24 julho 2008

Tomando um “copito” com o Ministro da Educação!


“Education is our only way out of darkness”
Forester Whitaker in The Great Debaters

Esta vai ser uma conversa animada (espero) com um dos ministros mais “smart” aqui da “pérola”. E a comida e a bebida tem que condizer com a ocasião!! Um (peixe) “pende” lá de Metangula bem grelhado e uma boa cerveja, não será má ideia! Mas não vamos beber Heineken, Excia! Será a “nossa” 2M à pressão, não só para valorizarmos o que é nosso, mas também, para darmos o exemplo de “austeridade” que tanto se tem propalado ultimamente!

Percebo e concordo plenamente que, uma das prioridades do seu mandato se centre no aumento do número de escolarizados e, consequente redução do indice de analfabetismo nesta “pérola”.

Moçambique apresenta taxas de analfabetismo superiores à média da região sub-sahariana. Segundo dados estatísticos recentemente publicados pelo Instituto Nacional de Estatística a taxa média de analfabetismo entre a população adulta do país situa-se à volta de 53.6%, sendo mais elevada nas zonas rurais (65.7%) do que urbanas (30.3%) e mais saliente nas mulheres (68%) do que nos homens (36.7%). O sistema formal de ensino não consegue absorver todas as crianças em idade escolar, deixando de fora cerca de 50% delas, o que constitui uma fonte permanente de crescimento da população analfabeta no país. Segundo a mesma fonte, o n° de Alunos Matriculados e Escolas por Nível de Ensino Público no ano de 2003, consta da tabela acima indicada.

É possivel ver com clareza que há aqui um problema crasso de (falta de) “progressão/continuidade” no ensino, o que em minha opinião se deve fundamentalmente à falta de unidades escolares (e professores) junto a população. Muito poucos pais tem recursos para transferir seus filhos da localidade ou vila, para a sede distrital ou para a capital provincial, onde sem sombra de dúvidas a maior parte das unidades escolares acima indicadas se encontra.

No entanto, fico perplexo quando vejo noticias como “esta”, em que o MINED dispõe de 72 milhões de USD para novas construções (6000 salas por ano), mas os progressos até aqui verificados são extremamente baixos por falta de “capacidade técnica”(??). O que significa exactamente esse conceito de "capacidade técnica"?? Atendendo que o Ministério dispõe do GEPE (Gabinete de Estudos e Projectos de Educação) inclusive representado nas três regiões e que, todas as provincias dispõem de Direcções de Obras Públicas e Habitação para zelar por tudo o que se refira a investimento público em Infraestruturas e, numa altura em que todo o empreiteiro que conheço nos vários cantos deste pais lamenta pela falta de trabalho (obras), estará Excia querendo ter seus próprios “pedreiros” para expandir a rede escolar?? Porque é que os concursos não são lançados por essas instituições (principalmente as DPOPH) que estão vocacionadas para o efeito ou invés de pretender criar novos organismos? Se o volume de trabalho é enorme, porquê não envolver empresas nacionais de consultoria para fiscalizarem as obras?

Ou trata-se de um “jogo de contenção” para legitimar a sua actual estratégia de que, os altos indices de analfabetismo derivam das baixas taxas de aprovação e que portanto, “tudo” mundo deve passar compulsivamente! Excia por acaso já se deu ao tempo de observar como e o quê os nossos estudantes do secundário (e não só) escrevem? Eu tenho visto as provas dos alunos da minha esposa e a situação Excia, é de bradar os Céus!! Lamentavelmente e, conforme ela me tem dito, as “ordens” da Direcção da escola nos “conselhos de nota” são bem explicitas: “Passar, passar, passar (no matter what) ! Não queremos problemas com a Direcção de Educação!!”
Será que são mesmo suas ordens Excia?? Ou conforme ouvimos em todas as esquinas que se trata de mais uma “imposição dos doadores”?? Excia quer mesmo carregar o fardo de “homem que destruiu o sistema de educação Moçambicano”?
Se nós não conseguirmos formar os nossos futuros quadros com qualidade e incuti-los (durante o processo) o principio de sacrificio e de superação, de que nos valerá referir daqui há alguns anos de que “não temos analfabetos”, se esses individuos não tiverem a capacidade, visão e análise necessárias para tirar este pais do marasmo em que se encontra?? Custa ver que essa não passa (e se for o caso) de mais uma “receita envenenada” (outros exemplos não faltam) para nos dar morte lenta e aniquilar por completo as esperanças desta nação??

