10 fevereiro 2012

Celebrar Hoje 50 Anos, Obriga a Homenagear Todos os Nacionalistas, Principalmente Aqueles Catalogados de “Reaccionários”!!


Está no seu auge, a celeuma devido a badalada celebração dos 35 ou 50 anos, desde a formação da Frelimo, partido de vanguarda, de orientação marxista-leninista.

Documentação histórica existente, que ainda não foi contestada, assegura que um tal partido, de ideologia comunista só se formou a 7 de Fevereiro de 1977, nas instalações do Clube Militar, em Maputo, o que fazendo os devidos somatórios, totaliza neste ano de 2012, 35 anos da sua existência e não os propalados 50 anos, como se está a papaguear por aí aos 7 ventos.

Mas, perceber o que está a acontecer ou aconteceu, para meia-volta os “números começarem a ser misturados”, obriga a um recuo até essa altura (advento da independência e realização do 3° congresso em 1977) em que os seus proponentes decidiram avançar para a formação do tal partido de orientação marxista-leninista, e entendermos o que ia nas suas cabeças e quais eram os seus objectivos primários.

Nesse prisma, alguns aspectos precisam de ser retidos:

1) Havia consciência que a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) era um amálgama de Nacionalistas, de diversas ideologias políticas e projectos distintos sobre o que seria a Nação a emergir com a independência nacional.

2) Esses nacionalistas se juntaram com o objectivo comum e único de combater o jugo colonial e libertar a terra e os homens.

3) Essa tarefa foi alcançada pelo esforço de todos, incluindo aqueles que tinham uma mentalidade capitalista, os que pregavam ideiais de democracia e pluralidade partidária, assim como os marxistas-leninistas absorvidos no totalitarismo.

4) Essa consciência de “diversidade ideológica na luta” fez com que, ao conquistar-se a independência nacional, ninguém aparecesse a apregoar que a mesma (independência) tivesse sido fruto de uma ala com uma particular ideologia política!

O que aconteceu naquela altura foi que, tudo o que esta ala marxista-leninista pretendia era “arrebatar e consolidar o poder”! Fê-lo inicialmente, exterminando todo aquele que defendesse uma ideologia diferente, catalogando esses mártires, que tanto lutaram por esta Pátria, de “reaccionários”!

Terminada esta fase, até níveis que consideraram “satisfatórios”, é quando se avança para a ideia de “criação” de um partido marxista-leninista. A formação deste partido, surge como um momento de “rotura” com o passado e visava essencialmente:

1) Demarcar-se da Frente de Libertação de Moçambique e das suas várias correntes de pensamento, instituindo uma organização nova, com ideologia própria e marcando um novo início.

2) Expurgar por completo a dita “ala reaccionária”, seus descendentes e todos aqueles que, uma vez activos na Frente durante a luta de libertação nacional, tiveram que se refugiar no estrangeiro para salvaguardar as suas vidas. A ideia central era retirar-lhes qualquer “direito de pertença”, visto que a nova organização guiava-se por uma ideologia marxista-leninista, com que os primeiros, entretanto, não se alinhavam.

Essa rotura não se limitava apenas aos Nacionalistas que catalogaram de “reaccionários”, mas a figuras como o próprio Eduardo Mondlane, pelas razões que mais adiante explico!

Esses propósitos foram conseguidos, e tal era o desejo de se demarcar da Frente, que os aniversários da formação do partido foram sempre efusivamente celebrados, ao ponto de, inclusive, terem sido mandados emitir “selos comemorativos”, devidamente anunciados em Boletim da República, por alturas da passagem do 10° aniversário, em 1987. Nessa altura do “10° aniversário”, todo o mundo estava contente, queria que a data fosse assinalada com “tinta indelével” e fosse lembrada para a posteridade. Isto não foi nenhum erro, e as pessoas estavam a celebrar 10 anos do partido que tinham criado, orientado pela ideologia marxista-leninista, “que os reaccionários não queriam”!! Havia muito orgulho nisso!!

