16 julho 2008

Tomando um “copito” com o Ministro da Agricultura!

Sou daqueles que acha que num país com políticas multi-sectoriais de desenvolvimento “claras” e planos estratégicos bem delineados, qualquer um, independentemente da sua área de formação, mas que reuna atributos de competência, liderança e gestão, pode dirigir seja qual for o Ministério. Quando esses pressupostos não são observados e num universo de meia centena de ministros e seus vices apenas verificamos entre nós, meia duzia a exercer funções nas suas respectivas áreas de formação, três cenários infalivelmente acabam ocorrendo:
- O ministro fica “refém” dos seus assessores (costuma haver uma batalha aguerrida para se ser o “mais querido”) e estes é que definem a agenda;
- O ministro não quer dar o braço a torcer e não deixa o leme em mãos alheias. Os seus súbditos deixam-no “queimar-se”, e são falcatruas atrás de falcatruas……
- O ministro não faz e não deixa fazer, para não se “queimar” e manter a pele intacta!
Seja qual for o cenário Excia, sugiro que nesta refeição tenhamos álcool forte! Não venha uma (eventual) mágoa querer flutuar….é para se afogarem de verdade! Como Excia já esteve em Manica, proponho uma “cabeça do velho”. Porque “revolução verde” tem sido a palavra de ordem, deveriamos ter tudo verde nesta mesa, incluindo toalhas e guardanapos (e já agora, o garçom também)! Mas como isso não se afigura nada fácil, sugiro uma mathapa com caranguejo e uma xima!

Passam já 33 anos de independência e 16 em plena paz, mas ainda não conseguimos ser auto-suficientes em tomate ou limão. Isso é preocupante, Excia! Ouvimos gritos de alegria e as maiores exaltações porque temos um projecto “piloto” a cultivar batata-reno na Moamba, ou um projecto “piloto” a iniciar o cultivo de trigo em Manica e Tete, ou porque foi assinado um acordo com a Universidade de Delft para a criação de um projecto “piloto” de tecnologias de aproveitamento de água na “aldeia do milénio” em Chibuto! Até quando vamos viver de projectos-piloto, Excia? Até quando, estas acções isoladas e que nunca tem progresso?
Pessoalmente, fico feliz quando ouço falar de iniciativas destas, mas pergunto-me: qual a sua consequência? Qual é o plano sectorial, qual a estratégia de acção para reconduzir Moçambique aos altos patamares de produção (mundial) outrora alcançados? Cadê o plano mobilizador para elevar o mais alto espirito de sacrificio e entrega abnegada deste povo ao trabalho? Basta pedirmos as populações para elevarem a sua “auto-estima”, aumentarem a “produção” e a “produtividade”? Alguma das nossas mamanas lá em Nametil ou Massangena, percebe esse vernáculo?
Se olharmos para as nações que lograram atingir altos niveis de progresso agricola, os seus governos tiveram e continuam a ter um papel preponderante em todo o processo! Duas áreas fundamentais da sua acção se referem a “formação” (agrónomos e técnicos agrários a apoiar os agricultores no terreno) e “investimento” em infraestruturas (regadios, fontes de captação e retenção de água como barragens ou mesmo represas de terra, como referi anteriormente aqui) e sementes melhoradas.
O Ministério da Agricultura tem que sair da capital e ter o seu polo de acção instalado lá no campo, junto ao agricultor que continua a queimar o capim “como os meus antepassados sempre fizeram”, degradando o solo. As viaturas 4x4 que continuam a ser anualmente alienadas aos srs. Directores nacionais e que pela sua quantidade per capita, andam parqueadas, devem ser enviadas lá para o distrito para servir aos extensionistas.
Fala-se sempre em muitos milhões de dólares necessários para a aquisição de equipamento agricola, mas são essas acções “simples” e com tecnologia acessivel que vão gradualmente conferindo know-how e competência aos agricultores que, melhorando a sua produção, produtividade e consequentes rendimentos, os capacitarão a ir adquirindo maquinaria que, logo a partida, se afigura extremamente onerosa. Pensamos erradamente, que o farmeiro lá na África do Sul inicia a sua actividade com a aquisição de um tractor multi-funções, o que de longe corresponde a verdade!
O sector agricola não se vai desenvolver por si só, como os “doadores” e proponentes do “free-market” gostam de apregoar e nos impor! Não foi assim como o sector evoluiu nos seus paises. Esqueça isso Excia! Blá blá nos comicios as populações e o agora na moda, “lobby” dos biocombustiveis no Conselho de Ministros (“Procana” em Massingir; “Mozambique Principle Energy” em Sussundenga, etc) também nada irá alterar a situação alimentar do pais e continuaremos a depender aqui do vizinho. Com a crise alimentar actual com sinais cada vez mais alarmantes e se de repente, os nossos “compadres” aqui do lado (que não se custam nada irritar) “inventarem” uma guerra “horticulofóbica” em que camiões com tomate e repolho comecem a ser impedidos de atravessar a fronteira porque os de cá “não sabem produzir”, o que faremos, Excia??
So para comprovar até onde vai a nossa (in)dependência, peça Excia, já que eles têm fruta da época, a nossa sobremesa. Seja o que for, laranja, maçã, banana, pêra, etc, verá que tudo será infalivelmente aqui do “vizinho”!
E eu que cresci comendo aqueles pêssegos deliciosos de Angónia………… Não há ainda um projecto-“piloto” para reactivar a sua produção, Excia??

E falando em “revolução verde”, será que nos corredores do nosso MINAG ouve-se por acaso falar da pessoa de Norman Borlaug, ou não passará ele de um E.T?

2 comentários:

Ximbitane disse...

Hihihi, so para começar! Entre os copitos nao foi servida nenhuma entrada com o codnome "revoluçao verde"? Essa que vemos todos os dias, como diz o Aza?

A esse proposito, o Aza tem que rever essa letra! Cinco folhas de abobora vendidas a 10mt? 1 coco a 10 mt? 1 "canica" de amendoim, 10 min? 1kg de farinha de milho 18mt?

Epa, parece que vamos ter que comer os tais biocombustiveis...

Jonathan McCharty disse...

Realmente tudo anda a precos surpreendentes! Fiquei espantado ha pouco quando o preco d 1kg de tomate estava a 25Mt.
O pior e' que nao se ve por parte do nosso MINAG uma estrategia nacional para atacar o problema!