Pretende Excia (ou tá pouco se lixando) que daqui há 100 anos continuemos a ter dirigentes que, em acordos que em nada beneficiem o pais, venham a público dizer que “estão a cumprir as imposições dos doadores” e, com a cara lavada, achar que estejam a fazer uma governação de excelência??

Pais algum que logrou atingir desenvolvimento, se deu ao luxo de andar a brincar aos “piqueniques” com o sector de educação! Este é um sector crucial e é imperativo que, antes da obsessão pelos números, se assegure que cada homem formado tenha a qualidade necessária e esteja preparado para os desafios que se lhe impõem! Essa é que é a missão da Educação!!

Excia, este “papo” criou-me cá uma azia, que não encontro estômago para a sobremesa!!

21 comentários:

AGRY disse...

Os adversários da solidariedade, do bem comum e da justiça social persistem em imaginar a eternização do carácter reprodutor das relações de produção burguesas
É necessário, como nos ensina Mészaros,” romper com a lógica neoliberal se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente”.

Jonathan McCharty disse...

Isso e' verdade Agry!!
Hoje, inclusive no mundo desenvolvido, pouco investimento tem sido dado a Educacao, porque as elites "descobriram" que uma nacao pouco educada e' mais facil de gerir!! Mas eles ja' estao desenvolvidos e se nos optarmos pelas mesmas vias "despachadas" no ensino, estaremos a limitar por completo as nossas hipoteses de ascensao!!

Ximbitane disse...

Este foi de longe o melhor tête à tête que tiveste com as "estruturas" do topo, Jonathan. Até quando seremos réfens dos numeros impostos?

Essa de que as direcçoes impoem que haja 65% de alunis aprovados é bem real. Ja constatei isso na pele, sobretudo no ensino secundario nocturno. Um gajo perde até a vocaçao para ser professor de tao chateado que fica.

Manipulam-se resultados do promeiro ao ultimo teste... tudo em nome do (in)sucesso escolar! Por este andar de carruagem, nao admira que tenhamos muitos analfabetos diplomados e façam-me o favor!!!

Jonathan McCharty disse...

Thanks Ximbi!

Este e' um assunto que tem sido tratado pela sociedade civil, de animo muito leve!! Pode estar aqui em jogo, o futuro desta nacao a medio, longo prazos!!

Ximbitane disse...

Bota prazo nisso! Depois dizem que a juventude nao pode tomar conta da nacao,caramba!

Elísio Macamo disse...

caro jonathan, estás de parabéns por esta reflexão que levanta duas questões bem sérias sobre a nossa política de educação, nomeadamente a expansão da rede escolar e a qualidade do que existe. acho, contudo, que páras justamente onde devias começar a analisar. será que o problema é mesmo, no caso das infra-estruturas, da procura de subterfúgios para não se fazer nada ou, no caso da qualidade, das ordens do ministro ou de doadores? pessoalmente, considero bastante infeliz a decisão de aprovação por 100 por cento como meta escolar, mas os problemas que a tua reflexão levanta vão bem mais longe. que tipo de controlo e influência temos nós, como encarregados de educação e funcionários da educação, sobre a política de educação e sua execução? este parece-me o problema fundamental a abordar. é um problema que, infelizmente, atravessa toda a nossa cultura política e administrativa. sem o reforço da influência do cidadão na forma como se fazem as coisas, vais prescindir de muita sobremesa...

Jonathan McCharty disse...

Caro Elisio!
Obrigado pela interpelacao!
Quanto ao fraco desempenho na execucao de infraestruturas, eu continuo sem perceber a justificacao levantada de "falta de capacidade tecnica"! Nao sei mesmo o que isso significa! Agora quanto as passagens obrigatorias, esta' claro que ha' ordens superiores envolvidas!! E o meu medo e' que isso, como tem sido muito especulado, seja mesmo imposicao dos doadores (so' o ministro pode dizer de que se trata!). Essa medida, pra mim, so' vai aniquilar as esperancas desta nacao. Continuamos a ter uma estrutura "top-down" de definicao de politicas e a plataforma de dialogo entre os varios estratos da sociedade e' praticamente inexiste. Tudo e' segredo do estado. E' preciso, e nisso concordo consigo, que a sociedade civil encontre e conquiste o seu espaco. A educacao que estamos aqui a discutir, e' uma das formas para fortalecer essa sociedade civil, mas tenho duvidas que individuos formados "a reboque" venham a alterar alguma coisa!!

