07 outubro 2011

Eleições Intercalares de 7 de Dezembro de 2011: Overwhelming Chances for Democratic Breakthrough!!!


Muitas das vezes recorremos ao imediatismo para encontrar respostas ou interpretar fenómenos correntes, mas o que acontece é que estes, de grosso modo, raras vezes se encontram dissociados do percurso histórico de um povo!!

E, um dos elementos que pretendo trazer hoje para a análise destas eleições intercalares que se avizinham é “O Homem Novo”!!! O que era (ou é) o “Homem Novo”, segundo os “teoricistas e practicionistas” da Nação Moçambicana emergida da Independência Nacional??

“Homem Novo” era uma espécie amorfa, artificialmente deslocada da sua progressão histórica, um alienígena à sua própria cultura, sem língua materna, sem tribo, sem crítica ou auto-crítica, em suma, uma cobaia pronta para ser enxertada com os mais desvairados ideiais!! Contanto que estes “princípios” fossem válidos para todos, exceptuando a elite dominante, que podia emprestar os seus “valores” à maioria, pelo menos é nisto que se pretendia que todo o Moçambicano se transformasse……….!!!

Acreditou-se piamente que meras “Ordens de Acção” do Bureau Político tinham força suficiente para destruir tudo o que éramos, eliminar completamente qualquer vestígio destas “instituições milenares” que fazem parte da ossatura dos povos que habitam esta Nação!!

Se havia dúvidas da natureza utópica destas teorias importadas do gelo da Sibéria, a realidade no terreno tratou imediatamente de dissipar qualquer equívoco!!

Mas, porque é que se pretendia criar um “Homem Novo”??
1) Havia consciência das diferenças etno-culturais no mosaico nacional
2) Assegurar o comando centralizado de toda uma Nação
3) Impedir a emergência de pensamento e valores locais próprios, porque isso seria um atentado ao “Projecto de Nação”!!
4) Eliminar qualquer consciência critica, o que converteria qualquer Mocambicano num autêntico “autómato do comando”!!

A lista poderia continuar até ao infinito, mas o que sobressai destas alíneas é que se pretendia que o “Homem Novo” fosse uma espécie sem interesses próprios, um instrumento maleável em beneficio da elite dominante!!

Esta era a realidade política de Moçambique nos finais da década de 70 e início dos anos 80.

Com a assinatura dos Acordos Gerais de Paz (AGP) e início da democratização do país em 1992, o que se pretendeu “matar” com a criação do “homem novo”, ressurgiu na sua máxima força. E, uma manifestação vigorosa desse “movimento de reafirmação local” foi a criação de “Associações de Desenvolvimento Provinciais”!! Estas Organizações foram sendo criadas por intelectuais e massa crítica locais, como plataforma para a solução de problemas locais e progresso das suas provinciais e regiões!!

De facto, as diferenças e diversidades são, no seu todo, benéficas para a competição e progresso de qualquer Nação!! Se olharmos para os países que tomamos como referência no “desenvolvimento”, não existe qualquer homogeneidade etno-cultural entre as suas regiões!! São povos diversos que se unem num ideal de Nação, mas é preciso notar que, enquanto Nação una e indivisível, as pessoas nunca deixarão de ser elas próprias!! Aliás, constitucionalmente proíbe-se “casamentos consanguíneos” porque só a diferença é que impede “curto-circuitos genéticos” e torna as espécies mais fortes!! E, este princípio é também válido e fundamental para as Nações!!

Mas, numa manifestação recorrente do “Sindroma do Homem Novo”, o regime do dia não exitou em cooptar as lideranças dessas “Agremiações Locais”!! Ou seja, procurar manter toda uma Nação hibernada, sem ideias próprias, sem actores locais a galvanizar o desenvolvimento, mas como um “rebanho de ovelhas acéfalas” usadas ao bel-prazer do “comando central”. Se estas “lideranças cooptadas” serviram a algum dos interesses que lhes norteou na formação das “Associações de Desenvolvimento” ora citadas, isso deverá ser avaliado em termos de “que influência exerceram” nas posições governamentais que ocuparam, “que benefícios”, “que resultados concretos” trouxeram para o desenvolvimento das suas províncias!! Esse é um exercício que deixamos para a autoavaliação dos visados, mas penso que há evidência suficiente que eles não passaram de “objectos políticos descartáveis” e não fosse a sua tremenda “competência profissional”, muitos estariam hoje completamente abandonados e arrependidos de ter comigo “o pão que o outro amassou”!!

