professores, mas também digo que foi um outro assunto neglegenciado nos Acordos de Lusaka e se até podemos falar de Bagamoyo, pois pelo que fui ensinado, os que pensavam da futura administração do país foram chamados elitistas...
Ganda UmBhalane, concordo com o que dizes e o mesmo já discuti, penso que foi em 2003/4 no Imensis. Há muita resistência nisso. Talvez, como disse o Xexe, não seja com esta geração de governantes... Há coisas possível, que é por exemplo mudar a Assembleia da República para Beira ou Nampula ou uma outra cidade, ou mudar a capital jurídica. Penso que resolveria em alguma coisa o problema das assimetria...
P.S. O Jonathan escreveu que há directores que são demitidos só por terem sido vistos no aeróporto a levarem encomenda de um membro ou simpatizante da oposição, pode ser mais uma anedota. Para quem não é da origem do Norte do rio Save, vulgo, Xingondo é mesmo uma anedota. Mas por favor, acho que há questões que precisamos de desvendar para que procuremos soluções quanto cedo. Alguns casos em que antigos amigos ou colegas da escola ou trabalho, familiares, conterrâneos não falam em público por receio de represálias políticas conheço. A coisa é muito complicada entre o pessoal do centro e norte. Não digo aqui nomes porque é parte de integridade dessas pessoas.
La' nas "outras bandas" o "debate" (se assim se pode chamar) comeca a animar! Mas ninguem quer ir ao "cerne" da questao!! Alias, porque falar de "tribos" (tribalismo), "regiao" (regionalismo), quando de facto, nao passamos de um conjunto de "pedreiros", "carpinteiros", "ferreiros", "artesaos", "tudo-vales", "fugas-pra-frentes", "adios-seringas"?
Reflectindo!
O teu comentario e' uma resenha exaustiva, da complexidade que envolve este tema!
Um ponto importante que focas e' a "avaliacao" subsequente das medidas que teem sido implementadas para tornar esta nacao, mais inclusiva, tolerante e balancada. O estudo dos resultados para depois sugerir "factores correctivos", parece nao fazer parte da nossa "cultura politica"! Se uma medida, aparentemente, "nao funciona", ela e' imediatamente abandonada e poe-se outra em pratica!
A insistencia em criterios baseados em "igualdade de oportunidades", "competencia" e "meritocracia", e' uma nota de registo. Quando assim nao ocorre, dirigentes ha', que (no futuro) aparecerao com medidas de "descriminacao positiva" para "corrigir" erros do passado! Muita coisa pode ser feita "agora" para evitarmos estes ciclos "auto-destrutivos" de "previlegiados e alienados" que, na sua fase de "saturacao" levam a situacoes de "roptura"!
Os que estao a advogar o contrario, devem se "retractar", porque ha' muita probabilidade de estarem a ser instrumentos de perpetuacao destas desigualdades!
Vamos la' discutir Mocambique com honestidade! Tentar "distorcer" factos vividos pelo povo no seu dia-a-dia, pode nao ser a maneira acertada!
Já vi o "debate" nos blogs de Macamo e Langa. Admiro bastante a forma pedagógica da contribuicão do Rildo Rafael. Espero que muito se aprenda dele.
Na minha opinião, todo o cidadão que quer o bem do país, procurará discutir a questão da unidade nacional no contexto de assimetrias, inclusão inclusão vs exclusão, equilibrio nacional, justiça e igualdade. Para mim, o conteúdo da unidade nacional tem que ser conhecido, debatido e implemetando por todos nós. Como eu disse, é algo que discuto livremente.
Olha XEXE, foste o maximo nas tuas analises. Porque, na verdade, dentro da mesma provincia ha heterogeneidade, dentro dos distritos tambem. Entre os lomwes ha heterogeneidade, entre os machanganas tambem. Vc foi o maximo, da vontade de ler o que tu escreves.
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