Mas então, quando é que surge o volte-face e se pretende agora juntar os 15 anos, que foram de uma FRENTE diversa, de várias correntes ideológicas, de vários actores Nacionalistas, em que grande maioria jamais se identificaria com o marxismo-leninismo?

Pelas contas feitas, isso terá ocorrido com o advento da paz, consequente entrada do multipartidarismo e consigo, novos actores políticos! Pelo facto de, até então, e sob liderança deste partido, não ter havido qualquer conquista nacional capaz de “ser vendida de bagatela” ao Povo Moçambicano (agora transformado em “eleitorado”), houve necessidade urgente de se fazer um “recuo estratégico” e não houve meias-medidas em se avançar para a “usurpação de feitos históricos” que não foram alcançados por um partido de ideologia marxista-leninista, mas por uma nata diversa de Nacionalistas!!

Não há referência, nos últimos 20 anos, de algum dirigente deste partido ter vindo a terreiro com afirmações do tipo: Quando a FRELIMO se constituiu, o seu objectivo era derrubar o colonialismo português. Na Frente tinham lugar todos os anti-colonialistas, todos aqueles que desejavam o fim da dominação estrangeira sobre a nossa Pátria., proferidas por Samora Machel aquando da constituição do partido em 1977, porque “de repente, só marxistas-leninistas é que passaram a conquistar a independência nacional”.

Pelo facto destes (marxistas-leninistas) terem constituído "uma parte que integrou o Movimento Nacionalista", esta pretensão não passa de “uma deturpação grave da história contemporânea de Moçambique”!!

Só que, querer celebrar agora 50 anos do “partido marxista-leninista” traz mais problemas que benefícios, para além de aumentar a “pilha de incongruências” sobre o que se aventa ser o percurso histórico deste partido, porque senão vejamos:

1) Usurpar todo o protagonismo das conquistas que conduziram à independência nacional, que no momento em que “não era preocupação” foi reconhecido que envolveu todos os outros actores, obriga a exaltar a memória e homenagear todos os Nacionalistas, principalmente estes que foram catalogados de “reaccionários”, porque foram parte fundamental e directamente envolvida nas acções vitoriosas da luta de libertação nacional. Não fazer isso, retira toda a legitimidade ao protagonismo que se pretende colher dos eventos ocorridos desde a formação da FRENTE até a proclamação da independência nacional. Porém, este cenário não se colocaria, se hoje se estivessem a celebrar os 35 anos da formação deste partido! Poderiam excluir aqueles que fisicamente eliminaram e não haveria incongruência alguma em afirmar que “os marxistas-leninistas do partido formaram uma ala que contribuiu nos esforços colectivos que conduziram à independência nacional”!

2) Celebrar hoje 50 anos, significa dizer que, junto aos outros Nacionalistas perecidos e dissidentes, “Eduardo Mondlane era um marxista-leninista”! Ora, cabe na cabeça de alguém que um individuo estudado, “trabalhado”, casado com uma Americana (num momento em que os negros naquele país lutavam por direitos básicos como votar, usar as mesmas casas-de-banho ou sentar-se nos mesmos bancos de autocarros que a maioria populacional), que pela sua rede de contactos na hierarquia daquele país conseguia granjear apoios de prestigiadas instituições como a Fundação Ford, (apoios esses) que permitiam o financiamento das actividades do Instituto Moçambicano em Dar es Salam, seria ele (Mondlane) o presidente de um partido marxista-leninista?? Algum voluntarioso consegue explicar isso??

3) E, se tal como os que foram catalogados de “reaccionários”, Eduardo Mondlane não era “marxista-leninista” e dado o seu “background” não é possível visioná-lo a dirigir um partido como tal, conjugado com o facto que, a ala que acabou consolidando o poder a seguir à independência seguia uma “ideologia marxista-leninista”, que diferença objectiva é que existiria em dar-lhe o mesmo destino que deram aos que, entretanto, catalogaram de “reaccionários”?? “Just some food for thought……….”, mas estes pontos não se colocariam se estivéssemos a falar hoje de 35 anos, sabido que a FRENTE era um amálgama de Nacionalistas com os mais diversos ideais e ideologias políticas!!!!!!