Jonathan McCharty disse...

Ximbitane,
"Os jovens sao um perigo e podem vender o pais"! E uma forma de assegurar que isso nao aconteca (mas com um potencial enorme de produzir "tiro pela culatra") e' forma'-los rapido e sem consistencia!

Elísio Macamo disse...

caro jonathan, temos que fortalecer a sociedade civil. um bom passo nesse sentido seria, por exemplo, de ouvir de professores (como a tua mulher) de que maneira eles acham que os encarregados de educação poderiam ser envolvidos no controlo de qualidade e funcionamento das nossas escolas. pessoalmente, não acredito que haja envolvimento de doadores nessa decisão. quando muito, os doadores podem exigir maiores quantidades de ingresso que se reflectem depois na qualidade. também não creio, como pareces estar a sugerir, que haja uma intenção consciente de oferecer má qualidade de ensino para contornar o perigo que a juventude por ventura pode representar. o problema é muito mais sério do que isso e tem a ver com a forma como funciona a nossa política e, como dizes, essa estrutura "top-down". penso que a nossa análise deve incidir nisso se queremos mesmo perceber o que nos pode levar adiante.

Jonathan McCharty disse...

Caro Prof. Elisio!
Muita decisao e' tomada neste pais, mas nunca acabamos sabendo quais as suas motivacoes e que resultados se esperam obter. Alias, nunca ninguem avalia os seus potenciais efeitos. Vimos isso com as privatizacoes ha' 2 decadas e o tecido industrial continua "morto". Vimos isso com a exportacao da castanha em bruto (felizmente voltaram atras) e com muito medo (da minha parte), vemos o que se suspeita estar agora a acontecer com as politicas de "educacao"!

"..como pareces estar a sugerir, que haja uma intenção consciente de oferecer má qualidade de ensino para contornar o perigo que a juventude por ventura pode representar!"
Este, se calhar, e' um dos pontos que motivou esta minha postagem. Mas nao o abordo numa perspectiva de que haja uma "intenção deliberada" de formar mal a juventude por parte do nosso governo! Muito pelo contrario; a minha preocupacao e' que, sob outros pressupostos (como aumentar rapidamente o numero de formados; cumprir as recomendacoes, alias, imposicoes dos doadores, etc) se esteja a menosprezar ou se se esteja a ver (pode ate' ser por ignorancia ou "blind loyalty to our donor friends") o efeito devastador dessas politicas a medio e longo prazos. E estou a insistir nesta coisa dos doadores porque tenho notado que, o nosso governo fica praticamente "inerte" as imposicoes que esses individuos e instituicoes determinam....

Se nos queremos uma sociedade civil activa, para mim, e creio que muita gente concordara', a solucao reside na "Educacao", mas nao e' esta educacao que esta a ser ministrada!! Se mais de 50% da populacao e' analfabeta, nao se pode esperar muito dos pais e encarregados de educacao para influenciar as politicas de educacao. A esperanca reside nessas criancas que estao agora a ser formadas e e' fundamental que se crie nelas esse "Homem Novo" que esteja preparado para os desafios pos-independencia que a outra geracao conquistou e que continua a ser o seu grande trunfo. Os desafios actuais sao outros e esses nao se compadecem com mentes "molezas"!!

Um abraco!

Jorge Saiete disse...

Jonathan, parabens por esta postagem interessante.

Vi uma reportagem triste na TVM, na qual se apresentava meninos da sexta classe que não sabem ler nem escrever. Uma situação triste e que não deve ser procupação do MINED apenas, mas sim de todos nós. Aliás, me parece que é neste ponto onde reside a relavancia da questão do Professor Macamo, quando questiona "o papel dos encarregados de eduação e funcionários da educação, sobre a política de educação e sua execução".

Esta questão do prof. Macamo, me conduz a reflexão sobre o exercicio da cidadania e o aproveitamento dos espaços formais e informais para tal.