No entanto, é preciso salientar que houve avanços em algumas frentes, no que concerne a esta “problemática do homem novo”!!! Falo aqui concretamente das “Autoridades Tradicionais”!! Estas “instituições milenares”, emergidas com naturalidade das capacidades de liderança de certos indivíduos no contexto das suas comunidades e, subsequentemente passadas hereditariamente, foram tomadas como um perigo ao “Estado Novo” porque os colonialistas, acertadamente, se aproveitaram delas para administrar os territórios ocupados!! Hoje, o regime do dia se redimiu, não necessariamente como um reconhecimento à afirmação política das comunidades, mas usando do mesmo guião do colonialista, para penetrar e aumentar a sua zona de influência!! Porque aos olhos dos nossos ideólogos, a “afirmação local” nunca passou de um atentado à Nação!! Efeitos primários do “Sindroma do Homem Novo”………………!!!!

É daí que, volvidas já duas décadas, surgem estas eleições intercalares que se avizinham……..!!

Ninguém as pediu, diga-se em abono da verdade!! Tem se falado de “manobras políticas inconfessáveis”, mas eu despendi algum tempo a avaliar estes eventos e ver se, por ventura, existiria alguma correlação com a recentemente anunciada intenção de aumentar o número de distritos no país!! Pelos relatos que foram surgindo na imprensa muito antes destes episódios, dá para aferir a “verticalidade” destes Autarcas ora “renunciados” (feitos renunciar), tanto com os seus convivas provinciais, como com os centrais, nunca aceitando agir como marionetas do seu partido, como a maioria dos “yes-men” que pululam por essa organização!!

Mas, pelos últimos desenvolvimentos, parece haver evidência suficiente que os “proponentes das eleições intercalares” não tinham um plano firmado e terão agido irrepreensivelmente como pessoas em que “o poder lhes subiu à cabeça” e achavam que tudo podem e mandam!! A recente dificuldade em encontrar candidatos, os constantes adiamentos com anúncios para trás/pra frente e o processo renhido em apurá-los, pode ser sintomático de que tenham sido “apanhados em contra-pé!!

Porque o futuro e a consolidação democrática desta Nação jaze na “afirmação política, económica e social” das várias regiões que a encorpam, com actores locais directamente empenhados em encontrar soluções para os seus problemas, estas eleições intercalares desempenham um papel crucial nesse processo!!

Os resultados das eleições autárquicas passadas na Beira marcaram o início dessa caminhada e agora é dada “de bandeja” esta oportunidade soberana a mais municípios se afirmarem politicamente, escolhendo candidatos que amam a sua terra, verdadeiros campeões, com know-how, visões modernas, que estão dispostos a lutar pelo progresso das suas províncias e, essencialmente, sem “amarras físicas ou mentais” que lhes obrigue a “renunciar” compulsivamente dos seus mandatos, mais dia, menos dia!!

Tanto que hoje, as lideranças africanas (em que Moçambique se encontra inserido) se revêem ou até superam (nalguns casos) as atrocidades da administração colonialista, continua actual o pensamento de Amílcar Cabral:

«O primeiro objectivo, no fundo, da nossa resistência e da nossa luta é libertar a nossa terra economicamente, embora antes tenhamos que passar pela libertação política » (Cabral 1979 : 34).

«A nossa luta armada é uma forma de luta política, que procura libertar a nossa terra da exploração económica colonial e imperialista. Este é que é o nosso objectivo fundamental. Libertar as forças produtivas da nossa terra, da opressão, da dominação colonial imperialista » (Cabral 1979 :124)

Por isso, chegou o momento de, definitivamente, infligir um “golpe de morte” a esse “Homem Novo” que nunca devia ter existido e lançar um forte sinal aos “portadores do sindroma do homem novo” que os tempos são outros!! “Chega de atrasar com o desenvolvimento deste pais”!!!

Isso não será alcançado apenas por mobilizar as pessoas a ir votar massivamente pelo futuro da sua cidade, mas participando activamente na fiscalização das mesas de voto, controlo efectivo e contabilização das actas das assembleias de voto, e combate a toda a actividade suspeita, porque é ai onde se "fabricam vitorias esmagadoras”!!!

“Quelimane, Cuamba e Pemba: o futuro está nas vossas mãos!!”

3 comentários:

Reflectindo disse...

Muito realístico. Os cooptados deviam vir ao público para dizerem o que as suas regiões ganharam ou ganham
O que a nacão inteira ganha?

Jonathan McCharty disse...

Thanks brada! Penso que chegou o momento de resistir a estes aparentes ganhos imediatos e as pessoas comecarem a lutar pela sua afirmacao definitiva!! E' preciso que actores locais comecem a cuidar dos interesses das suas cidades/provincias!! Esse e' que e' o caminho do presente e futuro da nossa democracia!!

Um abraco

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