Se olharmos hoje para a Frelimo (partido), não sei se “este” ou “esta”, encontra-se profundamente absorvido(a) e entalado(a) ao passado! Essa é a razão (provavelmente também causa e consequência) de, ao meio do percurso, ter-se decidido “ir para a jugular” e reclamar a independência nacional como sendo feito privado, unicamente sua, produto de conquistas marxistas-leninistas, o que não é o caso, obviamente! No entanto, deve se entender isso como “estratégia para a sua própria salvação”, porque mesmo até hoje, volvidos que são estes 37 anos de independência, não há muito por que se pegue, em termos de feitos e conquistas, sob liderança deste partido!!

Tivemos o “Ano Eduardo Mondlane”, seguiu-se o “Ano Samora Machel” e agora estamos no dito “Quinquagésimo Aniversário”!! É celebração e esbanjamento que não acabam, e, a este andar, podemos dizer com categoria que “o circo vai ainda no adro”, mas as preocupações dos Moçambicanos, essas perduram e são outras:

1) Temos um sistema de ensino que é “implodido à cada mosca que passa”, e notamos hoje qual é a precariedade em termos de qualidade dos nossos graduados, à todos os níveis! Causa-me profunda consternação abrir uma página nos media ou redes sociais e ver comentários de gente que se intitula universitária...........! Samora, com certeza que não se enervaria se algumas das suas estátuas (que nem somos nós a produzir) fossem poupadas, para contratar professores com grau de licenciatura para as nossas escolas públicas!!

2) Com os mais de 36 milhões de hectares de terra arável, intermináveis recursos hídricos, os nossos 37 anos de independência ainda não foram suficientes para sermos auto-suficientes em cereais e hortícolas. “Regadios, fertilizantes, meios mecanizados, infra-estruturas de conservação (silos), rede de comercialização, etc”, esses só existem nos “planos estratégicos de blá blá, que são sempre cumpridos em mais de 80% (no papel)”.

3) Reactivação do parque industrial, acompanhado por uma política sólida de geração de emprego, parece uma miragem! Nesta fase em que emergem muitos mega-projectos, pôr-se em prática um plano de acção nacional visando a capacitação humana, técnica e financeira de pequenas e médias empresas (sem olhar ao apelido dos seus proprietários), consertar nos contratos com as muti-nacionais a obrigatoriedade da sua subcontratação para fornecimentos e prestação de serviços, não parece caber na cabeça de alguém que se intitule de dirigente, neste país.

4) Volvidos estes 37 anos, continuamos a habitar as casas e prédios que o colono construiu, edifícios esses que, não vai tardar, começarão a ruir entre nós!! Uma política coerente de habitação, é pedir muito à esta liderança, tão ocupada que anda “em campanhas e celebrações”!!

5) A lista pode continuar e não há como levá-la à exaustão……….!!

Mas, a haver conquistas nestas áreas supramencionadas, jamais haveria motivos para hoje se estar a discutir se a idade deste partido é 35 ou 50 anos!!

“Governação e liderança, Precisam-se!!!


P.S – Bem hajam, patriotas como o historiador Egídio Vaz e o jurista João Baptista André Castande que, contra toda a corrente, se esforçam em repor a “verdade histórica”!!

4 comentários:

Reflectindo disse...

Bro, os artigos já estão sendo publicados também no DZ.

Abraco

Jonathan McCharty disse...

Brada Reflectindo,
Thanks indeed por passar a palavra! Tenho estado a ver se reactivo as analises no blog com mais frequencia, mas tempo ainda rareia.

Um abraco e boa semana!

P.S- Se tiveres os PDFs, manda-me por email.

Reflectindo disse...

Envio alguns para ti hoje.

Abraco

Jonathan McCharty disse...

Thanks pelos jornais.

Um abraco