Acho que o nosso país abre muitos espaços a nivel formal para que os cidadãos possam intervir na concepção de políticas públicas para além de influeciar para que alterações a elas sejam introduzidas, no ambito da sua impelementação. Fora do campo formal, há muito espaço a nível informal.

quanto a mim, o maior problema reside no fraco exercício dos nossos direitos e deveres enquanto cidadãos. Muitas associções da sociedade civil agem como complementadores das acções do governo e poucas monitoram as políticas públicas de modo a alerta-lo dos desvios ou incongruencias. Se há alertas, estas não são feitas de uma forma consistente. é que para intervirmos a favor de alterações nas políticas públicas, temos que reunir uma série de evidencias que irão consubstanciar os nossos pontos de vista. mas o que acontece é que, surgem vozes avulsas aqui e acolá, cada uma a se referir a um e outro aspecto negativo das políticas e nenhuma delas traz evidencias bem estruturadas e irrefutaveis das suas alegações.

há problemas graves na educação, é um facto. organizemo-nos e reunamos todas evidencias e ataquemos o probelama e não nos preocupenos com os culpados. E por falar de culpados do nosso marasmo, lembro-me de um ditado popular que diz " o feiticeiro só entra em casas onde é chamado".
abraço

Elísio Macamo disse...

caro jonathan, caro jorge saiete, acho que a insistência no nosso papel como encarregados de educação, mas também como profissionais íntegros que não deixam coisas passar só porque são "orientações de cima" é importante. é mais fácil, naturalmente, dizer isto do que fazer. mas todo o desafio começa aí. o ministro, que é um político, está a fazer o que é seu papel. nós temos que reclamar os nossos direitos dentro daquilo que nos é permitido. e se não podemos fazer isso temos que reflectir sobre como identificar esses espaços de reclamação dos nossos direitos. e como bem diz o jorge saiete, este é o maior desafio que enfrentamos no país.

Jonathan McCharty disse...

Caro Saiete!
Obrigado pela contribuicao!
No entanto, continuo a achar que um povo sem instrucao, facilmente percebera' a dificuldade crescente de ter comida no prato, mas dificilmente entendera' as consequencias nefastas de uma ou outra politica publica!

"Acho que o nosso país abre muitos espaços a nivel formal para que os cidadãos possam intervir na concepção de políticas públicas para além de influeciar para que alterações a elas sejam introduzidas, no ambito da sua impelementação. Fora do campo formal, há muito espaço a nível informal."

Aqui, my friend, eu discordo completamente contigo. Nao existe ainda essa plataforma de dialogo, quando se trata de concepcao de politicas publicas. Tudo e' decidido la' em cima e despejado aqui pra baixo. Mesmo nos casos em que, por lei, sao necessarias "auscltacoes" previas (caso da alteracao da constituicao) verifica-se que tudo nao passa de um exercicio puramente cosmetico!

Jonathan McCharty disse...

Caro Elisio!
Nao estou de forma alguma a "isentar" a sociedade civil, os encarregados de educacao e os profissionais afectos ao sector de educacao, do seu papel influenciador neste processo. De facto, esta e' uma lacuna que se observa em todos os outros micro-cosmos da nossa nacao. Mas entao, o que fazemos, se a sociedade civil nao exerce os seus direitos e deveres?? Ficamos parados e deixamos as coisas andar, porque o "ministro esta' a fazer o seu papel politico" e se alguem e' "responsavel", esse so' pode ser a propria sociedade?
Acho que discussoes como esta que estamos a ter, sao uma forma de "inspirar" mais gente a pensar sobe o que esta' a acontecer com a nossa "educacao"!
Quanto ao papel dos "encarregados de educacao", eu acredito que muitos "veem com bons olhos" esta medida de aprovacoes automaticas, como o proprio ministro referiu anteriormente: "os pais nao mandam os seus filhos a escola para reprovarem"!! Vou fazer um "post" dedicado exclusivamente a este assunto, onde inclusive, e baseado na minha experiencia escolar, abordarei o que considero "o papel dos encarregados de educacao na corrupcao no ensino em Mocambique"! Vai haver "pano para muita manga"..., com certeza!

Um abraco

Jorge Saiete disse...

