12 agosto 2009

“O que um Engenheiro Civil pode fazer e o que um Técnico Médio de Construção não pode”???

Esta pergunta deixada no “mural de recados” pelo amigo Ussene é pertinente e, dependendo do ângulo em que a quisermos analisar, alguém poderá classificá-la tanto como “excelente” a “absurda”!! “Cada cabeça, uma sentença”!! Não é como diz o outro?? Mas, vamos lá por partes!!

Antes de mais e, pela “pulsação” que tenho notado, eu gostaria de assegurar “to whom it may concern” que este blog não é contra Técnicos Médios ou “Engenheiros Técnicos” como alguns gostam de se intitular! Este é um segmento profissional importante, para o desenvolvimento deste sector (Construção), em que o país ainda tem muito caminho a percorrer!!

Este aparente “conflito” entre “técnicos médios” e “técnicos superiores”, não se restringe apenas à Construção! Dos meus amigos médicos, juristas, agrónomos, etc, tenho ouvido quase que constantemente, farpas com tons à ostracização, dirigidas aos técnicos médios daqueles sectores! As vezes dá a sensação de haver uma espécie de “tentativa de usurpação de competências”, de parte a parte, daí surgirem perguntas do tipo que o amigo Ussene aqui fez! Vamos lá então, ao cerne da questão!!

Depois da formação, o indivíduo com o diploma na mão, seja “técnico médio” ou “técnico superior”, sabe (ou deveria saber) que “competências” constavam do seu plano curricular e que percentagem delas as terá adquirido na íntegra! Numa postagem antiga aqui neste blog, falei da elaboração de projectos cá em Moçambique e mencionei que, quem controla esse mercado são os "técnicos médios de construção civil". Eu nunca fui aluno de uma escola ou Instituto Industrial, daí não puder falar em nome dessa classe profissional! Tudo o que falo é com base nas minhas constatações no terreno e no tipo de trabalhos que vejo realizados por esses profissionais!

A pergunta que faria a todos os “Técnicos Médios” que eventualmente passem por aqui é: “Será que o Técnico Médio de construção civil está capacitado a elaborar projectos arquitectónicos e estruturais de edifícios? De que tipo de obras? Com que dimensão? O que lhe assegura possuir essas capacidades e competências"??

Falando de mim e olhando para o meu tempo de faculdade, lembro-me de ter tido várias cadeiras de desenho, desde “Geometria descritiva”, “Desenho Técnico”, “Desenho de Construção civil”, “Projecto de Edificios” (nas suas várias componentes), etc, mas será que isso me dá competências de aparecer aqui a dizer que “posso elaborar plantas arquitectónicas”?? Certamente que não!! Independentemente do domínio de programas de desenho assistido por computador como o “Autocad”, “Arquicad”, etc, e do gosto particular de desenhar e conceber coisas, elaborar plantas de edifícios não é a minha praia!! Pelo menos, é assim como penso!! Como disse anteriormente e repito: “Dar a Cesar, o que é de Cesar”!!

Falo aqui concretamente dos “arquitectos”: Essa classe profissional estuda 6 a 7 anos, coisas relacionadas com a elaboração de projectos arquitectónicos! Fazer uma planta não é desenhar essas “caixas de fósforo” que agressivamente nos ferem a vista em todos os cantos das nossas cidades e subúrbios associados! Elementos muito importantes como a estética, integração arquitectónica dos edifícios, iluminação natural, funcionalidade do edifício, hoje cada vez mais importante: a questão ambiental e racionalidade no consumo energético dos edifícios, os custos de manutenção no ciclo da vida da obra, etc, são aspectos que é preciso ter formação apropriada para os poder inserir convenientemente nos projectos!! Os arquitectos são formados para tal e é preciso que cada projectista tenha a decência de não querer esticar a sua perna, mais do que o seu comprimento o permite!!

Se falo de “técnicos médios” e “engenheiros civis” armados em “projectistas”, falo também de “arquitectos” que, sob influência da ganância e do lucro exacerbado querem se armar em “engenheiros estruturais” que é para ficarem com todo o bolo do projecto! Já vi muitos arquitectos acorrendo algumas vezes a mim, para ter noções de utilização de programas de cálculo estrutural como o “Cype” que era para serem eles próprios a calcular as obras que concebiam!!! “Perigoso!! Muito Perigoso!!”