Caros, Jonathan e Prof. Macamo,
o debate vai longe mas isso não é problema pois não estamos a discutir sexo dos anjos.

indo ao que interessa, me parece que o primeiro aspecto que devia ser procupação de todos nós é a necessidade da politização do cidadão. Note que quando falo de politização não sugiro a filiação partidária mas a inculcação no cidadão de uma postura de indignação e de questionamento (debate de ideias) em relação as políticas pública, neste caso, às políticas da educação. Me parece que, enquanto continuarmos com uma sociedade dispolitizada e não engajada pouco podemos esperar das instituições democrática.

Chegados a este ponto, entro no que Jonathan discorda.

Olha, o primeiro aspecto que temos que ter assente é que ninguem gosta de ver terceiros a monitorar seu trabalho. E gestores públicos e políticos em especial são aversos a monitorias. Mas não deve ser a sua aversão e fobia que nos deve deixar acomodados.

Aliás, mesmo com a aversão a que me referi acima, os decisores moçambicanos abrem espaços a participação pública. Que até pode parecer cosmetica mas isso deve-se a falta do nosso (cidadãos)comprometimento em mudar a situação.

As chamadas IPCC`s (instituições de participação e consulta comunitárias), observátorios da pobreza "e hoje do desenvolvimente" são entidades onde a nosso envolvimento civico devia mesmo se efectivar mas não é o que sucede. Nós mesmo, nos deixamos manipular e ficamos a lamentar e nos esquecemos que os politicos estão a jogar o seu papel (e o jogam bem). A participação está ainda prevista no PARPA, estratégia da reforma do sector público, agenda 2025 etc.

Mais do que isso, a nossa constituição abre esse espaço de participação na governação (desde a formação da agenda pública, passando da implementação e avaliação das políticas). E nós não aproveitamos.

Há exemplos isolados de casos em que participamos e logramos sucessos, falo da campanha terra, questões da mulher e outros. Mas há muito que deviamos fazer.

Nada obsta que como cidadãos nos mobilizemos e depositemos uma petição no MINED a contestar os gafes da educação (a lei nos dá esse espaço). Nada obsta que marchemos, organizemos uma greve e por ai fora.

Em suma, eu acho que, o que nos falta é a tomada de consciencia politica e engajamento e o intendimento de que a confrontação com o governo não é um acto de rebeldia nem oposição mas sim um ingrediente vital para que Moçambique cresça.

Ximbitane disse...

Saiete, concordo consigo sobre a politizaçao das massas, no sentido que sugere.

Pessoalmente nao concordo com as formas, por exemplo de avaliar os nossos filhos no ensino primario.

Como pode por um pai que nunca roçou o banco de uma escola dizer que o seu filho pode ou nao transitar de classe? Onde fica o trabalho do professor?

Como se quer um mestre de obras se este nem sequer "engole" cimento nos bancos do escola/instituto industrial? Ou melhor, querem omoletes sem partir ovos?

Infelizmente para nos é mais comodo murmurar do que reclamar de viva voz e fazer petiçoes. E é por estas e outras que as coisas estao como estao!

Jonathan McCharty disse...

Caros Saiete e Ximbitane,
Obrigado pelas vossas contribuicoes. O que dizem e' verdade.
Temos que exercer a nossa cidadania! Mas nao nos iludamos, por enquanto: o Estado continua a ser o maior empregador; Falar "contra a corrente" continua a ter conotacoes do tipo "nao esta' connosco" e vemos essa falta de coragem e atitude de "falar a sua mente" inclusive no partidao! A cultura de dialogo precisa de ser melhorada, isso e' um facto irrefutavel, e cada um deve fazer a sua parte! Para mim, uma "Educacao" abrangente e de qualidade, continua a ser a via mais confiavel e segura, para que uma sociedade esteja alerta e perceba o que anda a sua volta!!
Quando o Saiete refere que "Os politicos estao a desempenhar o seu papel, e bem" estara' sugerindo que eles estao a aproveitar-se da fragilidade da sociedade civil, para fazer das suas??

Reflectindo disse...

Estou numa correria, mas li todos os comentários. voltarei ao assunto ainda hoje ou amanhã, mas deixo dois pontos de reflexão.