É este tipo de ganância que produz esses profissionais “sabe-tudo” que, ao fim e ao cabo, nada sabem!!

Tal como os médicos, é importante que todo o “projectista” tenha em mente que acima do lucro fácil, a sua actividade envolve “vidas humanas” e “investimentos” de vária ordem, sempre muito elevados!! Existe uma responsabilidade acrescida, para com esta sociedade que nos propomos servir!! É preciso perceber isso com clareza!! É preciso saber que aquilo que concebemos deve servir os seus propósitos, no maior intervalo de tempo possível!! Não é por acaso que outrora, na inauguração de pontes e outras infraestruturas imponentes, o projectista tinha que estar lá embaixo, para que, no caso em que a obra ruisse, ele fosse dos primeiros a sofrer as suas consequências……!!

Mas é verdade que temos que ser pragmáticos e realistas! Em Moçambique, ainda não há técnicos superiores suficientes para cobrir o mercado! Esse mercado continuará a ser controlado por “técnicos médios” por largos anos, independentemente de tudo o que se quiser falar ou regulamentar!! Não se pode dizer que “você pode fazer isto” ou “você não pode fazer isto”, mormente, quando a demanda existente não pode ser satisfeita, de acordo com as condições e limitações existentes no terreno!! O maquinista dos CFM que quer construir sua moradia com as quinhentas que arduamente poupa, continuará a não ter dinheiro para contratar os serviços de um “arquitecto” ou “engenheiro”!! Ele irá inevitavelmente recorrer a um “técnico médio”!!

Daí que, o desafio que se impõe a esta classe profissional é a: “Responsabilidade”!! É preciso que cada “técnico médio” saiba das suas competências e as suas limitações!! É preciso que, em vez de recorrer a um “arquitecto” ou “engenheiro”, apenas para lhe solicitar a assinatura do “Termo de Responsabilidade” do projecto que elaborara (porque senão não passa no Município), que o consulte e se aconselhe enquanto vai elaborando tal projecto!! Que não haja receio ou medo de aprender e melhorar os seus conhecimentos!! É assim que as competências desta classe que, se diga, tem tido sérios problemas na sua formação, irão aumentando e o país que se tem servido dos seus préstimos, poderá sair a ganhar!!!

Cada um, na parte mais superficial da sua consciência e, conforme o diploma que tem, sabe até onde pode esticar a sua perna!! No entanto, o potencial intrínseco de aprendizagem e autodidactismo que nós seres humanos possuimos e muitas vezes está adormecido, é algo que não pode ser limitado por qualquer lei ou norma!! É algo que as pessoas devem ser incentivadas a cultivar (A este propósito de autodidactismo, leia a história de Hamilton Naki)!! But always remember: “RESPONSABILITY”!!!

E, conforme dizia, há Municipios que nem sequer um “engenheiro” ou “arquitecto” têm!! Mas há outros que estão a enrobustecer a sua máquina de recursos humanos! Há outros ainda que já estão a implementar regras rígidas sobre a elaboração e aprovação de projectos! Há Municípios que não aceitam um projecto que não tenha o punho da assinatura de um arquitecto ou de um engenheiro!!!

Essas práticas, a longo prazo é que vão ditar o que um pode ou não pode fazer, a partir daquilo que se entendem ser as competências adquiridas aquando da formação!! “O trigo se irá separando do joio”!! Porque, acima de tudo e, independentemente da “fome” que cada um tem ou traz, o que se quer é o crescimento harmonioso das nossas cidades e a construção de infraestruturas duradoiras, porque só assim é que estaremos efectivamente contribuindo para o desenvolvimento económico da nossa nação!! Este é um sector deveras importante, pela impulsão em cadeia e dinamização que despoleta noutras áreas como materiais, transportes, comércio, florestas, hotelaria, prostituição (porquê não?), etc.

Penso que, em termos gerais, é o que gostaria de partilhar com o amigo Ussene e os demais!!

Abraço e espero ouvir vossas sensibilidades!!!