1. Alguém se lembra da Reflexão 1979/80. Se alguém vasculhar nas parteleiras do MEC é capaz de encontrar esse documento.~

2. Alguém se lembrou que os governantes, os políticos, as elites na sua maioria não mandam seus filhos para escolas públicas mas para privadas, geralmente portuguesa, inglesa, ?

Jonathan McCharty disse...

Caro Reflectindo,
Acredito que a maior parte de nos, somos produto de escolas publicas e, apesar das mazelas que tem acontecido ultimamente, "elas" sempre foram um simbolo de excelencia e trabalho arduo! Por isso, precisamos resgatar esse seu passado brilhante! E' la' onde se forma a nacao e dizes bem, os filhos dos ricos, estudam na "privada"!
Hoje, inclusive nos paises desenvolvidos, pouco investimento em educacao "publica" tem sido feito, de modo a dar "free space to ride" as instituicoes privadas, detidas e administradas por esses ricos com inumeros tentaculos nos meandros politicos!
At the end of the day, this is all about "business"!

Reflectindo disse...

Caro Jonathan,

Notei que o primeiro ponto que colocaste neste artigo não se observou ou ninguém o viu como eu. Julgo-o pertinente aos pontos que levantas no café com o Ministro de Educação, Aires Aly, a quem de também considero “smart” partindo da minha própria convivência com ele como meu director provincial. Concordo contigo que o ministro mete-se num problema que não é seu, o de obras, e que se ele o dispensasse, contribuiria para combater corrupção no seu ministério.

Portanto, a questão de construção de salas de aulas, ele devia deixá-la para Felício Zacarias. Isto ajudaria para o melhor controle do uso dos 72 milhões de dólares, pois a prestação de contas seria cerrada. Os três actores (o MEC, MOPH e empreiteiro) se pediriam contas mutuamente.

Mas conheço um câncro no MEC que é de não aproveitar o pessoal que ele mesmo forma. Muito do pessoal que trabalha com a economia ou administração nas direcções provinciais, distritais e escolas e centros internatos, não tem nenhuma formação nessa área. Muitos deles são professores doentes ou cansados de dar aulas ou mesmo com compromissos pessoais com grandes chefes. Um dos impactos tem sido o atraso de vencimentos para professores e outros problemas. Isto também tem impacto na qualidade de ensino. E veja-se como logo que vai para esse posto saindo da turma já compram carros embora mantenham o mesmo salário. Isto parece um outro assunto, mas eu gostaria de facto de dar ingrediente à vossa sobremesa, ainda que sem me vangloriar, sou filho da casa, no MEC.

Entrando na problemática da qualidade de educação, eu quis lembrar da directiva “reflexão 1979 ou 1980” no teu copito com o Ministro que bem a conhece. Esse documento diziam eles que houve muita reprovação no ano lectivo de 1979. A problemática do decreto foi de ameaçar muito o professor e impôr o número percentual admíssivel de reprovações sem nunca ter havido análise das causas de reprovações. Tenho dificuldades de achar que naquele tempo havia alguma intenção de os professores reprovarem aos seus alunos. Embora nada se tenha posto em prática, pelo que sei, havia diferentes níveis de punição aos professores, que partia de não ter direito a férias à expulsão. Pessoalmente ouvi a discussão de colegas professores que o importante é de como examinador (ensino primário) pensar no seu colega. A partir desta altura o professor aprendeu a manipular os resultado pedagógicos para evitar guerra com o ministério de educação.

Depois foi o período pós-primeira greve geral dos professores. Porque não houve resposta satisfatória senão ameaça por parte do governo, a maior parte dos professores decidiu inscrever-se no ministério sem compremeter-se a trabalhar com algum brio. Muitos dos melhores professores acabaram abandonando a educação para outras empresas. No pior de tudo, os professores viraram-se contra os encarregados de educação que passaram a comprar as passagens dos seus filhos ou se os queriam melhor, pagavam os seus professores como explicadores.

Ainda falando sobre a qualidade de educação há ponto a observar. A partir de 1983 eliminou a pré-primária. Penso que podemos admitir isso como uma falha num país com a maioria de crianças nas zonas sem creches. Aliás, mesmo a maioria das crianças das zonas urbanas não tem acesso a creche porque não é nada coisa gratuita. Sobre este assunto proponho-te convidar Fátima Ribeiro ao copito. Ela tem algum ponto de vista que considero importante para começarmos trabalhar pela qualidade desde cedo.

Um outro aspecto importante, penso eu, seria de definir-se claramente as metas e os objectivos do nosso ensino. Por exemplo, se queremos combater o analfabetismo, os esforços devem incidir essencialmente no ensino primário ainda que este é a base. Temos dados históricos que nos ajudam perceber que se tivessemos 90 % da população acima de 15 anos que tivesse um nível de conhecimento como os que apenas haviam concluido a quarta-classe até uma época aí, podiamo-nos orgulhar. Muitos dos académicos hoje foram ensinados a ler e escrever por professores com apenas terceira ou quarta-classe. Mas a terceira ou quarta-classe deles não era esta. Não estou com nostologia daquele sistema de ensino. Apenas tenho admiração de por exemplo um professor que com apenas quarta-classe pude substituir o meu professor da terceira que fora chamado para o serviço militar.

Um outro exemplo, é de os alunos que terminavam a sexta-classe até nos primeiros alunos da independência terem sido capazes de colmatar falta de professores, enfermeiros, polícias, oficiais no exército, etc. Acho que até podemos nos orgulhar pelo facto de ter-se enviado jovens com sexta a nona-classe para cursos de pilotagem e tecnologia e eles terem concluido com sucesso. Mas estes jovens tinham as bases sólidas.

Acho que uma ambição de termos a maior parte dos jovens com uma décima-classe bem feita e bem mesmo e com educação vocacional com a qual eles se sentissem capazes de trabalhar, não era nada mau. Então, alguma coisa como disciplina de tecnologia tinha que se introduzir para o nível da oitava à nona classe. Isto é contrário daquilo que se propala como sendo expansão de ensino superior. Precisamos de um ensino técnico profissional, escolas de artes e ofícios. Precisamos de qualidade e não apenas quantidade. Passagem automática vai nos penalizar ainda mais.

P.S: 1. Eu quis lembrar o facto de os políticos, governantes e outras elites mandarem os seus filhos para as escolas privadas, para ver até que ponto eles são conscientes dos problemas no ensino público. Por outro lado, como é que eles podem nos convencer que o que fazem não é intencional? Eles criam um sistema em que seus filhos não fazem parte.

2. Tenho ainda muito, mas isto que escrevi nem todos conseguirão ler.

Jonathan McCharty disse...

Caro Reflectindo,
Obrigado pela longa explanacao, propria mesmo de um "filho da casa" (MEC),hehe!
Concordo plenamente com a questao da corrupcao na construcao da sala de aulas derivada do facto do MEC nao querer tirar a "colher da panela". Vou abordar isso num post (ainda em preparacao) referente acorrupcao na construcao em Mocambique!

E' verdade que a falta de autoridade e fiscalizacao nas escolas e em todos outros sectores da sociedade, tem conduzido esta nacao a um total "estado de anarquia"! Um punicao exemplar, poderia restituir alguma ordem no sector. Quase que em todas as escolas, os professores sao como que "intocaveis", o mesmo acontecendo com "serventes/enfermeiros" nos hospitais, etc.

O governo tem falado imenso do ensino tecnico-profissional, mas sempre que vejo o Zeferino Martins na TV ou jornal, o homem so' apresenta desculpas, pelo que ainda nem sequer comecou a fazer! Este e' um ramo de ensino/formacao de capital importancia para o desenvolvimento desta nacao. A Alemanha do pos-guerra nao se refez com doutores ou mestrados, mas com estes tecnicos formados para "fazer", mas fazer bem e de forma criativa e autonoma. Este sector do ensino formal, traduz bem aquele ditado chines de "oferecer a cana de pesca e nao o peixe"!

Falas bem da primeira geracao do pos-independencia que, apesar das inumeras limitacoes e baixa formacao profissional, levou este pais avante. Acho que a grande diferenca reside na "ordem", respeito pelas normas e leis vigentes, com punicoes exemplares para os detratores. Lembro-me que, quando estava a terminar a 12a classe, alguns dos meus professores da escola primaria (1o e 2o graus) estavam a fazer a 10a classe no curso nocturno. Mas estes foram professores extraordinarios!

Obrigado pela explicacao acerca da "Reflexao 1979", da qual nada sabia.

Um abraco e uma optima semana!